Chegamos a um ponto em que a tal “3ª Via”, ou lá o nome que agora se queira dar a ela, virou um espetáculo deprimente de hipocrisia, como se fosse surgir, como numa pesquisa do Google, um nome encantado para atender a um sentimento que não há no eleitorado, embora já se prometa entregá-lo – quem sabe pelo reembolso postal – até o dia 18 de maio.
Até Merval Pereira, antes o sumo sacerdote da “3ª Via”, faz pouco do que dela resta:
“Tudo conspira, portanto, para que a chapa a ser anunciada não tenha força política capaz de enfrentar a polarização e, na verdade, nem se disponha a isso. A classe política está dando como definida a disputa entre Lula e Bolsonaro no segundo turno e se organiza em torno desses dois candidatos.”
É verdade, sim, que existe uma fatia do eleitorado que não quer Bolsonaro nem Lula. E esta porção, mais que na opção Moro, apenas um bolsonarismo enrustido, está situada no apoio a Ciro Gomes, representando, conforme a pesquisa, 6 a 9% dos eleitores.
O resto, servindo-me da frase do senador Renan Calheiros, “se você somar quem tem 1% com quem tem 2%, não vai alterar a fotografia das pesquisas; é somar nada com pouca coisa”.
E pouca coisa não derrota o grande e abjeto agrupamento que se montou em torno de Jair Bolsonaro: fanáticos fascistóides, fundamentalistas, centrão, militares carreiristas e/ou ávidos pelo poder civil e apetites econômicos cientes de que, em mais um mandato, ser-lhes-á entregue o que resta do patrimônio e da natureza deste país.
Os movimentos de Lula em direção ao PMDB ao PSD, como o jantar com senadores, ontem, em Brasília, longe de serem concessões, são conquista, porque só os ingênuos podem achar que se pode dispensar apoios num combate terrível como será o de outubro.