A difícil arte de tornar um país dividido uma só Nação

É verdade que a mídia, nestes dias, apresenta um Nelson Mandela quase amorfo, quando ele foi – e nunca deixou de ser – um revolucionário.

E revolução é, antes de tudo, mudar a realidade social.

Os métodos, mais ou menos radicais e, até, eventualmente violentos – como uma reação que transborda de um passado de opressão e exclusão -, são apenas meios.

O fim é a liberdade humana, que só se alcança coletivamente.

Lula, na sua primeira manifestação pública após a morte de Nélson Mandela, sugeriu à platéia que, para conhece-lo, assistisse o filme Invictus, que leva o nome de um poema do século 19, do escocês William Ernest Henley.

O que provocou Lula no fime, com certeza, não foram as magníficas interpretações de Morgan Freeman (Mandela) e Matt Damon, que interpreta o capitão (branco) do time (branco, à exceção de Chester Williams, um negro convocado de última hora) de rugby, o esporte mais popular entre os sul-africanos, mas praticado em nível profissional apenas pelos brancos.

Por isso, a seleção nacional é detestada pelos negros e, às vésperas da primeira Copa do Mundo realizada depois de sua ascensão ao poder, Mandela a vê como uma oportunidade de dar unidade nacional a um país que, cheio de conflitos raciais, também enfrentava o fantasma do sessecionismo, com várias regiões do país com movimentos separatistas.

Esta história é magnificamente contada por Virgílio Franceschi Neto em seu blog O Esporte e o Mundo.


Como o poema é magnificamente interpretado, no video acima, creio que por Reinaldo Gonçalves.

O que move Lula, com toda a certeza, é outra coisa.

Que, talvez, fosse recebida com desprezo pelo jovem sindicalista Lula, nos anos 70: o poder do sentimento nacional.

Claro que não um nacionalismo primário, muito menos restrito ao esportivo.

Mas a ideia de que só um povo pode alcançar o que é, aparentemente, impossível

A ideia que torna uma Nação livre, de verdade, quando todo um povo pode repetir os dois versos finais do poema:

“Eu sou dono do meu destino/Eu sou o capitão da minha alma”

Assista o trailler de  Invictus.

Fernando Brito:
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