A colheita da subversão bolsonarista

Não é apenas um episódio. Não é apenas uma excentricidade. Não é apenas uma “treta”.

Em seguida à convocação de um coronel da reserva, hoje “chefão” dos revendedores de alimentos e caminhoneiros que operam a Ceagesp convocar PMs para o ato bolsonarista de Sete de Setembro levando a bandeira de suas unidades, militares, o Estadão revela agora que outro coronel, este da ativa, que tem 5 mil soldados sob seu comando em sete batalhões da região de Sorocaba, faz o mesmo.

O coronel Aleksander Lacerda deixa claro nas redes sociais o que pede:

“Nenhum liberal de talco no bumbum” consegue “derrubar a hegemonia esquerdista no Brasil”. “Precisamos de um tanque, não de um carrinho de sorvete”.

Ainda que não tivesse tão explicito o golpismo, uma pessoa que, em 22 dias de agosto veicula nas redes sociais, segundo registrou o jornal, 397 publicações de caráter político e partidário, não é um militar, é um militante.

Na reportagem, a nota da PM paulista é de uma covardia absoluta, ao dizer apenas que o assunto “passa por análise criteriosa da Corregedoria” e que publicações que “atentarem contra as normas vigentes e tomarem contornos de ilegalidade, serão punidas com rigor”.

Organizações militares, é obvio, não são disciplinadas assim. Afastar um comandante é uma decisão administrativa, não judicial e, portanto, sujeita ao longo processo do contraditório.

A semente da indisciplina e a da sublevação germinam rápido e não ficam esperando os mimimis sobre isso ou aquilo. Jair Bolsonaro as está jogando aos chãos dos quartéis faz tempo e, agora, espera a sua colheita.

O coronel Lacerda já devia estar, neste momento, afastado de suas funções e, como se dizia antigamente, recolhido ao alojamento dos oficiais.

Hierarquia e disciplina militares é algo com que não se transige, porque, do contrário, na linguagem que policiais entendem, “a cobra cria asas”.

A PM de São Paulo passou, em tempos recentes, a dar sinais de que a política a está desorganizando e as punições ao massacre de Paraisópolis criaram uma crise que levou até à substituição do seu comando.

O Secretário de Segurança Pública de São Paulo, João Camilo Pires de Campos, é um general do Exército Brasileiro, que foi comandante militar do Sudeste e instrutor de gerações de oficiais -generais da Arma. Não parece que fosse assim que instruía seus comandados sobre os limites da disciplina.

É bom que os militares vejam que, não demora, não será um coronel da PM, mas do Exército, que fará o mesmo.

PS. Enquanto escrevia, a PM anunciou o afastamento do coronel de seu comando e a sua convocação para “esclarecimentos”.

 

Fernando Brito:
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