Notas nos jornais adiantam que o presidente da Anvisa, vice-almirante Antônio Barra Torres, dirá hoje que é a médica Nise Yamaguchi a autora ou inspiradora da minuta de decreto que incluía na bula da hidroxicloroquina a indicação de seu uso para Covid-19.
A médica, figurinha fácil no Palácio do Planalto não é, porém, a origem desta história.
Ela trabalha sob a inspiração de Vladimir Zelenko, ucraniano radicado nos Estados Unidos e que promove e é promovido por grupos de ultradireita daquele pais. Zelenko era, até tornar-se celebridade, médico de família de uma comunidade judaica ortodoxa, chamada Kiryas Joel, que fica a uma hora da cidade de Nova York.
Zelenko foi “entrevistado” por Rudolph Giuliani, advogado de Donald Trump que viria a ser, recentemente, protagonista das tentativas de anulação das eleições. Em dois dias, ainda que indiretamente, Zelenko passou a ser o grande estrategista das orientações da Casa Branca em “terapêutica” da Covid, embora o chefe da Comissão de Controle de Doenças Infecciosas dos EUA e um dos mais renomados infectologistas do mundo, Anthony Fauci, chamasse as supostas “evidências” apresentadas por ele de “anedóticas”.
O suposto tratamento de Zelenko não chegou ao governo brasileiro por Yamaguchi, mas por Donald Trump, que , aliás, contraiu a doença depois de dizer que tomava cloroquina preventivamente e mas não a usou durante sua internação.
Ela e outros apenas agregaram-se e deram “cara” a uma “receita” que chegou através dos grupos de conexão com a extrema-direita norte-americana comandado pelos filhos de Bolsonaro e outros “olavistas”.
Barra Torres sabe disso e será bom que os senadores lhe perguntem qual foi o fato que o afastou da condição de seguidor incondicional ao presidente da República, ao qual acompanhava fielmente há anos, chegando a participar, em março do ano passado, de uma aglomeração promovida por ele às portas do Palácio do Planalto (na foto, ainda sem barba, aqui). Foi a Covid, que contraiu dois meses depois ou a decepção de não ter ocupado a vaga de Luiz Henrique Mandetta no Ministério, para a qual chegou a ser um dos favoritos.
Este é o caminho correto para a CPI hoje, não a discussão sobre a eficácia e segurança da Sputnik V, sobre a qual não há capacidade técnica para discutir-se ali.
A CPI é política e é na política que se tem o caminho de revelação da verdade.