A desculpa de Cunha não é cômica, é tragicômica

As “explicações” de Eduardo Cunha sobre as contas na Suíça, publicadas nos jornais de hoje, são dolorosamente ridículas.

Diz a Folha: “O deputado disse aos colegas que foi questionado na CPI se era titular de contas e diz que isso ele não é, porque elas foram registradas por empresas que abriu fora do país.”

Tradução: “as contas não eram minhas, meu era só o dinheiro”…

Chegamos a um ponto de mediocridade em que, tivéssemos um parlamento digno de seu papel, os deputados se voltariam de costas para seu presidente, para que este fosse obrigado a ver que não tem condições morais de dirigir a instituição.

Janio de Freitas, na Folga de hoje, faz um balanço do que, infelizmente, vai decidir o destino de Eduardo Cunha á frente do parlamento: as provas judiciais.

O efeito não é o mesmo, porque arrasta. se já não levou, a instituição legislativa para o buraco de uma cumplicidade que o veterano observador da  política brasileira poderia traduzir num trocadilho sobre o velho bordão humorísticco: “É, mas quem não sou?”

Outras contas

Janio de Freitas, na Folha (trechos)

Audácia e astúcia –eis Eduardo Cunha. É ele mesmo, em pessoa, a explicação para a tão difundida curiosidade sobre o desfecho do seu caso no Conselho de Ética. Ou, mais ainda, sobre o desempenho do próprio naqueles circunstâncias.

Eduardo Cunha já disse que provará não haver mentido à CPI da Petrobras, como alegado por proponentes da cassação do seu mandato, com base nas contas suíças do deputado. O mais provável argumento mágico que usará é o de que afirmou à CPI não ter contas do exterior. E as contas mandadas pelos suíços têm nomes de fantasia, ou “empresariais”, não o seu. Ainda que não se desconecte das contas, cujos registros têm sua assinatura, pode contestar o motivo da acusação.

Mas, entre a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, é indiferente o que se passe no Conselho de Ética. O interesse está, acima das delações verbais, em um levantamento contábil do “recebido e a receber” que Fernando Soares, o Baiano, diz ter recebido de Eduardo Cunha como cópia, em e-mail, da contabilidade das transações de ambos com terceiros. Esta é tida como uma das mais importantes delações e a mais forte referente a Eduardo Cunha.

(…)

Nem toda a importância que as contas ilegais no exterior adquiriram, para a opinião pública e a política, foi capaz de fazer a oposição na Câmara tratá-las pela ótica do conveniente ao país. O projeto de lei para atrair de volta esse dinheirão, desde que não proveniente de ilicitudes, sofreu duplo boicote de deputados, por integrar as medidas propostas pelo governo.

A tentativa de acordo para a pronta votação do projeto, feita por vários ministros e deputados governistas, encontrou a oposição com a ideia de protelar a votação e, portanto, a lei e o retorno do dinheiro. A alternativa ficou clara: a disputa a todo risco.

O relator do projeto, Manoel Júnior, paraibano do PMDB, incluiu variadas formas de proteção a criminosos financeiros. Até a importação sem pagamento dos impostos devidos, que em português razoável é o velho contrabando, entrou no projeto. Aliás, como contrabando de Manoel Júnior.

Fernando Brito:

View Comments (8)

  • Troll profissional da direita recebe por produtividade -comentário postado- ou por hora de trabalho?

  • "Chegamos a um ponto de mediocridade em que, tivéssemos um parlamento digno de seu papel, os deputados se voltariam de costas para seu presidente"
    Acontece que os deputados e senadores deveriam ser representantes do povo como reza a regra da democracia representativa.
    O que se vê na sua maioria são deputados que se comportam como representantes de si mesmo e da sua turma. Não existe essa história inventada de "votar de acordo co a minha consciência". Os representantes do povo deveriam votar de acordo com a consciência da maioria de seus eleitores. Ao aceitar Kunha e chamá-lo de presidente e de V. excia. traem a delegação a eles conferida.
    e.t. "Janio de Freitas, na ....Folga.... de hoje, faz um balanço" está correto! folga, rolha, falha são muito mais representativos do que o nome comercial.

  • Que droga de país é esse? Definitivamente os políticos que defendem o Cunha são tão meliantes como ele. O país da decepção. Esse é o nosso país que a presidenta diz ser "Republicano". Para quem, cara pálida?

  • Vcs acreditam que eu já imaginava q era essa a resposta que ele daria? Como não pode mais negar ele iria dizer alguma atrocidade como esta.

  • Antigamente, havia um ditado que dizia que a mentira tem pernas curtas. Hoje mudou. A mentira tem várias pernas curtas. Virou uma centopeia. Como em Eduardo Cunha ou com a história dos grampos na PF paranaense. É a nova mentira, de várias pernas, várias interpretações. Todas ridículas.

  • Seria o mesmo que um assassino declarar que não foi ele, mas o revólver que matou a vítima.

  • Tolo é quem acredita que a bandalheira explícita não tira credibilidade e, consequentemente, poder. Apenas pela evolução dos acontecimentos em redor do Cunha, a estatura moral do Congresso se esvai e a instituição transforma-se em cruel anedota. Cunha está a afundar em pântano de areia movediça. E quem se aproximar para tentar tirá-lo será tragado com ele. Pelo visto, todo o Congresso ameaça ir junto para o fundo do pântano.

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