A continência à ‘Stars and Stripes’ não é mais uma metáfora

A anunciada indicação do general brasileiro Alcides Farias Jr. para integrar, como subcomandante, o Comando Sul do Exército dos Estados Unidos é a inimaginável consequência da grotesca cena de Jair Bolsonaro prestar continência à Stars and Stripes, a bandeira norte americana, numa churrascaria da Flórida.

É a capitulação do Exército Brasileiro diante da estúpida política de sabujismo para com o governo Trump adotada em nosso país.

Maria Cristina Fernandes, em artigo publicado hoje no Valor, produz uma das melhores análises deste absurdo, começando por questionar a que cadeia de comando o general brasileiro se reportará, no caso de uma ação militar unilateral dos EUA sobre a Venezuela: Se o Pentágono enviar a ordem para o Forte San Houston, o que deverá fazer o general brasileiro? Interromperá a cadeia de comando que passou a integrar ou cumprirá as diretrizes da ação militar do Pentágono? Uma pista é saber quem pagará seu salário, mas não há nem mesmo um acordo público, ou designação já publicada no Diário Oficial, para saber se a tarefa caberá ao governo brasileiro ou americano.

Selecionei um trecho, para quem não puder ler na íntegra, como o texto merece:

A pergunta que se faz é por que o Brasil deveria ser sócio desta aventura. A barreira que se ergue na Ásia, na África e no Oriente Médio a uma ação militar na Venezuela congrega alguns dos maiores parceiros comerciais e diplomáticos brasileiros. O engajamento na ofensiva confronta os interesses comerciais brasileiros e contraria alguns dos mais estabelecidos princípios da doutrina diplomática e militar do país. Dá asas à ameaça de as grandes potências mundiais balcanizarem a América Latina disputando aliados e jogando uns contra os outros.
Até aqui, as pretensões de alinhamento do governo Jair Bolsonaro com os Estados Unidos foram lideradas pelo chanceler Ernesto Araújo, que recebeu o almirante [Craig] Faller no Palácio do Itamaraty três dias depois de sua exposição aos senadores americanos do feito de engajar o Brasil à sua tropa de comando. As Forças Armadas, a despeito dos sinais de arrefecido nacionalismo, patente na abertura à venda da Embraer, por exemplo, ainda se mantinham como um anteparo às trampolinagens do chanceler.
Todos os militares da ativa e da reserva que hoje ocupam postos de comando no governo Bolsonaro foram alunos aplicados das doutrinas da defesa nacional mas a era Jair Bolsonaro no poder liberou os instintos mais primitivos. Tem comandante que faz curso nos Estados Unidos e volta com um minibroche da bandeira americana na farda. E outro que toma posse exaltando a parceria com os Estados Unidos em “três guerras”, a 1ª Guerra Mundial, a 2ª, e a guerra fria.
A formalização da ida do general para o Texas demonstra que se o alinhamento não nasceu na Defesa já não encontra entre os militares a mesma resistência. Parece uma eternidade, mas há menos de cinco anos, generais brasileiros ainda recusavam convites de escolas militares. Preferiam repassá-los a civis a ver seus oficiais disputando lugar nas filas de latinoamericanos fardados a esperar o ticket-alimentação das escolas.

 

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21 respostas

  1. Até o mundo mineral sabe que seria catastrófico para a economia do Brasil se países como China e Rússia cancelarem a compra de grãos da safra brasileira e TODOS os países árabes cancelarem a compra da carne bovina e suína. Será que não há na cúpula militar das 3 armas alguém que consiga ligar 2 neurônios e perceber (a tempo de evitar) essa molecagem diplomática e subordinação humilhante ao Brasil?

      1. Descem, sim! Não invente coisas! Quando eu estive no exército, dois coronéis, numa bela manhã, desceram as escadas externas do prédio falando, sua criatura maldosa. Começaram a falar animadamente um pouco antes de iniciarem a descida. De repente, poucos degraus abaixo, rolaram pela escada. Um morreu, o outro ficou inválido. Alguém havia removido a plaquinha que proibia descer as escadas falando. Nunca se soube quem foi. Algum desafeto, com certeza. Mas, eles desceram.

    1. Cada um por si. O que importa para esses golpistas é a aposentadoria, a pensão e a conta no paraíso fiscal garantidas.

  2. Não haveria uma base jurídica para se contestar esta rendição das forças armadas brasileiras a um país estrangeiro? Pelo menos no Direito Internacional?

  3. E pensar que tem gente que tem medo do comunismo.
    Comparado com o que se projeta para o Brasil, mesmo o pior momento do comunismo será fichinha.

  4. Quando o poder estava no eixo EUA-Europa Ocidental após a queda do Muro de Berlim, houve a tão saudada “globalização”.

    Só que a China também entrou na festa e ficou “fortinha”. Agora também faz parcerias com a Rússia.

    Então a saudada “globalização” dos neoliberais degradou-se para o demonizado “globalismo” dos olavetes e populistas de direita mundo afora.

    Países estão de saco cheio com a interferência americana no mercado financeiro, impondo sanções a seu bel-prazer, o que tem acelerado as discussões sobre a substituição do dólar nas transações.

    Ao invés do Brasil botar as barbas de molho, age com imprudência e sabujismo.

    1. Desculpe,não acho imprudência é SABUJISMO.Os primatas ainda se encontram na década de 50/60.
      Dizer que acontecerá uma multipolaridade a partir do crescimento da China e o ressurgimento da Rusia para nos alinhar com o IMPÉRIO YANQUEE FDP é SABUJISMO.
      QUEM É QUE DEU PODER PRA VCS FAZER A ESCOLHA PELOS SEUS DONOS ??????
      Porque “estrategistas” militares .não aproveitamos a chance do mundo multipolar que vcs prevêm e nos alçamos ao menos como liderança forte na América Latina?????
      O CÉREBRO LIMITADO NÃO PERMITE TAIS PROJEÇÕES.

      1. O sabujismo não se discute, ele realmente existe. Mas há também a imprudência.

        O teatro de batalhas durante a “Guerra Fria” não se deu nas duas superpotências da época, mas nos países de segunda linha.

        Mesmo que não exista uma batalha de fato, com tiros e tudo, nossa economia pode ficar muito danificada.

  5. Submissão. O palermão só é valente contra minorias. Nosso futuro é ser bucha de canhão. Desindustrializados, seremos uma vasta plantation, com legiões de escravos trabalhando por um prato de comida. Os que sobrarem vão dirigir uber para os neo-sinhozinhos.

  6. Inacreditável. Inaceitável. Incrível.
    Nem o congresso foi consultado. Acho que nem o congresso dominado pelo medo do bolsonaro aprovaria esta aberração. È incompatível com nossa constituição.
    E a soberania?
    Que desastre! Que deasatre!!

  7. Humilhação, escravidão e morte é o que espera um povo dominado por forças estrangeiras.
    Submissão mansa das forças armadas a Donald Trump é particularmente humilhante. Se exigir bravura seria demais, esperava-se ao menos a dignidade de não se prestar ao papel de capacho do imperador decadente.

  8. Isso é traição à pátria. Estão aderindo e subordinando-se ao comando militar de potência estrangeira neo-colonialista.
    Tem que submetê-los à corte marcial por traição à pátria.
    No país ao qual estão se submetendo seriam condemados à morte.

  9. Será que nossas forças armadas são nossas mesmo? Há muito tempo já digo que as forças armadas (no diminutivo mesmo) não é brasileira faz tempo.

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