Paulo Nogueira Batista Jr.: política econômica para enxotar vira-latas

Quer entender o que têm a ver a crise econômica com a ação política sistemática de demolição da ideia do Estado como ferramenta de desenvolvimento e bem-estar, que vai além da  destruição do governo petista mas passa, necessariamente, por ela?

Leia o professor Paulo Nogueira Batista Jr, um dos raros economistas brasileiros que não escreve em hieróglifos e com mais preocupação em ser entendido do que ser admirado como oráculo.

Talvez, por isso, os governos petistas sempre o tenham mantido numa espécie de exílio: primeiro no FMI, onde conduziu nossa afirmação como membro decisivo, em lugar de pedinte contumaz e, agora, no Banco dos Brics, onde é vice-presidente e já anuncia a entrada, progressiva, de investimentos em infraestrutura no país.

Seu artigo hoje, em O Globo, é a mais simples e melhor explicação sobre as mudanças de orientação da política econômica, tímidas, mas as possíveis a um governo que está fraco e sob implacável assédio não só das forças do “mercado” – leia-se aí a especulação financeira, nacional e internacional – como, sobretudo, pelas feitorias de pensamento, cuja dominação se dá como todo processo de dominação: pela destruição de nossa autoestima, pela renúncia à ideia de nossa capacidade e, portanto, pela criação de uma necessidade de entregarmos a outros a condução do nosso próprio destino.

Tomei a liberdade de sublinhar algumas frases, professor…

Recessão emocional

Estou passando algumas semanas no Brasil, leitor, e constato horrorizado: pior do que a recessão econômica, só a recessão emocional. O país, que há poucos anos era um sucesso internacional, parece ter perdido a autoconfiança definitivamente. Esquece seus pontos fortes e proclama aos quatro ventos seus pontos fracos. E, pior, demonstra satisfação masoquista em proclamá-los.

Em outras palavras, o complexo de vira-lata voltou com força total. Era de se esperar. Um complexo assim secular não se supera num passe de mágica, em poucos anos de sucesso. Mesmo nos nossos anos de prestígio internacional, o vira-lata estava ali, à espreita, pronto para voltar à cena. Afinal, como dizia Nelson Rodrigues, subdesenvolvimento não se improvisa — é obra de séculos.

A recessão emocional alimenta a econômica, e vice-versa. O colapso da confiança prejudica inevitavelmente o investimento e o consumo. A retração da demanda agregada doméstica derruba a produção e o emprego. E o aumento da capacidade ociosa e do desemprego deprime ainda mais o investimento e o consumo, jogando a economia numa espiral descendente.

Nesse ambiente, as políticas monetária e fiscal não podem continuar sendo pró-cíclicas, como foram em 2015. Não há dúvida de que o espaço monetário e fiscal é limitado. Mas é possível moderar a política de juros e espaçar o ajuste fiscal ao longo do tempo. É o que parece estar tentando a equipe econômica. Sob protestos da turma da bufunfa, o Banco Central interrompeu o ciclo de alta de juros. O Ministério da Fazenda anunciou medidas de ampliação do crédito, centradas na atuação dos bancos federais, e mudanças na política fiscal que tendem a torná-la mais sensível ao ciclo econômico. Foi apresentado ao mesmo tempo um programa de ajustamento estrutural das contas públicas.

A direção tem que ser essa mesmo. Ou alguém imagina que num quadro de queda acentuada do gasto privado o papel da política econômica possa continuar sendo o de aprofundar a recessão com juros ascendentes e uma política fiscal pró-cíclica? Mais do que nunca, o setor público deve desempenhar um papel compensatório.

A recessão emocional nos impede de ver os pontos positivos do quadro macroeconômico? Alguns são tão evidentes que nem o mais tenaz dos vira-latas é capaz de negá-los. Por exemplo: a dimensão e velocidade do ajuste das contas externas, consideradas surpreendentes por analistas da economia brasileira. A combinação de queda da demanda interna com acentuada depreciação do real produziu grande melhora da balança comercial e da conta corrente do balanço de pagamentos em 2015, que só não foi maior porque o quadro internacional foi adverso em termos de demanda externa e de troca.

Somado às elevadas reservas em moeda estrangeira, que o Brasil ainda não precisou utilizar, o fortalecimento do balanço de pagamentos nos dá condições de enfrentar as turbulências internacionais que devem ocorrer em 2016.

