A direita é prisioneira de seu próprio ódio

Quando parte da torcida de convidados, socialites e gente em condições de pagar um bom dinheiro pelo ingresso – e todos tinham o direito de estar lá – xingaram grosseiramente a presidenta Dilma Rousseff, um impulso incontrolável fez Aécio se solidarizar com a estupidez, para depois voltar atrás, advertido pelos marqueteiros de que “pegava mal”.

Pegou, todos sabem.

Agora, parece que essa força estranha o leva à mesma atitude.

Governo Dilma pagará por tentar se apropriar da Copa, diz Aécio Neves“, noticia a Folha.

Claro que não é um problema pessoal do candidato tucano, de natureza uma pessoa afável, em condições normais.

Mas Aécio está, mais que nunca, incorporado pela mente coletiva da direita brasileira, que desde a UDN sente “saudades prévias” de um país formado por ilhas de elite e um oceano de excluídos.

O que se traduz, na prática, em ilhas de “modernidade” e um oceano de atraso, o que é, em si, a negação do papel a que o Brasil pode –  não apenas pode mas, necessariamente deve – assumir de grande nação.

Por isso, para estas mentes é impossível entender o Brasil como um ente coletivo, que pertence a todos – indistintamente – e onde, por consequência, os desafios e as conquistas pertencem a todos.

E, claro, também as derrotas.

A Copa, para eles, só era de todos quando foram badalar a conquista de sua realização, em 2007.

Depois, quando vieram as dificuldades, os problemas, os atrasos e, sobretudo, os protestos, ela passou a ser “do Governo Dilma”.

De todos era só o time do Felipão, unanimidade nacional.

Justamente quem perdeu de 7 a 1 o jogo, numa Copa, salvo detalhes, impecavelmente bem organizada.

Ninguém hesitou em “apropriar” ao governo os atrasos e preços de obras sob a responsabilidade de governos estaduais, muitos deles sob a responsabilidade de governantes do PSDB.

Mal disfarçavam, nos discursos e nos “mercados” financeiros, sua esperança num fracasso que nos desmoralizasse como país organizado e capaz.

E desta Copa, como país, saímos assim, embora muito deprimidos – sim, esta é a palavra, e não humilhação – pela derrota inédita em campo.

E nele, e apenas nele, perdemos feio, como não podemos perder por nossas qualidades.

Por isso que a direita brasileira – sim, é ela – quem tenta, da forma mais torpe, se apropriar da frustração com um resultado de jogo de futebol para transferi-la para a política, como faz agora.

Ela não se contém, porque odeia a ideia de um Brasil só, que joga, perde e ganha junto.

Como ganhamos e perdemos, no campo, todos juntos.

E como ganhamos e perdemos na vida, na imensa vida, fora do campo.

Este ódio arrasta seus porta-vozes à insanidade de se tornarem urubus pós-Copa como foram urubus pré-Copa.

O povo brasileiro não está com ódio, está triste. Muito triste.

Quem tem ódio é uma elite que não hesita tentar se apropriar da  tristeza do povo para que esqueçamos que o futuro é adiante, não para trás.

E o resultado disso, creiam, não é diferente do que teve o  “vai tomar no c…” vip do jogo de abertura.

O Brasil do povão, embora eles creiam e façam o possível para que seja o contrário, é um país civilizado.

Apesar dos sentimentos selvagens desta gente, que é incapaz de sentir por este povo até mesmo o  que sente  um americano, o jornalista Matthew Futterman, do Wall Street Journal, reproduzido no Diário do Centro do Mundo.

“(…)não compre a história de que esta perda vai deixar alguma cicatriz indelével em um país tentando desesperadamente prosperar em uma série de áreas que não têm nada a ver com futebol. Essa ideia é um pouco humilhante para os brasileiros, que são a coleção de almas mais acolhedoras com que eu me deparei.”

É por isso que as almas mesquinhas e odiosas, Matthew, vão perder feio na disputa pelo coração dos brasileiros.

Porque têm a natureza do escorpião e morrem de seu próprio veneno.

 

Fernando Brito:

View Comments (24)

  • Quem tentou se apropriar da copa foi o PSDB que entrou com ação no STF, o que demonstra a mediocridade e "non sense" da nossa direita. Solicitava a permissão de atos de hostilidade contra as autoridades dentro dos estádios o que é proibido pelo estatuto da FIFA, detentora dos direitos de imagem, o que foi negado pelo STF. Como não tem proposta, plano de ação para melhoraria do país apela para o xingamento e a calúnia.

  • Como reagiu a imprensa sueca, em 1958, quando o Brasil derrotou – na final - os anfitriões por 5 X 2?

  • Quando o aécio diz que a presidente pagará por apropriar-se da copa ele está apropriando-se da copa politicamente. Pensa que o povo é estúpido como a elite vira lata.

  • A direita que esteve no poder e vendeu quase todo o patrimônio brasileiro sabe que, um dia, voltará ao poder para vender o resto. Essa turma recebeu uma comissão gorda e sabe que tem mais comissão a receber para completar o serviço. Como impedir seu retorno é o "x" da questão. Será que a população vai, indefinidamente, continuar votando na esquerda para o governo central? Será que a esquerda vai conseguir ampliar a quantidade de parlamentares e governadores? Se isso não acontecer veremos o que já vimos anteriormente e o "filme" não foi nada bom. Quebradeira, desemprego e desassistidos é o que veremos.

  • Uma tal de patricia kowsmann fez no Wsj ao artigo de Matthew futterman um comentario tao extenso quanto coxinha.vira.lata. Uma das coisices e dizer que 'passara muito tempo antes que nós (brasileiros como ela) possamos nos gabar de alguma coisa de novo'.
    Não nao foi não o desastre duradouro que diz.
    A fotos tristes dos jogadores desabados na grama vai causar muito menos baixo astral e dor que a foto por ex. do ultimo helicoptero decolando da embaixada em Saigon.

