Ontem à noite, vi no Facebook, a mensagem de meu velho e sábio professor Nilson Lage, há 79 anos vendo a história passar sob os olhos.
“De Delenda Cartago a Pão, Paz e Liberdade, movimentos de massa supõem objetivos concretos e abrangentes. “Em defesa da Petrobrás”.e “Abaixo a corrupção” não me parecem ser o caso.”
Ruminei, ruminei e, mesmo sob o impacto surpreendente das manifestações de hoje, acho que ele tem razão.
É preciso estabelecer um foco naquilo que desejamos e que é, afinal, a fonte de tudo o que estamos passando, já que é preciso praticar a “realpolitik” eleitoral, tal como a que ela é hoje: dinheiro.
Este, para mim, é o foco que devemos adotar, a extirpação do financiamento privado das campanhas, algo que, a esta altura, quase todos podem entender.
Que o dinheiro, mesmo dado de forma legal, representa uma corrupção, senão venal e material, ao menos moral.
É preciso que se traduza o “reforma política” em algo que a população possa entender e identificar.
Proibição de dinheiro de empresas nas campanhas.
É algo que nos separe, como somos separados, do poder econômico, ainda que seja o circunstancial, por estarmos no Governo.
Mas que traduz, de forma clara, qual a nossa relação com dinheiro.
Que é o veneno da política.
Hoje, no Correio do Povo, jornal gaúcho, o professor Juremir Machado de Silva traduz isso de forma simples:
(…)por que alguém gasta R$ 3 milhões para obter um emprego (de deputado) que não paga oficialmente o suficiente para se recuperar em 48 meses de trabalho metade do investido? Resposta pretensamente sábia: o poder compensa.”
Seu texto é para ser lido e compartilhado, porque é claro e vai ao ponto do que devemos pensar como ponto essencial do que queremos levantar como bandeira política, ue torne clara nossa relação de rejeição à promiscuidade com os interesses privados na política, ainda que eles sejam, como sempre foram, dominantes:
Valor de um mandato e teatro da oposição
Juremir Machado da Silva
Jamais encontrei alguém – especialista ou protagonista – para explicar de maneira convincente o mistério mais transparente do mundo: por que, na obtenção de um emprego, se gasta mais do que se receberá como remuneração? Para conquistar o cargo de deputado federal é preciso, em tese, investir mais do que se chegará a ganhar legalmente. Qual a lógica disso? A resposta cínica é simples: porque alguém paga a conta. Por exemplo, as empreiteiras. Por que pagam? Porque querem e levam algo em troca. Se for assim, o fundamento da coisa está podre desde sempre. É aceitável que seja essa a base?
Segundo os jornais, com base nas informações oficiais, os gaúchos José Otávio Germano, Jerônimo Goergen e Luís Carlos Heinze gastaram 13,7% da despesa total dos 31 eleitos do Rio Grande do Sul. Investiram, respectivamente, R$ 2,9 milhões, R$ 2,7 milhões e R$ 2,5 milhões. A mídia dos demais eleitos foi R$ 1,2 milhão. Volto a pergunta inicial: por que alguém gasta R$ 3 milhões para obter um emprego que não paga oficialmente o suficiente para se recuperar em 48 meses de trabalho metade do investido? Resposta pretensamente sábia: o poder compensa. Como? Irregularmente? Engevix, Grupo Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez financiaram parte das campanhas dos gaúchos citados e presentes na lista de Rodrigo Janot.
Em princípio, tudo regular. Mas é justamente de princípio que se trata: se uma emprega aceita gastar tanto para eleger um deputado é porque espera algo em troca suficiente para compensar o valor que foi gasto e muito mais. O quê? Quando? Em que proporções? O eleito, nesse caso, está desde o começo a serviço de quem pagou a sua conta? Se está, não é representante da população, mas de quem o financiou. Ou devemos acreditar como bons cordeirinhos da sociedade do espetáculo que as empresas, prestadores de serviço ao Estado, ajudam nas campanhas por idealismo e amor à democracia?
Partes interessadas devem sempre se declarar impedidas de participar de processos que possam beneficiá-las e prejudicar terceiros. Na democracia das empreiteiras, vigente no Brasil, as empresas que praticamente só fazem negócios com o Estado financiam a eleição dos que fixarão as regras do jogo. A população é convidada a acreditar que não há problema nisso. Nos Estados Unidos, normalmente apresentado como modelo para republiquetas bananeiras como a nossa, isso não é permitido. Por que nesse caso o que é bom para os Estados Unidos não é bom para nós? Nos States, um organismo, a FFC, regulamenta a mídia desde 1934. Por que também nesse caso o que é bom para os Estados Unidos não é bom para este nosso Brasil varonil?
