O Sul vira Manaus

Ontem, filas se formaram nos cartórios de Porto Alegre, com pessoas esperando por mais de 5 horas pela emissão de um atestado de óbito para poder sepultar um parente morto pela Covid 19.

O Estado do Rio Grande do Sul, há dez dias com a sua capacidade de internações intensivas esgotada – faltam, hoje, 315 leitos de UTI – chegou ao recorde de 331 mortes em 24 horas.

É uma catástrofe de proporções semelhantes à que viveu o Amazonas e não há nenhum sinal de que isso venha a se atenuar nos próximos dias.

Pior, não são um nem dois os avisos de médicos de que o colapso do atendimento está ocorrendo em outros Estados, São Paulo entre eles.

As medidas restritivas são solenemente ignoradas: o índice de isolamento segue baixíssimo, quase sem alterações. De 38,5% para 39,1%, comparando-se os dois últimos sábados, segundo o site de rastreamento de celulares Inloco. Para funcionar, o mínimo seria de 60%, o que jamais foi atingido, salvo nos primeiros dias da pandemia, em março de 2020.

Vamos assistir a outra semana trágica: em um mês, os óbitos acumulados por semana passaram de 7.52o para 12.766, um aumento de 70%.

O agravamento é tão grande que o professor Domingos Alves, do Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP prevê hoje, em O Globo:

A devastação da Covid-19 não cessa e Alves estima que o país chegará a 300 mil mortos entre 25 e 27 de março, talvez antes. A previsão se baseia em uma taxa de 1.500 mortes por dia. Porém, Alves também avalia que devemos alcançar a marca de 2.000 mortes diárias, na média móvel, até o fim da semana que vem. E até o dia 26 , calcula, poderemos ter 3.000 óbitos por dia.

Talvez o dado mais triste de nossa situação seja o de que, ainda que nossos governantes tivessem uma epifania e resolvessem fazer um lockdown, ele não terá tanto impacto na disseminação da doença porque, esta é a crua verdade, o povo brasileiro perdeu a confiança de que isso vá funcionar.

Como nos Lusíadas, o fraco rei fez fraca a forte gente. E o coronavírus, como o castilhano, veio devastando.

 

 

Fernando Brito:
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