Janio de Freitas traça, na sua coluna dominical na Folha, o cenário sombrio – e nada improvável – do Brasil deste verão. Paralisado, não apenas na economia e na vida cotidiana, mas na sua vida institucional, onde o grau de mesquinhez chegou a um ponto em que vemos vice-presidente da República, Presidente da Câmara e Ministros do Supremo cuidando de suas táticas de tomada do poder e Nação mergulhada em um caldeirão de crise, onde despejame esperam que o fogo sempre acesso produza os vapores de suas bruxarias.
Um julgamento escondido
Janio de Freitas, na Folha
Sem que figure na pauta, nem esteja sequer mencionada em uma das ações a serem julgadas na quarta feira, sobre procedimentos do Congresso em casos de impeachment, o Supremo Tribunal Federal decidirá também uma questão de grande influência. Até mais importante para o próprio país do que será para Dilma Rousseff e para seus algozes.
O Supremo pode estabelecer medidas que cessem, ou ao menos diminuam muito, a bestialidade vigente na Câmara. Nem seria difícil fazê-lo. As “lacunas na legislação do impeachment”, como alegam por aí, são no máximo frestas, que não resistem à leitura séria dos artigos específicos da Constituição, e um pouco de lógica. Não seria preciso decorrer daí o fim do problema de Dilma para que, depressa, a recuperação de alguma ordem desanuviasse o ambiente geral.
É para esta direção que apontam os breves comentários públicos do ministro-relator Luiz Edson Fachin sobre o principal a ser julgado. Nada, porém, insinua que a maioria do Supremo tenha a mesma visão. Chamado de “líder da oposição”, tamanha a incontinência de sua agressividade verbal contra Dilma, Lula e o PT, o ministro Gilmar Mendes disse que o tribunal precisa “deixar a questão para o Congresso”. Em sua concepção particular, a frase já significou engavetar por ano e meio a proibição, embora já com votos a aprová-la, de financiamento eleitoral por empresas.
Será apenas normal que Gilmar Mendes peça vista da ação e retenha a decisão até fevereiro, depois das férias a começarem no próximo fim de semana. E não será anormal que Celso de Mello, ou Carmen Lúcia, ou Luiz Fux, por exemplo, adote o pedido de vista e adie a decisão.
Em tal caso, a probabilidade é de um interregno mais quente do que o verão. Diz Nelson Jobim, como faziam os do seu velho tempo, que “os deputados vão voltar do recesso com a faca nos dentes”. É a ideia de que as bancadas voltam a Brasília como reflexos do que lhes impingem nas suas regiões eleitorais. O que requer dos oposicionistas, para resultados relevantes, propósitos agitadores elevados.
A movimentação de bastidores de Michel Temer e de alguns de seu grupo, pelos Estados, não vai desativar-se com o recesso. O plano é o oposto: agitar as ruas para preservar a pressão até fevereiro, e para pressionar os próprios parlamentares. Mas aos opositores do impeachment não resta nada diferente. O seu primeiro problema é que não contam com TV e imprensa para conclamações. O segundo é que os chamados movimentos sociais e os sindicatos não controlados por dinheiro patronal parecem o que há de mais preguiçoso até quando se trata do seu interesse. Caso, porém, o governo consiga despertá-los, como pretende, estará complementada a difusão do clima de efervescência mútua. E, quem sabe, frontal.
Em situação assim, mais do que continuar a fermentação, o potencial de circunstâncias violentas é alto, em qualquer tempo. Mas o Brasil vive tempos especiais de violência. Nesse sentido, a verdade é que em todos os níveis, em múltiplas formas de ação e por toda parte, nem as poucas políticas de contenção podem dizer-se com razoável controle sobre as manifestações da violência.
Estamos sujeitos a uma repentina explosão de violência só imprevista porque ninguém quer pensar nela. Assim também, só para os que querem surpreender-se é inesperável um estouro urbano de violência política. Os ânimos estão prontos.
