São onze anos, hoje, da morte de Leonel Brizola.
Nunca falo em nome dele, não especulo sobre a quem estaria apoiando, se concordaria ou não com isso ou aquilo, embora tenham sido 22 anos de convívio, boa parte dele diário – ou horário, porque muitas vezes, para meu desespero e da família, então, eram várias conversas por dia.
Não tenho o direito de adivinhá-lo, mas tenho o de absorver o que vivemos juntos.
Vivíamos às turras, muito interessante esta relação, que se fazia sem submissão, mas com identidade.
Aprendi muito com o velho, além de ter aprendido com a oportunidade que ele me deu de ter vivido, no olho do furacão, duas décadas da história do meu país.
E uma das coisas mais importantes que aprendi é que as farsas se desmontam e que aquilo que não tem significado histórico o tempo destrói, rapidamente, embora não tão rápido quanto a política exige.
Aprendi, sobretudo, a não viver a angústia do ter de fazer tudo antes que a vida se esgote, porque a história é feita de camadas. E a não parar, à espera que o tempo resolva, porque ela também é feita pelo nosso sentido de urgência, porque somos homens de ação, não apenas de pensamento.
Não sinto, nem poderia sentir, falta dele pessoalmente, porque não faz falta o que está presente.
Sinto, sim, a falta que ele faz a um pais amedrontado.
De um homem que não se intimidava nunca em andar na contramão, se fosse isso que seus pensamentos e seu largo coração pampeiro o mandassem fazer.
Porque ele era uma versão gaúcha do anjo torto que desceu ao Drumond e a ele eu a Drumond repito nesta noite:
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
19 respostas
Leio e tuito seus artigos diariamente Brito, e esse em especial, serve para o momento critico que vivemos no Brasil, e para este país, a falta de Brizola é como falta de oxigenio para nós.
Saudades mesmo do velho.
Abraço
Mais cedo, no blog do Nassif, respondi a um comentarista que lamentava a falta que nos faz Nelson Rodrigues que muito mais falta nos faz Brizola. Se ele estivesse vivo e lúcido, esse circo deprimente não teria chegado ao ponto que chegou.
Precisamos, mais do que nunca, de uma alma corajosa e nacionalista. Não consigo pensar em ninguém melhor que ele.
Eterno Brizola, seu exemplo não será esquecido jamais por todos os que amam de verdade esse país. Quem dera tivéssemos alguém como ele…
O PT deve a Leonel Brizola e a toda a esquerda brasileira uma grande obra batizada com com o nome dele.
O Leonel, este homem está vivo, vivo em cada ato em defesa da Petrobras, em cada parlamentar que se levanta contra a mediocridade de um parlamento que sequer está a altura da nossa frágil democracia.
Leonel está vivo , vivo nos corações e idéias daqueles que se levantam contra o massacre idiotizante da mídia hegemônica , vendida e corrupta.
Leonel está vivo em cada nova obra que faz agigantar-se a nação brasileira. Vive Leonel.
Em tempo, 250 trabalhadores e movimentos de esquerda se manifestam na Inglaterra cntra o arrocho, Alemanha em GREVE. Treme a velha Europa a espera do desfecho grego.
Aqui o ilustre povo coloca no CN….Caiado, Agripino, Aécio, Aluysio, Feliciano e outros bichos…mas como bem disse o Fernando, camadas, história se faz em camadas….
250 mil trabalhadores…
Iskra, parabéns pelo comentário! Concordo com tudo.
Caro fbrito o que o velho nao imaginava que.No outo dia apos ua morte o pdt se atiraria nos braços da direita elitista.
Parabéns, Brito, pelo texto brilhante e pela homenagem que você faz ao Brizola, esse imenso brasileiro! Lá se vão onze anos e o Brizola continua nos guiando. Fico a imaginar o que Brizola diria do atual Congresso e do Judiciário…
Alguém terá que dizer para a Dilma tomar a bandeira do nacionalismo ( “antes que um aventureiro lance mão ” ) e não ir por onde qualquer um queira que vá :
Cântico negro
José Régio
“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Ótimo !
Realmente BRIZOLA faz uma enorme falta a nosso país.
Não temos alguém como ele no cenário político brasileiro.
A defesa dos menos favorecidos, a luta contra o grande capital especulativo, a sua verve irônica e ácida. Com ele a dar entrevistas e distribuir “tijolaços” certamente o ambiente estaria mais fluido e os rapinantes seriam mais prudentes.
Hoje não temos o contraditório do governo federal.
A Dilma se recusa a ocupar o espaço político que lhe compete e que o país necessita, caso contrário a manipulação do povo fica como “verdade” não desmentida.
