70 mil. A morte virou rotina, e daí?

O gráfico aí de cima, da Fundação Oswaldo Cruz, mostra o espantoso avanço do novo coronavírus nas regiões que, até o mês passado, haviam sido relativamente poupadas da contaminação dramática que se deu em outras áreas do país. Minas, o Centro-Oeste e o Sul do país disparam em numero de casos e, também, em número de mortes.

É óbvio, muito claro mesmo que isso reflete o fato de que não se fez o necessário bloqueio à expansão da doença e cedeu-se à primária justificativa de que “como aqui tem poucos casos não são necessárias medidas de isolamento”.

Colaborou nisso, claro, a atitude estúpida do Governo – o Federal e alguns estaduais – de combaterem o isolamento, estimular insanidades – alguém lembra do saxofone tocando a melô do shopping em Santa Catarina?- e o resultado se expressa no número crescentemente assustador de casos naqueles estados e também no de mortes, que vai ao final do post.

Sugere-se que estamos, nacionalmente, num platô, com um número de mortes “estabilizado” um pouco acima de mil por dia. Quatro Brumadinhos diários, para que se quantifique melhor.

Estamos superando os mil óbitos diários desde 19 de maio, com raros dias – salvo os subnotificados finais de semana – abaixo disso. Estaríamos, portanto, para completar dois meses neste patamar e ninguém duvida que chegaremos e passaremos deste prazo.

Comparemos, aceitando em parte a proporção populacional: a Itália ficou um mês (20/mar a 21/abr) acima das 500 mortes; idem a Espanha (23/mar a 18/abr), a França ainda menos (01/abr a 23/abr) e o Reino Unido, a pior taxa de mortalidade entre os grandes países europeus, foi o que permaneceu mais tempo acima das 500 vidas perdidas, de 1° de abril a 19 de maio.

O quadro brasileiro é semelhante ao outro exemplo, o dos Estados Unidos, que chegaram ao nível de mil mortes/dia em 1° de março e dele só saíram, salvo dias isolados, em 9 de junho, mais de três meses depois. Três meses em lugar de um mês, a mil mortes/dia, são 60 mil mortes, uma opção que, crua assim, nenhuma sociedade aceitaria.

É o que está diante de nós: aceitar ou não que as coisas vão se “normalizando e – para sermos otimistas, este grau de mortalidade siga até o final de agosto quer dizer que teremos 30 ou 40 mil mortes – parte delas inevitavelmente ocorrerá, claro – que poderiam ser evitadas por medidas restritivas.

Mais ainda, a se confirmarem – o que está acontecendo até agora – as projeções matemáticas da Universidade de Washington, que supõe que tenhamos, até o último dia de agosto, o dobro das 70 mil mortes que se completam hoje.

O “novo normal”, aceito pacificamente por nossas autoridades, é simplesmente monstruoso.

 

 

Fernando Brito:

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  • Então ..se no início AUTORIDADES e agentes de saúde não sabiam o que fazer, ou qdo suspeitavam, muitos se omitiram e deixaram o barco correr..

    ..se a POPULAÇÃO de todo país AINDA recebe informações desencontradas e padece, ou se ressente por não ter um COMANDO partido dum líder equilibrado, que seja capaz de mudar o rumo à medida que uma nova realidade se imponha, a pergunta CONSTRUTIVA de hoje a ser feita é:

    e O QUE FAZER agora ?

    Com certeza, entrando pelo 5o mês e prevendo outros 5 pela frente, já com boa parte da classe média depauperada, tendo suas reservas exauridas, e com as contas públicas esfaceladas pelos próximos 2 a 3 anos (o que cobrará de novos tributos pra dar conta rapidamente do rombo, como a CPMF por ex), só vejo uma saída possível: se promover SIM a retomada das atividades, tendo-se em conta as melhores praticas sanitárias possíveis e conhecidas pro momento, e torcer

    ..o resto é chover no molhado ..ficar mostrando estatísticas não vai comover, e PIOR, corre-se o risco de se ser acusado de estar torcendo pro pior acontecer.

    ..aguardar pra que as tensões se avolumem a um nível insuportável é muito arriscado ..e continuar apontando o dedo pro outro, sem ao menos sequer propor uma solução factível a esta encalacrada, soa irresponsável e descompromissado pro momento.

    Precisamos sim rever as táticas e os argumentos, pq tão cedo o COVID não vai desaparecer..

    • Qualquer que seja a estratégia, tanto a que deixou de ser feita como a possível futura, só tem chance de ser bem sucedida se houver testagem em massa. Porque, se continuar tateando no escuro, não há chance.

  • Falando no espetáculo da reabertura de shoppings em blumenau, parabéns para quem escolheu a música. Foi basicamente uma profecia.

    Pra quem não sabe, a música que foi tocada foi "Have you ever seen the rain?", cuja letra começa mais ou menos assim:

    "Alguém me disse muito tempo atrás.
    Que há uma calmaria antes da tempestade.
    Eu sei. Já faz algum tempo que está chegando"

    Melhor que essa, só se tivessem escolhido a "dança do caixão".

  • A morte sempre foi rotina, nunca ninguém se importou, essa é a marca do subdesenvolvimento brasileiro, não ligamos para a morte.

  • Se cada morte cinco serão contaminados e falecerão, então daqui uns dois meses teremos um número de mortes recordes em torno de trezentos mil!
    Tai o Genocida que fica estimulando os brasileiros a tomar cloroquina que não há comprovação de efeito positivo nenhum. Se continuar nesta marcha daqui dois meses teremos os caminhões do exército transportando caixões de mortos para serem enterrados em valas comuns. Pelo menos estes milicos tenham alguma serventia.

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