Mas deixar Eduardo Cunha fora dessa equação seria, antes de tudo, injustiça. A menos que deixe de continuar isentado pela Lava Jato, por força de algum mau humor curitibano, Eduardo Cunha tem muito como contribuir para a deterioração ainda maior do sistema político. E, a depender dele, não deixaria de fazê-lo durante o recesso. É muito o que tem e o que sabe, e sabe usar.
Não há sinal de que isto entre em questão, mas o Supremo Tribunal Federal vai decidir também se o Brasil receberá um ambiente mais distenso ou novas formas de ameaça às instituições e à pretensão de democracia.
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Fernando, corrija o seu texto final do primeiro parágrafo, please... "onde despejame esperam que o fogo sempre acesso produza os vapores de suas bruxarias." A metáfora da conjuração bruxólica é ótima e não pode ter a leitura prejudicada pela digitação. Grato
Saudade de 2013... quando se discutia se tudo era por causa de 20 centavos...
Lunes, aquela geração pueril pode ter jogado um pré-Sal de 1 trilhão e salvaguarda pro desenvolvimento do país por 20 centavos. Se isso um dia se concretizar jamais perdoarei esses paspalhos por isso. E quem leva "má fama", injusta, é a turma de 1992 do Impeachment de Collor, que era politizada e elegeu um metalúrgico presidente duas vezes além de ajudar a consolidar as mudanças recentes do país, pois nunca rejeitou a política e os partidos e forças progressistas (faço parte disso e vejo essa geração atual como uma geração perdida, a menos que se redimam do erro de 2013). Não tenho saudades daquela "revolução colorida" de 2013, o golpe atual começou pra valer ali. A extrema-direita saiu do casulo em 2013 tentando sabotar primeiro a Copa e depois derrubando o governo (tenta até hoje). Chega de endeusar esses despolitizados de 2013, eles precisam tomar um chá de realidade e desfazer a cagada que começaram.
Perfeito Roberto. Utilizei o termo "saudade" apenas para contrapor-se à extrema preocupação com a gravidade que tomou hoje aquele movimento pueril e "apartidário" dos 20 centavos. Isso reflete o quanto o movimento das crianças sem causa foi manipulado pelos bruxos do impeachment e pelo PIG. Arruinaram o Brasil. Um país promissor que se projetava no mundo mostrando caminhos para o século XXI.
Não me perdoará, doce Patrice?
Ciro Gomes já tinha avisado para os confrontos físicos. Já teve tapa entre deputados, mas o pior será uma quase guerra civil pq os eleitores e instituições pró Dilma não se calarao. Eu mesmo já discuti com muitos na Dila do açougue, no ponto de ônibus, nos corredores de mercados. A ruas lotadas, os estacionamentos abarrotados mas insistem numa crise q é relativa quando se pensa no tamanho da economia brasileira.
E quando ocorrer o confronto, teremos a PM batendo nos movimentos sociais para defender os fascitas, além da cobertura da mídia apontando o dedo para quem deu o primeiro tapa, neste caso os movimentos sociais, claro.
As ditas pedaladas já forma analisadas pelo SENADO ?
então é golpe!
E por mais paradoxal que nos pareça,comandados todos,por esse MORUBIXABA MAMBEMBE,o Sr.FHC,que por ter sido ,com benesses de compra de votos neste mesmo congresso à época de sua reeleição,e com a CUMPLICIDADE DO JUDICIÁRIO,que não é por humores,senão CUMPLICIDADE,que voltarão com faca nos dentes,e verbas extras inocentes em seus bolsos! E esperar-se e ver.É a LUTA DE CLASSES,instalada no país ,com os operosos agentes pequenos burgueses zeladores dos interesses da BURGUESIA,e o movimento popular,que como disse o articulista,preguiçosos históricos,por não saberem distinguir,parte deles, ação é ócio.Além de tudo,parte da população,associa incompreensivelmente,verão e ESTÁTICA!
