É um privilégio para a blogosfera ter, entre seus quadros, uma figura experiente como Paulo Nogueira. Não só experiência, mas disposição em partilhá-la com os internautas, contando o que viveu e observou durante os anos em que trabalhou na grande mídia brasileira.
Sua descrição de como funciona o Conselho Editorial da Globo, com riqueza de detalhes, deveria ser lida em sala de aula, para todos entenderem que um jornal muitas vezes é uma empresa que visa o lucro e o poder, e não necessariamente a verdade e a justiça social.
Hoje Nogueira conta um pouco sobre o novo secretário de comunicação da Presidência da República, Thomas Traumann, e faz observações pertinentes ao medo da grande mídia, em especial a Globo, de que o governo mude os rumos da distribuição de verbas, investindo mais recursos na internet.
Nogueira acha que, se houvesse a internet, seria mais difícil acontecer o golpe militar de 64.
Concordo.
Ao artigo.
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A missão de Thomas Traumann
Por Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo.
Thomas Traumann foi uma excelente aquisição para a Secom.
Trabalhamos juntos na Época em meados dos anos 2 000. Thomas é um jornalista competente e um homem de caráter.
Fazia, na revista, uma das seções mais lidas: Filtro. Como o nome diz, era uma filtragem das notícias mais importantes da política. (O espírito dela está presente em nosso Essencial.)
Eu era diretor editorial, e minha divisa era: “um olho na revista e outro no site”. Thomas, com seu Filtro, era a representação disso.
Na edição semanal, você tinha ali o principal do mundo político no papel. Diariamente, pela internet, você se informava por Thomas.
O mundo político acompanhava-o. Lembro que uma vez Serra, então forte candidato à presidência, nos contou que uma de suas leituras obrigatórias era o Filtro de Thomas.
Ele chega à Secom sob uma cínica desconfiança da mídia.
Absurdamente privilegiada há anos, décadas, por sucessivos governos com coisas como publicidade em doses abjetas e financiamentos a juros maternos em bancos públicos, a mídia teme que a Secom coloque algum dinheiro em blogs que representam, hoje, a garantia de que vozes e visões alternativas chegarão à sociedade.
As companhias de jornalismo defendem, essencialmente, seus próprios interesses – e os do grupo a que pertencem, o chamado 1%.
Antes da internet, elas comandavam – manipulavam – a opinião pública. Veja o que elas fizeram com Getúlio e, depois, Jango. Com Lula, no Mensalão, o mesmo comportamento padrão se repetiu – a tentativa de minar governantes populares. A diferença é que a estratégia não funcionou. A intenção era a mesma.
Foi nesse quadro que a internet surgiu e floresceu como uma vital contrapartida às empresas de mídia.
Colunistas que reproduzem o pensamento patronal estão criticando a nomeação de Thomas.
Reinaldo Azevedo – que tem uma velha obsessão por mim – é um deles.
É até engraçado. Quando dirigiu uma revista a favor do PSDB, Azevedo recebeu mensalões do governo paulista na forma de anúncios. Nem isso foi suficiente para salvar a publicação.
A revista para a qual ele trabalha – a Veja – é abençoada com a compra de lotes consideráveis pelo governo de Alckmin.
Os exemplares vão terminar em escolas estaduais cujos alunos estão na internet. São conhecidos os relatos de gente que vê as revistas indo para o lixo exatamente como chegam – na embalagem plástica.
Alguém pode imaginar jovens lendo revistas de papel, com a internet à sua disposição? Mas o governo Alckmin gasta milhões em Vejas que não serão lidas por estudantes que sequer a conhecem.
Thomas Traumann chega com uma missão relevante: dar mais nexo ao investimento publicitário oficial.
Faz sentido a Globo – com audiência em queda aguda por conta também da internet – continuar a receber tanto dinheiro em anúncios governamentais?
A Globo é uma bizarrice. Graças ao BV (Bonificação por Volume), uma espécie de propina para as agências, a Globo tem 60% da receita publicitária brasileira tendo 20% da audiência.
Todo este dinheiro – o governo colocou 6 bilhões de reais nos últimos dez anos – alimenta uma máquina que defende os interesses dos Marinhos, dos Marinhos e ainda dos Marinhos.
E defende bem: os herdeiros de Roberto Marinho têm, juntos, a maior fortuna do Brasil, como mostra a lista de bilionários da Forbes. São cerca de 55 bilhões de dólares, somados.