Talvez a explicação possa ser mais dinâmica: o que é bom para os deputados pode ser muito bom para as empresas e vice-versa, sendo que o bom para deputados e empresas pode não ser bom para os brasileiros. Um exemplo: precisamos aprovar um Código Florestal que seja bom para o agronegócio e para os deputados que representam o agronegócio. Quem se dispõe a representar esses interesses? “Eu”, “Eu também”, “Aqui, atrás, contem comigo”. Fechado. Quanto vai custar a campanha?
Não se incomodem. Recurso não vai faltar. Ao trabalho.
Se a oposição estivesse, de fato, interessada em combater a corrupção, pediria o afastamento dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senador, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, oficial e formalmente suspeitos de corrupção.
O contrário é o que se vê: Eduardo Cunha foi bajulado por seus colegas ao poder na CPI da Petrobras.
O jogo da oposição é simples: derrubar o PT. O resto não interessa.
Essa partida se joga entre petismo e antipetismo.
O resto é teatro.
A corrupção é só um álibi.
O alvo da oposição agora é o Procurador-Geral da República.
Onde se viu colocar o Congresso Nacional no bolo.
O esperado era só Executivo.
Tem gente que não decora o seu papel e só faz confusão.
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O PIG martelou diariamente que o PT era corrupto.
Agora se sabe que outros partidos aceitaram "doações" (os partidos coagiram em presas a "doarem").
E agora,
O PIG martelou diariamente que o PT era corrupto.
Agora se sabe que outros partidos aceitaram "doações" (os partidos coagiram empresas a "doarem").
E agora, PIG?
Agora vão abafar tudo, vão martelar na economia e no dólar, e os coxinhas zumbificados vão continuar xingando a Dilma.
Olhem só essa pesquisa arqueológica que concluí há poucos minutos:
"O petróleo é nosso. E os dez por cento, com quem ficam?"
"A nível de talvez, o PSDB é pelo `depende`."
"É preciso dar um basta na corrupção. Do jeito que estão roubando, não vai sobrar nada para mim."
Hoje? Não. São frases do livro "O Grande Livro dos Pensamentos de Casseta & Planeta", 4a. Edição, pela Editora Record, de 1994, de autoria do Bussunda, Hélio de La Peña et alii.
DE 1994, o princípio de tudo, quando o Verbo se fez carne, habitou entre nós e iniciou essa desgraça toda!
Como diria o Delfim, ao lançar seus pacotes econômicos -"Em princípio, não muda nada. São apenas pequenos ajustes".
#DevolveGilmar a ADI 4650 ao plenario do STF porque é preciso por um fim nas doações de empresas privadas para campanhas políticas, origem e matriz da corrupção.
A questão foi abordada com toda clareza que um texto sobre uma tese tão complexa como essa merece.
Realmente, não faz sentindo gastar mais dinheiro para se eleger, do que ganharia em todos os 4 anos de mandato, fora alguns empresários, que poderiam se dar ao luxo de fazer isso, para garantir vantagens para si e suas empresas,o restante, estará sempre nas mãos de doadores, que o farão na medida que seus interesses sejam aceitos pelo candidato.
Terminada a eleição, chega o momento do pagamento da conta,pelo "representante do povo" que se dará através desse sistema corrupto, com pedidos de vantagens para as empresas que ajudaram o eleito, que sempre acatará, para ter mais dinheiro na próxima eleição,em um círculo vicioso. E o povo nisso? bem, o povo só vota.
Perfeito. Só mesmo um imbecil não sabe que estatal e coisa pública é mesmo para ser roubada e otário foram, se não fizeram, os outros
Os coxinhas de domingo irão ficar envergonhados. Um bando de analfabetos políticos sendo bovinado pela direita golpistas..
Texto claro, que deveria ser óbvio para qualquer pessoa minimamente instruída. Ele vem na mesma linha do que sempre pergunto: Por que um empresário que não paga um lanche para uma criança faminta entrega tão vultosas quantias a candidatos a todos os cargos públicos, de todos os partidos? Generosidade é que não é. Ou é?
Claro, claro, mas nas sociedades capitalistas os "representantes do povo" são os próprios capitalistas. Essa constatação não passa de um simples tauismo. A classe dominante compõe e dirige o estado (Executivo, Legislativo e Judiciário). Ainda não nasceu uma sociedade dirigida somente por quem produz, põe a traquitana toda para funcionar, porque os meios de produção não estão em suas mãos. Até lá é assim mesmo. Mesmo participando do poder, os que têm a ideologia da classe trabalhadora, estes que só têm sua mão de obra para obter recursos para sobreviver através do trabalho, não têm o respaldo de todos os assalariados, posto que principalmente a classe média, a maior parte também dependente de seu trabalho individual, costumam ser aliadas dos capitalistas, esperam um dia ser um deles,
"Que o dinheiro, mesmo dado de forma legal, representa uma corrupção, senão venal e material, ao menos moral."
No atual sistema político, dito democracia (e não é só aqui), o dinheiro sempre age de forma legal.
E não pode ser de outra maneira, devido à sua capacidade de comprar a legislação necessária para o saque impune.
Esse "mesmo de forma legal" é uma armadilha.