Me perdoes, Marco, mas, creio que tu acabas ofendendo àqueles que eram os habitantes do nosso grande Brasil e da nossa grande América até o "descobrimento".
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Penso que, nem de brincadeira, você deveria igualar um chefe indígena com um pulha, uma coisa espúria, um vendilhão da pátrica como o Sr FHC.
Golpe? O golpe foi uma eleição vencida com mentiras, com maquiagem de contas públicas e com o uso do dinheiro roubado na Petrobras.
Ah, a eleição do FHC em 98?
Todas as eleições do PSDB até hoje? De fato, foram golpe lesa-pátria, privatização do país, sucateamento do Estado, enriquecimento ilícito de vários tucanos "funcionários públicos" e colocar o Brasil de joelhos pros EUA.
Golpista, vai pra marcha saudar o AI-5 que esse esperneio de vcs não tem mais impacto. Eduardo Cunha mostrou pro povo o que vcs representam (pra isso aquele marginal serviu).
Até o partido enteeguista /golpista, o PSDB, já foi avisado pelo TSE que não houve fraude.
Vai pras ruas, Allison.
Confronte idéias.
Não vem ao caso.
A última do alcriminoso foi o que??
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CONVOCAÇÃO ... CONVOCAÇÃO ... CONVOCAÇÃO
DIA 16 DE DEZEMBRO ... DIA 16 DE DEZEMBRO
Convocação para mobilização nacional no dia 16/12 (São Paulo, 17 horas no MASP, na Avenida Paulista)
NÃO VAI TER GOLPE!
CONTRA O IMPEACHMENT!
EM DEFESA DA DEMOCRACIA!
FORA CUNHA!
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CONVOCAÇÃO ... CONVOCAÇÃO ... CONVOCAÇÃO
DIA 16 DE DEZEMBRO ... DIA 16 DE DEZEMBRO
Convocação para mobilização nacional no dia 16/12 (São Paulo, 17 horas no MASP, na Avenida Paulista)
NÃO VAI TER GOLPE!
CONTRA O IMPEACHMENT!
EM DEFESA DA DEMOCRACIA!
FORA CUNHA!
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É… O caldeirão está aceso mesmo… Aqui, em Vitória, durante a última semana, praticamente todos os dias, no final das tardes, um caminhão de som, daqueles utilizados no carnaval, estacionado em um dos principais cruzamentos da avenida à beira-mar, com todos os latidos bradava rancores semânticos para todos os prédios e carros das redondezas:
“Lula é vagabundo”…”Dilma é vagabunda…” “Todo petista é vagabundo…” Fora Lula…” Fora Dilma…” “Fora PT…”
A patranha era sofisticada, marchinhas gravadas em estúdio. Uma delas era uma sátira violentíssima de “Mamãe eu quero”, era mais ou menos assim:
“MaMamãe Dilma eu quero… MaMamãe Dilma eu quero… Mãe Dilma eu quero mamá… ME DÁ A TETA… ME DÁ A TETA… DÁ A TETA PRA PETISTA NÃO CHORÁ…”
Foi assustador de um lado… E esperançoso de outro, pois em todos os dias que testemunhei TAL VIOLÊNCIA não houve aglomeração de pessoas no entorno do caminhão… O resultado final apresentar-se-á hoje, domingo, pois programada está uma passeata que percorrerá vários quilômetros da orla de Vitória.
Não há mais qualquer dúvida:
O FASCISMO É UMA QUESTÃO CONCRETA ENTRE NÓS.
Pois é, a maior parte dos políticos que querem o impeachment está sendo investigada, processada ou já foi até condenada por corrupção e outros crimes. Até agora não contaram o que farão se conseguirem dar o golpe, mas tem gente que se acha inteligente assinando cheque em branco pra estes elementos. E depois da eleição aquele tal de fhc saiu-se com a conversa de que burros eram os eleitores do PT...