A CPI do teatrinho

Os R$ 30 bilhões em valor de mercado que Jair Bolsonaro disse que a Petrobras perderia com a CPI que o governo iria abrir continuam lá e os seus acionistas até ganharam um tico com a pequena alta das ações da empresa.

Já bem cedo escrevi que isso seria como a famosa “Batalha de Itararé”, a que nunca aconteceu, mas seria terrível.

Era tudo conversa para que Bolsonaro atirasse a responsabilidade pelo aumento de preços sobre a empresa e posasse de Capitão Abaixa Preço, embora preço nenhum vá baixar tão cedo, especialmente o do óleo diesel.

Arthur Lira e Ciro Nogueira, que gritavam pela CPI (o presidente da Câmara falava até em saber onde se hospedavam e a que restaurantes iam os diretores da empresa!), agora ronronam como gatinhos. É só a oposição que vai ficar pedindo investigação, aliás, inutilmente.

Quem, com a melhor das ironias, explica o porquê é Helena Chagas, n’Os Divergentes:

Já imaginaram ouvir, com transmissão em tempo real, os depoimentos de integrantes da atual diretoria da Petrobras, escorraçada por Bolsonaro e Lira, e das duas anteriores, defenestradas de forma absolutamente deselegante? Pois é isso que acontecerá se houver CPI destinada a “apurar” os aumentos de preços dos combustíveis, como anunciado.
Mesmo com maioria governista, não dá para ter CPI sem que ela convoque os dirigentes da estatal – e vai ser difícil achar algum, entre eles, que não terá revelações no mínimo constrangedoras para o atual governo a fazer. Os ex-presidentes da Petrobras poderão, isso sim, contar as repetidas vezes em que foram pressionados por integrantes do governo – e pelo próprio Bolsonaro – para segurar aumentos de preços e outras coisinhas mais.
Haverá, inclusive, gravações dessas ameaças, produzidas legalmente nas reuniões de diretoria da companhia. E quando eles resolverem falar sobre outros assuntos, como patrocínio a amigos bolsonaristas com recursos da estatal e nomeações do Centrão? As sessões da CPI da Petrobras, que devem ocorrer ao longo da campanha eleitoral, serão, sem dúvida, sucesso absoluto de público e de crítica, certamente superando a midiática CPI da Covid.

Pois é, não vai rolar, porque se desmontaria a óbvia pantomima que faz Bolsonaro vociferando contra os efeitos de um política de preços que ele nunca moveu uma palha para mudar e nem o fará.

Mas, pensando bem, talvez acabe mesmo tendo uma CPI da Petrobras. Depois de outubro.

Fernando Brito:
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