Fabiana Moraes da Silva, mestra em Comunicação pela UFPE,e doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco publicou, em 2008, um estudo sobre “A não-notícia, um produto do infoentretenimento“, onde diz que “se não houvesse nada intrigante ou espantoso acontecendo, não era falha do repórter. Ele não poderia reportar algo que não existia”.
Ela caracteriza assim os “não fatos”:
1- Não são espontâneos, e sim planejados, plantados ou incitados. Jamais seriam possíveis num terremoto ou num acidente de trem, e sim numa entrevista.
2- São plantados para imediatamente serem reportados e reproduzidos, e essa reprodução é organizada de forma conveniente para ser reportada pela mídia. A grande pergunta “isso é real?” é menos importante do que “vale a pena ser publicado?”
3- Sua relação com o conceito de realidade é ambígua. Na verdade, o interesse pelo material cresce à medida que ele é de fato ambíguo.
4- Geralmente, se auto-realiza ao cumprir sua própria profecia. Tem o mesmo conceito que um fait divers: seu sentido termina nele mesmo.
Nada se encaixa mais perfeitamente na “cobertura” dos “escândalos” que se atribuem ao ex-presidente Lula.
Leio no UOL a reprodução do “interrogatório” a que foi submetido o Instituto Lula pelo Estadão.
Nenhum dos supostos “fatos” descritos nas perguntas caracteriza qualquer ilícito, mas “têm” de ser explicados por uma pessoa que, sequer, tem função ou cargo público.
“Por que ele foi a tal lugar?”; “por que estava com fulano?”; “por que pensou em comprar?”; “por que desistiu de comprar?”; “Sua mulher foi lá?”; “seu filho foi lá?”; “tem contrato de intenção?”; “tem contrato de desistência?”, “o Ministério Público contestou/questionou alguns pontos da nota emitida pelo ex-presidente sobre a visita ao imóvel (questionou onde, como, quando?)”.
Perguntas e afirmações que não trazem um fato sequer, uma acusação ao menos, mas estão repletas de suspeitas e insinuações.
E, aí, vira “notícia” o assessor de imprensa de Lula não respondê-las.
A doutora Fabiana, no seu artigo, descreve a finalidade desta história: “uma das características mais comuns dos pseudo-eventos é a presença da ambigüidade: o “deve ser”(…) o silêncio de um famoso diante de algum suposto escândalo. Não esclarecido, o não-acontecimento torna-se cada vez mais comentado, alimentando assim uma série de suposições e, conseqüentemente, novos pseudo-eventos. (…)Os pseudo-eventos se alimentam da ambigüidade para produzir ressonância no campo midiático, gerando comentários e garantindo assim sua presença nos meios de informação.
A propósito, o ensaio que cito, senhores “jornalistas investigativos”, é sobre a revista Caras.
Basta para denotar o tipo de “jornalismo” que está sendo praticado neste país.
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Não são jornalistas e sim pilantras que fazem de tudo para agradar o patrão, até cherarem o seu cu se preciso for. Bando de idiotas.
A palavra "furnas" deve estar proibida na TV GLOBO. No JN de ontem (sábado), numa matéria sobre o campeonato mundial de salto de penhasco (High Deep), realizado na represa de Furnas, a repórter enrolou, enrolou, mas não disse o nome da represa. Disse mais ou menos o seguinte: " Está sendo realizado numa represa de uma grande hidrelétrica no Rio Grande, em Minas Gerais, o campeonato mundial de High Deep." Sacaram qual é a grande represa? Até filmaram a dita cuja na reportagem. Foi aí que reconheci o local: é Furnas!!! Já devem ter percebido que o nome furnas já está ligado subliminarmente ao Aécio. É a chamada semiótica, pois furnas faz lembrar da famosa "Lista de Furnas", onde o Aecinho está atolado até o pescoço. Por isso, creio que de agora em diante, caso haja algum problema em Furnas vão dizer que faltou energia por causa de uma grande hidrelétrica em Minas... (rs...rs...). E ainda tem gente que acredita na Globo e nas suas operações Lava Jato...
Neste curto vídeo você vai aprender a técnica de manipulação de mentes usada pelo meios de comunicação
https://www.facebook.com/celso.camargo.16/videos/944467058969575/
O vídeo completo
https://www.youtube.com/watch?v=lxQnFSgSnz8
FB vc disse : "denotar o tipo de 'jornalismo'" e eu li "detonar"... Realmente essas narrativas mesquinhas e diabolicas do PIG precisam ser detonadas: cada ponto, cada virgula, cada palavra, ja que sao vazias e fantasiosas ... FORA REDE ESGOTO!
É a semiótica, Brito. Recomendo a leitura do blog cinegnose de autoria do Wilson Ferreira, cujos textos saem parcialmente no portal do Nassif
Por estas e por muitas outras que os jornalões brasileiros estão falindo. E não vão fazer a mínima falta. Já vão tarde,
Não é piada! Durante o "mensalão" (mentirão/pastelão) o âncora tava dando as notícias comuns, de repente, corta pra um reporter em brasília com microfone na mão e fones de ouvido. Ao fundo o palácio do planalto. - "Vamos direto à brasília onde fulano de tal traz informações do mensalão. Diga fulano"
- "Boa noite beltrano. Hoje aqui em brasília não houve nenhuma movimentação do mensalão."
-"Obrigado e boa noite."
Quando eu começo a acreditar que eles realmente fazem jornalismo, que estão apenas respondendo à lógica do mercado de informação e noticiando o que o povo quer, você reporta um fato como esse... Aí todo o meu esforço cai por terra e encaro a realidade: é jornalismo dirigido mesmo.