A desvalorização do real funciona, além disso, como estimulo à recuperação da atividade e do emprego. As exportações de bens e serviços já começaram a responder ao câmbio mais favorável. Ao mesmo tempo, a produção nacional se mostra capaz de substituir importações em vários setores. Ainda que o setor externo da economia seja relativamente pequeno, como costuma se verificar em países continentais, o impulso cambial ajudará a estabilizar os níveis de atividade e de emprego.

Portanto, deixo aqui o meu apelo veemente: sossega, vira-lata!

Fernando Brito:

View Comments (11)

  • Que bom esse artigo FB. Que todos aqueles que nao sao vira-latas estejam presentes na manifestacao de apoio ao Lula no dia 17. Que o legado daquele que conseguiu colocar a Brasil no lugar que lhe cabe seja respeitado. Ele eh afinal "o cara" que levantou a cabeca e fez o povo brasileiro se orgulhar de si e de suas riquezas. A luta nao espera !

    • ATENÇÃO … ATENÇÃO … ATENÇÃO … ATENÇÃO … ATENÇÃO

      .. GRANDE VIGÍLIA E MANIFESTAÇÃO EM DEFESA DO LULA ..

      ……… Dia 17 de fevereiro a partir das 10 horas ………

      ….. No Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo …..

      (onde será realizado o depoimento do Lula e de dona Marisa para o Ministério Público de São Paulo)

      O Lula é meu amigo,
      Mexeu com ele, mexeu comigo!!!!!

  • Aqui mesmo no blog temos vários vira-latas, comentaristas do apocalipse, que torcem contra o Brasil e que detestam o seu povo. O sonho desses seres rastejantes e deprimentes é ir limpar privadas e fossas em Miami por um dólar/hora, para depois arrotarem sobre as maravilhas do capitalismo e da "terra das oportunidades". São pessoas que, quando vão ao exterior, acham chique andarem de ônibus em Londres ou se espremerem em metrôs lotados e sujos em Paris ou NY, mas que aqui acham que isso é coisa de pobre. Ficam maravilhados com a extensa rede de ciclovias em países como a Holanda, mas aqui acham que isso é coisa de comunista e bolivariano. Em resumo, são perdedores e fracassados.

    • Bem isso, Maurício.
      Dia desses o Willian Waack, em pleno JN, deixou a apresentadora do tempo desconcertada ao dizer que preferia as neves da nevasca de NY ao calor das praias do nordeste... Eita vira-latismo nacional! Acho que, com este nome, ele se acha gringo.
      O comportamento deste pessoal é o mesmo do pré-adolescente que as vezes sente vergonha dos seus pais e da casa em que mora. Existe esta fase na vida de muitas pessoas. A maioria sai da fase. Uma partezinha não consegue mais sair. Ficam a vida toda sentindo vergonha de tudo o que o cerca. Isto, aliado à deficiência em perceber o contexto histórico ou político, cria verdadeiras aberrações, como o sujeito aí da foto, ou como aquele episódio dos coxinhas excretando na página da Casa Branca. Affff...

  • A viralatice e prerrogativa de alguns invejosos mesquinhos incompetentes que querem que todos se igualem a eles..quanto ao desespero e a tristeza de alguns que sentem desarmados contra os ataques dos poderosos, que levantem a cabeca.. lembrem-se que isto foi projetado no extrangeiro milhoes de dollares estao sendo aplicados para destruicao do pais mas com imaginacao e espirito de luta venceremos...

  • Concordo com o comentário do Alírio César, que a mídia alimenta o "complexo de vira lata diariamente". O PIG fica 24 horas por dia só falando mal do Brasil. Tudo que é tipo de desgraça só acontece aqui, ao mesmo tempo aliena o povo com bobagens tipo BBB. E olha o resultado....

    • Leitores do PIG também são vira-latas em sua maioria. E alguns deles de vez em quando chafurdam por aqui.

  • é bem isso mesmo de não ter maturidade de se olhar no espelho, um espiral de baixa auto estima que leva a desconfiar de todo empreendimento que "ousamos" empreender

  • é de pleno conhecimento, salvo pelos de ignorância máxima, que a desgraça econômica só fortalece uma nação e o petismo veio pra fazer o petismo o mais forte do mundo

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