Durante muito tempo, só o governo pagava tabela cheia de publicidade quando os anunciantes privados tinham descontos que podiam passar de 50%. Era uma torração infernal de dinheiro público.
Dívidas com bancos oficiais eram pagos, frequentemente, com anúncios. Nos anos 1980, o Jornal do Brasil regurgitava de anúncios do governo.
Investir no jornalismo digital é fundamental – sobretudo para a sociedade. Jango não teria sido derrubado tão fácil se na época houvesse a internet para mostrar o que os jornais não mostravam.
Teríamos evitado, simplesmente, a ditadura militar – a qual, além de matar brasileiros, construiu um país campeão mundial de desigualdade.
Os militares – apoiados pela mídia – fizeram um governo de ricos, por ricos e para ricos.
Thomas, na Secom, é a esperança de que cheguem ao fim as mamatas das empresas de mídia no que diz respeito às verbas oficiais.
Se Thomas se sair bem, mais que o governo Dilma, quem ganhará mesmo é a sociedade brasileira.
10 respostas
de momento, não temos outra opção a não ser esperar pra ver
Muitos indicadores do IBGE são utilizados em leis para a definição da destinação de verbas, como é o caso do total da população nos municípios que define quanto as cidades receberão do fundo de participação.
O IBGE tinha que ter medidores de audiência de TV’s, rádios, jornais, revistas e de sites da Internet. Nada de Ibobe e nem de GfK, poderia ser o IBGE, com estrutura nacional, com medição de audiência nacional.
A SeCom e demais instâncias governamentais teriam assim uma fonte confiável para definir suas políticas de contratação de publicidade.
Mas, isso não vai acontecer. Pena.
Pronto; tomara que esse tal[para nós desconhecido]ainda por cima com esse nome alienígena seja mesmo, tudo que nosso querido Paulo Nogueira diz ser.
Agora é tirar dona Graça; desde que ela esta presidente da nossa PETROBRÁS, todo dia, tem notícia ruim sobre nossa empresa. Desconfio que esta sendo muito chantageada ou acossada pelos alienígenas, através do braço deles por aqui: o pig.
A saída da helena chagas, pra mim, é um grande avanço, pois parecia que jogava contra. Quanto ao novo chefe da secom, é esperar para ver. Como bem aponta o Paulo Nogueira é iandmissível que a globo com sua audiência caindo, tanto na mídia impressa quanto na tv,mantenha um percentual tão grande de verbas de publicidade oficial.Se isso mudar, vai ser uma enorme conquista para nós.
Quanto ao papel da internet, acho que já foi extremamente importante nas eleições de 2010, com 2 vertentes que considero primordiais: antecipar as maldades que seriam feitas e desmascarar as que eles conseguiram plantar: não podemos esquecer do aborto da mônica serra, da bolinha de pape, só para ficar nos mais divulgados. Em 2014 não será diferente.
Agora é esperar que para o Ministério das Comunicações seja nomeado Franklin Martins, pelo menos para dar a impressão de que alguma coisa vai mudar.
que os anjos digam amém! E, de lambuja, melhorem a comunicação das estatais e dos governos estaduais, que são uma lástima. Mas penso que o melhor caminho é mesmo a adequação da distribuição das verbas de acordo com a audiência e a pulverização por diversas mídias, especialmente em cidades de médias para pequenas.
Tem que acabar com a Globo, sem dó nem piedade.
O Paulo é decente. É democrático. Sabe ouvir e responder sem agredir. É equilibrado e humano. Conhece o mal e sabe que ele pode piorar. É simples, mas não é idiota. É humilde mas sabe dizer não. Não tem medo de cara feio e não corre quando chega perto. É irmão e camarada.
Paulo
Ótimo!!
Será o início de mortal infecçao acompanhada de dor insuportavel nos bolsos dos componentes destas famílias abjectas donas da midia tradicional???
Hosana ao Thomas!!!!
Meu sobrinho, residente em Campo Grande/MS, estudante de um dos colégios de ricos, tinha, por obrigação, que ler a VEJA. Estando com a mãe dele: perguntei por que ela só lia aquele lixo. A resposta: “O colégio obriga”. Como essa instituição, quantas mais seguem essa política? Tá na cara ser política de um lado, como o é a própria revista, e se meu filho fosse, teria discutido, e até impedido meu filho de seguir esse mando autoritário.