Ontem, logo após a entrevista da Presidenta Dilma Rousseff, postei aqui minha sugestão que o tão desejado corte nas despesas públicas comece pela mídia.
Hoje, tenho a ótima companhia de Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo que aprofunda e quantifica o que chama de “Bolsa Imprensa” que os governos brasileiros sempre concederam ao baronato de uma mídia decadente – em qualidade e controle da comunicação – neste país.
Ninguém está sugerindo que se pare de veicular publicidade nos veículos privados, ou que para isso eles apoiem o governo.
Mas há medidas de austeridade a tomar.
É muito “bonito” criticar o gasto de R$ 1 bilhão em obras públicas e receber R$ 1 bilhão (só no 1° turno, R$ 839 milhões), sem esforço algum, pela veiculação do horário eleitoral em suas concessões públicas de rádio e televisão, sem que para isso gaste um ceitil ou deixe de faturar outros.
Não me consta que suas tabelas de preço baseadas em grade de programação tivessem sido canceladas. Ou alguém viu a novela sem comerciais, já que o seu horário normal foi pago pelos cofres públicos?
Gastar menos e gastar melhor.
Porque não faz sentido que a televisão – leia-se: a Globo – tenha a mesma parcela nas verbas se não tem, faz muito tempo, a mesma participação na comunicação.
Idem o da escolha de perfis de público, que é parte de uma “mídia técnica” e não um fator estranho a ela.
Ou será que um anúncio da Petrobras, publicado num blog de política e economia, será menos eficiente do que um anúncio na Contigo?
Dinheiro de publicidade é gasto público, tanto quanto qualquer outro. Deve seguir o princípio da economicidade, da eficiência.
Fazer o que se pretende – informar ou promover empresas públicas, comportamentos e atitudes – com o menor gasto possível.
A mídia não quer que o governo mexa no ‘Bolsa Imprensa’
Paulo Nogueira
“O PT busca golpear as receitas publicitárias dos veículos de informação – o que poderia redundar, no futuro, no controle de conteúdo pelo governo.”
Está na Veja, e raras vezes ficou tão clara a dependência financeira e mental que as grandes corporações jornalísticas têm do dinheiro público expresso em publicidade federal.
Havia, naquela frase, uma alusão à decisão do governo de deixar de veicular propaganda estatal na Veja, em consequência da capa criminosa que a revista publicou às vésperas das eleições.
Era o mínimo que se poderia fazer diante da tentativa de golpe branco da Abril contra a democracia.
Mas a revista fala em “golpear as receitas publicitárias” da mídia corporativa.
A primeira pergunta é: as empresas consideram direito adquirido o ‘Bolsa Imprensa’, o torrencial dinheiro público que há muitos anos as enriquece – e a seus donos – na forma de anúncios governamentais?
Outras perguntas decorrem desta primeira.
Que capitalismo é este defendido pelas empresas jornalísticas em que existe tamanha dependência do Estado e do dinheiro público?
Elas não se batem pelo Estado mínimo? Ou querem, como sempre tiveram, um Estado-babá?
Os manuais básicos de administração ensinam que você nunca deve depender de uma única coisa para a sobrevivência de seu negócio.
E no entanto as grandes empresas de comunicação simplesmente quebrariam, ou virariam uma fração do que são, se o governo federal deixasse de anunciar nelas.
Tamanha dependência explica o pânico que as assalta a cada eleição presidencial, e também ajuda a entender as manobras que fazem para eleger um candidato amigo.
Essa festa com o dinheiro público tem que acabar, e famílias como os Marinhos e os Civitas têm que enfrentar um choque de capitalismo: aprender a andar sem as muletas do dinheiro público.
Ou, caso não tenham competência para sobreviver num universo sem favorecimentos, que quebrem. O mercado as substituirá por empresas mais competitivas.
Não são apenas anúncios: são financiamentos a juros maternais em bancos públicos, são compras de lotes de assinaturas de jornais e revistas, são aquisições enormes de livros da Abril, da Globo etc.
Numa entrevista a quatro jornais, ontem, Dilma disse que o novo governo vai olhar com “lupa” as despesas, para equilibrar as contas e manter sob controle a inflação.
Não é necessária uma lupa para examinar as despesas com publicidade.
Entre 2003 e 2012, elas quase dobraram, segundo dados do Secom. De cerca de 1 bilhão de reais, foram para as imediações de 2 bilhões ao ano.
Apenas a Globo – com audiência em franca queda por causa da internet – recebeu 600 milhões de reais em 2012.
Um orçamento base zero, como os livros de gestão recomendam, evitaria a inércia dos aumentos anuais do governo com esse tipo de despesa.
Murdoch, em seu império mundial de mídia, tem dependência zero de publicidade de governos.
Banco estatal nenhum financia seus empreendimentos, e por isso ele quase quebrou na década de 1990 quando não conseguiu honrar os empréstimos para ingressar na área de tevê por satélite.
Foi obrigado a se juntar a um rival em tevê por satélite. Só agora Murdoch teve os meios para tentar comprar a outra parte, mas o governo inglês negou por conta do escândalo do News of the World.
Ele se bate pelo capitalismo, e pratica o capitalismo.
As empresas jornalísticas brasileiras pregam o capitalismo, mas gostam mesmo é de cartório.
E julgam, pelo que escreveu a Veja, que até o final dos tempos estão aptas a receber o Bolsa Imprensa.
View Comments (19)
Em tempos de Internet, o que dizer da obrigação das S/As terem que publicar seus Balanços Patrimoniais em jornais? Já pensou o quanto ganhariam as empresas se esta obrigação legal deixasse de existir? Fala-se tanto em produtividade, sempre às custas do trabalhador. Seria uma imensa redução de gastos para as empresas. E precisa apenas de alteração de lei ordinária! Poderíamos escrever sobre isso.
