Assisti, logo cedo, a live de Jair Bolsonaro, ontem, e foi inevitável a comparação com a outra live, mais cedo, a da posse de Luiz Fux na Presidência do Supremo Tribunal.
Claro que a forma, aparente, era totalmente diversa. O sentido, nem tanto.
Numa, Bolsonaro contracenava com uma menina de dez ano; noutra, com vetustos senhores de fala empolada a servir de embalagem para asneiras de toda a ordem – neste ponto, o Procurador Augusto Aras foi o campeão, com os elogios aos valores nacionalistas do jiu-jitsu e o descarado puxa-saquismo de que ele “alia a mente de Atenas e a força de Esparta”. Faltou, quem sabe, alguma referência aos cabelos de Sansão.
Na conversa com a menina, Bolsonaro a chamou a “julgar” maltratadores de animais, utilidade dos gordos e a segurança da vacina contra a Covid-19, como tinha sido chamada, na véspera, para dirigir perguntas aos ministros Na conversa dos ministros do STF, além das bobagens do “alô, papai” e “que gracinha os meus netinhos”, muitas promessas de tirar o Supremo das “pautas políticas” e de costumes, quando se sabe que há um governo que em tudo quer avançar no ódio e no arbítrio.
Salvou-se a fala de Marco Aurélio Mello, lembrando – veja o ponto a que chegamos – a Jair Bolsonaro que ele não é presidente de seus eleitores, mas de todos os brasileiros e que a ordem jurídica do país vive um quadro de ameaças – “traulitadas”, disse ele – vindas de não-é-preciso-dizer-quem.
Minutos depois, o presidente que acabara de ouvir louvores à lei, dedicava-se a fazer propaganda e a louvar o trabalho infantil, absolutamente vedado pela Constituição e pelas leis, se para menores de 14 anos.
A visão que se tem das duas lives é a de que o país está entregue a um quadro de mediocridade, para não dizer de vileza.
A direção do país virou um programa de TV, onde o nível da conversa é primário e deprimente, onde Jair Bolsonaro pontifica, fazendo piadas das quais ele próprio é quem mais ri.
Estamos assistindo a um quadro de estupidez que poucos poderiam, mesmo no pior dos pesadelos, imaginar.