É uma lástima que ainda pode nos custar muito caro.
Mas podemos dizer que nós, esquerdistas, temos lideranças que permanecem: Getúlio Vargas, Jango, Brizola, Lula e Dilma.
Todos atacados pelos mesmos protagonistas.
Lendo a “carta testamento” de Vargas fica clara, ainda hoje, a torpe espoliação do país defendida pelos entreguistas de sempre.
O PT deveria publicar – do PDT nem pensar, PTB menos ainda – agora em agosto sua carta-testamento para que as novas gerações vissem claramente que o Brasil, por sua grandeza territorial e riqueza mineral, continua sendo cobiçado pelo imperialismo ianque – Velha e sempre oportuna bandeira de Brizola.
A luta continua, companheiro !
Brito, você que esteve em companhia, por tanto tempo, de um dos grandes lideres que este país teve, nos diga, de sã consciência, se é concebível que uma nação de 200 milhões de habitantes seja guiada por um (a) líder que não discursa e que não mostra a seu povo o caminho nas horas em que a matilha de lobos de dentro e de fora tenta destroçá-lo. As forças derrotadas estão se aproveitando de um silêncio inadmissível e inexplicável da nossa principal liderança, na qual depositamos plena confiança e preenchendo o vazio com uma balburdia sem precedente, o tumulto que visa e antecede o golpe.
“E uma das coisas mais importantes que aprendi é que as farsas se desmontam e que aquilo que não tem significado histórico o tempo destrói, rapidamente, embora não tão rápido quanto a política exige.”.
Bem, já faz quase 50 anos que foi contado aquele conto sobre uns sujeitos terem ido à Lua tirar umas fotos, e que teriam feito 6 viagens em 4 anos, quase uma viagem à Lua a cada 6 meses! Atualmente ainda não há tecnologia no mundo, nem dinheiro suficiente para uma única viagem…
Fernando, já que citou Drummond, deixo aqui um de seus poemas. Para mim, um dos mais bonitos.
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Ou como você disse, não faz falta o que está presente.
Adriana,
Parabéns! Bela lembrança.
Se tivesse ido ao segundo turno em 89 teria vencido Collor e o Brasil quiça tivesse melhor sem a Globo mentirosa e manipuladora. Se eu tivesse esta percepção teria votado no Brizolla e não no Lula, porquê embora Lula tenha sido um grande Presidente, Brizola teria aniquilado este poderio da Globo. O PT foi covarde, respeitou demais.
Eterno o Caudilho !
Posso estar enganado , mas vejo no discurso nacionalista do requião algumas luzes . Gostaria que o Britto abrisse um espaço para uma entrevista com o Requião.Pra falar da sanha Capitalista e dos interesses Yankees na Petrobrás e demais assuntos do momento político. Talvez encontrar uma motivação , uma resposta para rebater o massacre midiático que o pensamento crítico vem sofrendo , o cerco midiático ,o golpismo.
Se o PT está encurralado , entendo que uma frente progressista possa vir a iluminar o atual momento.
Viva Brizola !
Por teus posts aprendi a admirar Ecce Homo.
Pois eu acho que devemos ter pressa.Pressa porque senão,a vida se esvai.Leonel de Moura Brizola é um exemplo disso,se foi quando não devia e perdeu no exílio,o que não conseguiu recuperar na sua volta.Assim como ele,muitos mais que já se foram.Por isso devemos ter pressa pois como dizem os versos,tardou,mas veio,que a quem mais merece,vir o premio,mais tarde,enquanto é tempo,ainda que vez alguma venha cedo.Penso ser de Camões,mas não lembro,mas me faz TER PRESSA.
Sejamos honestos conosco mesmos… Estou cansando de ouvir falar coisas do tipo “Ah se fosse com o Brizola…”, para criticar o modo de atuar do PT, da Dilma e até mesmo do Lula. Mas com esse “jeito Brizola de ser”, Brizola NUNCA se elegeu presidente, seu PDT virou uma sombra do que foi um dia e a última vez que Brizola concorreu a presidência chegou num humilhante quarto lugar atrás do Enéas.
Então, moçada, vamos calçar “as sandálias da humildade”, e ver que as estratégias “Brizolistas” não eram lá essa “Brastemp” que querem vender para atacar as posturas do PT, da Dilma e do Lula, porque se fossem, Brizola teria chego a presidente e o PDT não seria o que é hoje. Menos gente, menos… O PT, a Dilma e o Lula, podem ter errado, como erram todos, mas o FATO é que, com erros e acertos, conseguiram alcançar muito mais do que os “modelos de atuação” que alguns querem usar para criticá-los.