A abominável hipocrisia diante da violência nos estádios

 

O mestre Janio de Freitas – sempre ele – é quem tem a coragem de sangrar a ferida da hipocrisia que há muitos anos acompanha os  repetidos e repetidos episódios de violência entre torcidas de futebol.

A mídia – sobretudo a imprensa esportiva, onde comecei minha carreira – os chama de bandidos, de vândalos, mas não se empenha numa campanha, como deveria ser seu papel, de apontar suas ligações com o “negócio” do futebol, do qual se nutrem. E não se culpe todos os repórteres: um setorista de clube que se meter a apurar e publicar o que se passa nestes subterrâneos vai, com certeza, arruinar sua capacidade de falar do lado esportivo, pois será boicotado e bloqueado em tudo.

Disso, Janio fala com o talento que há sempre de me faltar, diante dele.

Mas quero acrescentar algo em que o mestre não toca.

O papel vergonhoso do Ministério Público diante destes acontecimentos monstruosos.

Interditar o estádio é como a velha história de “tirar o sofá da sala”.

Vetar a presença da força policial pública num espetáculo que é público – ainda que explorado privadamente – é mais que uma imprudência, é omissão.

A nota do Ministério Público de Santa Catarina é um acinte de “privatismo”: ““Caberia aos promotores do evento, no caso os representantes do Atlético Paranaense, a contratação de segurança privada para a atuação nas áreas não acessíveis ao público, bem como para a formação e/ou vigilância da barreira que deveria dividir as torcidas”.

Ora, suas excelências só podem estar no mundo da lua, para dizer o mínimo. Cabe ao Estado prevenir confrontos que não são apenas possíveis, mas previsíveis num jogo de futebol, ainda mais um decisivo. Há vidas, integridade física e regras de convívio humanos expostas a risco evidente.

O correto é que paguem ao Estado, formalmente,  por um policiamento nos pontos sensíveis, oque jamais poderá ser feito apenas por empresas privadas de segurança, no que, aliás, há muitos interesses, inclusive da hierarquia policial, frequentemente “empresária” encoberta. No resto, sim,  pessoal privado, pago por eles.

Afinal, todos – inclusive a TV – lucram com o negócio do futebol, podem perfeitamente arcar com os custos necessários.

Qualquer um que tenha assistido as cenas dantescas da briga no Paraná vê que, houvesse uma dúzia de policiais militares de cada lado do folgadíssimo espaço que separava as duas torcidas, nada de grave teria acontecido. Não houve no “palco” da briga nada que se pudesse dizer que tornasse, ao menos ali, as condições do estádio impróprias ao espetáculo.

Mas já escrevi muito. Janio de Freitas, de novo, faz isso com mais propriedade.

Em volta das arquibancadas

 Janio de Freitas
A grita em tantas direções não evita que seja difícil, senão impossível, encontrar entre os gritadores um que não seja corresponsável, em alguma medida, pelo espetáculo das bestas humanas nas arquibancadas de Joinville, e em todas as outras.

Já que estamos por aqui, podemos começar pelos meios de comunicação. Nenhum jornal, TV, revista ou rádio se interessou, jamais, por encarar para valer a violência que invadiu os estádios, no Brasil todo, há muito tempo. Assim como os bestalhões cometem periodicamente os seus acessos de brutalidade aproveitando o futebol, a imprensa (vá lá, engloba tudo) faz o seu surto de críticas como subsidiário do espetáculo boçal. E logo se segue a pausa, a imprensa à espera da clarinada dos boçais.

Na imprensa, poucos não sabem que muitos dos bandos são patrocinados com doações dos respectivos clubes, a pretexto de torcida para incentivo ao time. E que o patrocínio tem duplo interesse eleitoreiro, nas disputas pelo poder no clube e nas eleições político-partidárias: há muitos cabos eleitorais nas torcidas organizadas. É uma engrenagem bastante conhecida.

Se a engrenagem cria um enguiço maior, nem por isso a gritaria subsidiária avançará necessariamente mais. O episódio da Bolívia é exemplar. De repente foi “descoberto” lá no litoral paulista um “dimenor” apresentado como disparador do rojão sobre torcedores bolivianos, com a consequência de matar um menino de 14 anos. À família da vítima foi dado, não uma indenização, mas um cala a boca monetário, como complemento da “solução” incumbida a uma charmosa advogada e comentarista de jornal da TV Cultura. Ali o bando de boçais pouco se distinguiu de um grupo de querubins.

Se antes o assunto estava em estado mortiço, a “solução” cobriu-o de silêncio. Nem com tantos jornais, TVs, revistas e rádios, houve uma iniciativa de verificar se o “dimenor” ao menos viajou mesmo para a Bolívia, que algum rastro ficaria. Por falar nele, em que condições vivem, hoje, o próprio e sua família?