Na Inglaterra com os canais da BBC e na França com os canais da TF, empresas estatais mantidas pelos respectivos governos e sem problemas de caixa (poderia suspender o dinheiro dado à mídia atual que sobraria para sustentar bons canais de televisão, rádio e jornais), oferecem aos seus cidadãos o mais confiável jornalismo e informação do mundo. São os canais de rádio e televisão de maior audiência devido à qualidade dos programas. A imprensa do mundo utiliza estas informações. Esta imprensa inglesa e francesa consegue ser estatal e independente. Por que isto não é possível aqui? Pois isto não seria mais do que uma possibilidade e sim um direito do cidadão (constitucional, aliás)? Esquece a lei da mídia. Ela só vai trazer dor de cabeça. Fazer uma BBC brasileira não precisa sequer de passar pelo congresso já que existe o Canal Brasil.
Sr.Britto.Eu me deparo todos os dias,com comentários os mais diversos,ao respeito da IMPRENSA no Brasil,e constato que parte dos que se ocupam do assunto,quase que de forma uníssona,criticam-na com múltiplos adjetivos,enfatizando ser parcial,falsa e tantos outros " predicados " não ao agrado de muitos.Ora sr. Britto,a imprensa no Brasil,é como em todos os lugares do mundo em que a sociedade de classes é mais proeminente,e sendo assim,é " PARTIDARIZADA ".Nem tem como não ser assim,já que todos ativistas dessa atividade,são subalternos do que se chama ATIVIDADE PRIVADA, e defendem os interêsses dos " PATRÕES ".Aqui,como em qualquer lugar,salvo raridades de curta existência,a atividade jornalística,serve aos seus fins,qual seja,FAZER PROPAGANDA.E o fazem das várias formas mas em consonância com a IDEOLOGIA PREDOMINANTE NA SOCIEDADE,de que o mundo foi feito assim e que muda-lo é coisa de sonháticos,e que finalmente pra vicissitudes da vida,deus provê ou proverá.Em qualquer atividade dos vários segmentos sociais no nosso meio,o que é sagrado,são A PROPRIEDADE PRIVADA,já que o patrimonialismo é em última análize,o que perdura em todos os campos ditos sociais-científicos.Hoje,a tecnologia que nos muniu de computadores e a possibilidade de interlocução,é que esta pondo essas indagações na ordm do dia,e que podemos,mercê o exercício do contraditório,tentar-mos discecar tais contradições.Mas a atividade imprensa,é sumariamente,patidarizada e ideologizada,em proveito da CLASSE DOMINANTE.Culturalismo,enquanto persistirem tais condições,me faz lembrar meus tempos de colégio primário,de priscas datas,onde nos ensinavam ter sido o descobrimento do Brasil,dentre suas causas,às Calmarias da Costa da África,e que nos obrigavam todos,a cantar DEUS SALVE A AMÉRICA!
Pois que os tais patrões façam isso com o dinheiro deles. Eles tem todo o direito! Não é, não?
É urgente "secar" esse povo vendido e teleguiado.
Para sintetizar vou usar uma frase que escrevi no CAF. A Dilma pode até fazer omeletes, desde que se quebrem os ovos da Globo.
Simples assim !
O povo pensa que vê as novelas ,futebol que assiste é de graça não sabe que quando compra o xampuzinho, a cerverjinha ta pagando embutido no preço gastos em publicidade [corta essa bolsa imprensa pra ontem].
LEI DE MÍDIAS é a única forma de promover a 'abertura' do mercado de comunicação que hoje é um oligopólio monopolizado por meia dúzia de famiglias. O 'neoliberalismo' tupiniquim nunca chegou à mídia que é a usa maior defensora. Uma baita contradição. Chamam o BOLSA FAMÍLIA, que salva vidas e alavanca a economia ajudando a criar um imenso mercado de consumo interno, de bolsa vagabundo, etc, mas e o BOLSA IMPRENSA, ou BOLSA PIG é o quê !? O BOLSA PIG sim, é que é uma BOLSA FAMIGLIA. Tem que acabar. BASTA !!!
"O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO de SONEGAÇÃO - O que passa na REDE GLOBO de SONEGAÇÃO é um braZil-Zil-Zil para TOLOS"
Não é só adequar o gasto em publicidade. Qual o sentido em depositar milhões de reais em veículos que só fazem conspirar contra o governo e a democracia brasileira? Alimentar o inimigo? Vamos sim gastar dinheiro para fazer uma democratização da mídia e informar de maneira isenta nosso povo.
Isso sem falar que els têm isenção de impostos na importação de máquinas, insumos e papel para jornais e revistas... e mesmo assim estão à beira da falência!
Incompetência demais e meritocracia de menos... Se os pimpolhos Civita, Frias, Mesquita, Sirotsky e Marinho tivessem que ralar na iniciativa privada ao invés de ficarem sentados esperando o papai morrer para herdar tudo, não durariam um mês...
Eu acho que não fazer publicidade é complicado, principalmente para empresas que trabalham com a disputa do mercado aberto:
Caixa esta patrocinando time de futebol, ótimo a globo não vê um centavo deste dinheiro.
O Banco do brasil esta patrocinado um Piloto de Formula 1, ótimo a globo não vê um centavo deste dinheiro, isso é inteligente.
Agora governo ter que pagar para emissora devido ao horário político é uma vergonha. ou acaba-se com o horário político, ou os partidos que se virem com o dinheiro do fundo público.