Uma das melhores coisas dos jornais de hoje, além de ver a tucanagem cair no ridículo e facilitar a vida de Dilma Rousseff com sua estúpida e extemporânea “denúncia” de fraude eleitoral, é a entrevista do filósofo Paulo Eduardo Arantes, professor aposentado da USP (Universidade de São Paulo), na Folha de S. Paulo.
Com o perdão de alguns que possam ter se iludido pelas falsas semelhanças com a esquerda – afinal, nós, da esquerda, gostamos de rua, de manifestação e de juventude – Arantes vai ao ponto: as “jornadas de junho” foram o parto de uma nova direita no Brasil.
Arantes identifica ali a eclosão social de uma nova força, semelhante ao neoconservadorismo americano – cuja versão mais explícita é o “tea party”.
Uma direita que “não está mais interessada em constituir maiorias de governo. Está interessada em impedir que aconteçam governos. Não quer constituir políticas no Legislativo e ignora o voto do eleitor médio. Ela não precisa de voto porque está sendo financiada diretamente pelas grandes corporações”
Seus integrantes, com o estererótipo do “branco bem sucedido” – onde mais significativo que a chapinha ou a tintura loura é a vaga noção de superioridade congênita – podem, diz o professor “”se dar ao luxo de ter posições nítidas e inegociáveis. E partem para cima, tornando impossível qualquer mudança de status quo.”
Historicamente – e aqui quem se aventura na explicação sou eu – nada de novo.
Igualmente a UDN nasceu de uma pequena burguesia que se afirmou como fruto do Brasil urbanizado e modernizado que vinha da Era Vargas. E reunia tanto as senhoras da TFP quanto alguns “sonháticos”que se vestiam da pureza virginal do moralismo.
Há outras considerações na entrevista de Arantes – cuja leitura recomendo. Uma das mais brilhantes, a meu ver é a que fala da sofreguidão que a ascensão social imprimiu numa parcela expressiva desta classe média muito mais consumidora que cidadã: “desaprendemos a esperar. Isso é que mudou”.
É bom que nos acostumemos: isso não vai desaparecer. Ao contrário, esta direita negadora da política – e, portanto, das mudanças reais – vai continuar existindo.
De um lado, a sua face mais grosseira – os Telhada, Bolsonaros, Malafaias, pedindo um Estado repressor de hábitos e, sobretudo, de mudanças de hábitos sociais cujos protagonistas, com igual sofreguidão, não percebem que estão acontecendo e, ao radicalizá-las de forma vazia, alimentam sua reação.
Mas de outro, muito mais perigoso, a de uma parcela da classe média e média-alta que quer, na política, apenas que o Estado encolha, suma, desapareça quase – exceto como provedor de “segurança” – porque não admite o caminho para um país igualitário que lhes roube a – às vezes recém conquistada – condição de elite.
Ou melhor: de sub-elite, crua, inculta, vazia e, pior, má e desumana como a da colônia.
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Já mandei um recado para o Aecinico... GENTE, A DERROTA QUE DÓI MENOS...!!!!!
Correção ACEITA QUE DÓI MENOS...!!!!
Por falta de capacidade de sintetização ou mesmo na falta de canais de expressão muitas pessoas não se manifestaram sobre as ditas jornada de junho... Mas a verdade aqui em Florianópolis e parte de Santa Catarina é que elas foram convocadas pela RBS e seus " colonistas" , e também afiançadas
pelo chefe da Polícia Militar que não poupou esforços para Não impedir o fechamento das pontes da cidade, coisa que nunca se foi permitido aos movimentos populares nas passeatas e manifestações...
Do pó viestes, ao pó retornarás. Gênesis 3.19.
O PSDB está com a estratégia do ladrão batedor de carteira que sai gritando para disfarçar: "pega ladrão"!.
Boa José, é bem isto. Pena que não temos uma Justiça que prenda Tucanos, caso contrário, com as fraudes já levantadas pela blogosfera LIMPA -esta história de sujo, não é justo, porque Suja é esta Mídia Lamacenta- teríamos já em fase de licença pelo IBAMA, um lote grande de Tucanos encaminhando-se para as gaiolas.
A indústria da droga está de luto. A possibilidade da "não expansão das drogas no país", isto sim, DÓI... e DÓI MUITO!!
Quem viu o discurso de Aécio no pós-derrota nas urnas só ratifica o que dele tanto se tem falado: que é incoerente, cínico, dissimulado, e mentiroso.
É.... meu camarada, "quem sabe faz a hora, não espera acontecer..."
O Brasil se livrou da mexicanizaçao, da implantação da mais radical guerra às drogas, de falsas bandeiras, que proporcionaria o ambiente de radical controle social policial, com muita morte e medo, sob o discurso mais conservador. Graças a Deus e ao voto no PT nos livramos deste mal crônico e de dificil remoção depois de implantado.
Como eu sempre disse, essas jornadas de junho tinham nada de esquerda ou progressista. Talvez no começo com o MPL, depois o movimento foi sequestrado pela turminha anti-partidária.
E saber que muita gente da esquerda comprou esse discurso de mudança que não quer mudança nenhuma. Há que acredite que Jabour mudou o discurso devido ao medo que a Globo tinha das ruas (pausa para o riso), mas no fundo ele mudou o discurso por ordem da Globo.
É a galera da mudança que apostou em Marina e Aécio. Mal sabem eles que a mudança começou em 2003 com Lula ... ou ... não querem saber mesmo.
Eles não querem é o povo no poder, preferem os ratos que foram alijados por LULA em 2003.
Na minha opinião, seguindo o mesmo roteiro que a CIA traçou após a eleição de Maduro na Venezuela, o primeiro passo é questionar publicamente o resultado das urnas. Assim também fizeram os derrotados pelo atual Presidente da Venezuela. Os próximos passos todos já sabem, manifestações com gente paga (como na Ucrânia), falsos protestos, complôs, ameaças de golpe, passeatas tipo TFP e até assassinato de apoiadores mais ativos da Presidenta eleita, como fizeram na Venezuela com Robert Serra (o Serra do bem). A Presidenta Dilma e o ex-Presidente Lula precisam redobrar suas seguranças pois a tucanalha é capaz de tudo.
Os derrotados nas urnas não suportam o fato de o PT ser o único partido político do Brasil a ganhar 4 eleições consecutivas.
Vi, em parte,na TV por assinatura, um filme chamado Marcado, uma ficção do futuro próximo. Como havia nele referências de toda essa massaroca cultural pela qual passamos aqui e agora, resolvi buscar uma crítica e acabei na crítica do Wilson Ferreira, o crítico que já fez vários textos sobre as bombas semióticas jogadas no cenário político, incluindo as chamadas manifestações com black blocs. O texto começa falando de uma ficção distópica, já não lembrava o que exatamente a palavra queria dizer. Achei um outro texto que faz um apanhado da literatura e do cinema com suas várias visões distópicas, listando cada tipo de distopia na nossa pobre formação social. Bem interessante e ilustrativo. Ah, voltando, o texto do Wilson é muito bom.