A legislação para o problema é uma grande farsa. Foi elaborada mais com interesses políticos do que para regramento efetivo. A chamada Justiça Esportiva não tem como coibir a ferocidade nas arquibancadas, mas finge ter, com medidas idiotas como “o jogo com fechamento dos portões” e a perda de mando de campo, que punem os futuros times adversários do time “punido”. Mas assim se cumpre o objetivo dos mandatários do futebol, de não criarem problemas políticos e eleitorais para si e para seus correligionários.

E as autoridades da ordem? A Polícia Civil de São Paulo mostrou ontem o que é um verdadeiro trabalho policial. Prendeu duas dezenas de desordeiros e ladrões que investigou desde outubro, quando a morte de um menino por tiro policial serviu de pretexto para a interrupção da rodovia Fernão Dias, roubo de cargas e de caminhões, saques a lojas e incêndios de ônibus. Foi investigação, foi infiltração, foram interrogatórios, com um resultado que, por certo, irá além desse episódio: vai atemorizar muitos dos que têm feito tais ações sem dificuldade no ato e no pós-ato.

O trabalho excelente nesse caso demonstra que é possível identificar, prender e processar a quase totalidade dos criminosos das arquibancadas, e não só dois ou três como é feito, quando é feito. O que demonstra, também, que se não é feito é porque os governantes estaduais não querem e os setores que lhes podem cobrar não os cobram de verdade, não os põem xeque.

A gritaria tem razão de ser. Mas é também contra si mesma.

Fernando Brito:

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  • Há muito tempo eu assistia a uma mesa redonda, destas que se comentavam os bastidores dos jogos de domingo quando alguns jornalistas cantavam loas ao surgimento das torcidas organizadas. Um outro, calado se contorcia na cadeira, de cara feia como se estivesse incomodado com o ouvia. Até que foi interpelado: Oh João, parece que você não concorda!
    Resposta do João: Ou acabem logo no início com estas torcidas organizadas ou elas ainda acabarão o futebol brasileiro.
    Grande João Saldanha.

  • ENQUANTO A GLOBO FATURA HORRORES COM O FUTEBOL,OS TIMES ESTÄO EM ESTADO DE PENURIA FINANCEIRA E ELA FINGE QUE NÄO TEM NADA COM ISSO.MAS, DESCE O CACETE NOS JORNAIS E TELEJORNAIS.VAMOS MORRER DE INVEJA DA CRISTINA KIRCHENER,ELA TEM A RECEITA.FALTA SACO ROXO NESSE PAIS PARA ENFRENTAR A GLOBO E SEUS ASSECLAS.

  • A gente sabe, e talvez o MP tenha esquecido, de que segurança privada não tem poder de polícia. Num confronto, não pode atirar bombas de gás, balas de borracha ou descer o cassetete, tudo isso objetivando exclusivamente dispersar o confronto. A segurança privada muito menos pode algemar e prender temporariamente ninguém.

    Então, o correto são os responsáveis pelo evento pagar ao Estado, pela locação das forças policiais num evento desses. Seria um hábito novo, mas como o MP quer inovar ao fazer os clubes arcar com as despesas de segurança, ressarcir o Estado pela locação das forças policiais seria o mais correto.

    Para mim, no fundo, o que o MP quis ele conseguiu: Fragilizou a segurança de um evento esportivo e de futebol para atingir o governo. Tucanisse pura. Estamos fritos!

    • O procurador do MP deve viver realmente no mundo da lua. Vocês o viram com uma gravatinha borboleta? Cara de maluco.

      Torcedores só tomarão jeito quando os cubes forem realmente punidos. Imaginem se perdessem pontos, suficientes para serem rebaixados. Na próxima vez, o próprio torcedor impediria o colega de brigar.

  • Mas não é interessante que só na última rodada do campeonato a globo e seus funcionários patéticos mostraram indignação com o ocorrido? Em brasília Corinthianos, bandidos que estavam presos em Oruro e Vascaínos mais bandidos ainda já haviam promovido esse circo de horrores, e ficou por isso.

  • Pela cenas que vi, não foi um arrastão de uma gang contra cidadãos inocentes. Quem estava ali é porque era brigão mesmo. Ora, se eles querem se matar, façam um circulo em torno deles e deixem-nos se matarem e protejam os cidadãos de bem que foram assistir ao evento.
    Aqui em Minas tem essas turmas que vão ao estádio para se provocarem e se tiver oportunidade, ferir alguém. Ficam se ofendendo e a polícia ali no meio impedindo. Já cansou isso. Cuidem dos cidadãos de bem e deixem essas bestas feras se matarem.

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