  • Retórica das Contra Informações
    Posted on11/07/2014by Fernando Nogueira da Costa

    Quando se faz um rol das demandas de todos os movimentos sociais, peca-se pela extensão das demandas sociais sem a análise da viabilidade política e econômica do atendimento.

    Esse é um problema da Economia Normativa: prega “o que deveria ser” sem um diagnóstico preciso de Economia Positiva (“o que é”).

    Funciona como um “teste de mentiras“: qualquer candidato que prometer atender toda essa pauta estará mentindo!

    Observe o risco político ao “bater à esquerda” no governo sem medir a consequência de que a oposição “bate à direita” fortemente.

    O resultado prático dessa receita – “bater a clara do ovo bastante para o bolo crescer” – é estimular os eleitores a buscar alternância de Poder, o que no caso brasileiro significa a direita retomá-lo, ou seja, retrocesso político, social e econômico!

    Essa polarização tipo “cabo-de-guerra”, sintomaticamente, colocando em pauta inclusive todas “as reformas de base” de 1/2 século atrás, antes do golpe de 1964, não levará a outro golpe militar, mas, em regime democrático, a outro governo conservador.

    Nesta conjuntura pré-eleitoral, temos de cuidar para que a nossa retórica não caia em:

    Apelo ao medo: recorrer a sentimentos ou preconceitos instalados na psicologia dos eleitores-cidadãos sem razões nem provas objetivas.

    Argumento de autoridade: citar personalidades importantes para sustentar uma ideia, um argumento ou uma linha de conduta, e negligenciar outras opiniões sensatas de pessoas próximas e/ou comuns.

    Testemunho da experiência vivenciada: mencionar casos particulares (fora de contexto) em vez de situações gerais para sustentar uma opção política.

    Efeito acumulativo: persuadir os leitores para adotarem uma ideia insinuando que um movimento de massas irresistível e implacável está já comprometido no seu apoio, embora isso seja sem comprovação ou falso.

    Revisionismo: falsificar a história, reapresentando-a de forma parcial, para criar uma ilusão de coerência.

    Pôr palavras na boca de alguém: apresentar uma ação imperativa, para que seja adotada por um movimento social, sem a estudar profundamente.

    Acusação: acusar a ingenuidade de quem está adotando a mesma opinião que indivíduos reprováveis, predispondo o leitor ou o ouvinte a mudar a opinião, mesmo que ela seja sensata.

    Uso de generalidade: abusar de expressão virtuosa, tal como “justiça social”, permite escapar do espírito crítico do leitor, pois, por associação, os programas propagandeados serão percebidos como desejáveis e virtuosos acriticamente.

    Imprecisão intencional: referir a fatos, deformando-os, ou citar estatísticas sem indicar as fontes ou todos os dados com a intenção é dar ao discurso um conteúdo de aparência científica, mas sem permitir ao leitor analisar a sua validade ou a sua aplicabilidade.

    Transferência: projetar qualidades positivas (ou negativas) de uma pessoa, um grupo, uma organização, etc., como argumento sobre algo que lhe propõe fazer (“missões”) mediante cargas emotivas.

    Simplificação exagerada: usar generalidades simples para contextualizar problemas sociais, políticos e econômicos complexos.

    Mimetismo: empregar o nível de linguagem, as maneiras e a aparência de uma pessoa comum, imaginando que, pelo mecanismo psicológico de projeção, o leitor (ou o auditório) encontra-se mais inclinado a aceitar as ideias que se apresentam deste modo popular, já que quem as apresenta parece-lhe semelhante.

    Estereotipagem ou etiquetagem: utilizar os preconceitos e os estereótipos do auditório para conseguir a adesão a algo, por exemplo, o uso de qualificativos como “petralha” ou “tucanalha”.

    Bode expiatório: demonizar um indivíduo ou um grupo de indivíduos, por exemplo, “banqueiros”, “rentistas”, “capital financeiro”, acusado de ser responsável por um problema real ou suposto, evitando falar das causas sistêmicas impessoais e aprofundar a análise do problema.

    Uso de chavões: deixar uma lembrança em todos os espíritos, de forma positiva ou de forma irônica, usando slogans curtos, fáceis de memorizar, ou metáforas simplistas, tipo “xingamentos de torcida”.

    Eufemismo ou deslize semântico: substituir uma expressão direta por outra indireta, retirando-lhe todo o conteúdo emocional, e esvaziando-a do seu sentido original, p.ex.: “interrupção voluntária da gravidez” em vez de “aborto induzido”, “solução habitacional” em vez de “construção de moradias”, “liberalismo” em vez de “capitalismo” (é conhecido no Brasil como “jargão tucanês”).

    Adulação: usar qualificativos agradáveis referindo-se ao leitor (ou ao ouvinte) com a intenção de convencê-lo, tipo “já que você é muito inteligente, certamente, deve estar de acordo com o que eu lhe digo”!

    Leia mais: Retórica da Intransigência

    Fonte: a partir de Wikipedia

    Fernando Nogueira da Costa

    Professor Livre-docente do Instituto de Economia da UNICAMP

  • Aécio perdeu a noção da decência. Acredito que um dia ele foi um indivíduo decente, como o avô Tancredo. Mas, hoje, Tancredo deve estar se revirando no túmulo e gritando "criei um monstro"!

  • No PSDB deveria ter um cartaz bem claro: Desculpem os transtornos, estamos em obras. Candidato em desconstrução. Pegue seu brinde na recepção e brinque até outubro com seu ió-iô de iá iá.

    • Não dá para colocarem um cartaz dizendo que estão em obras, por que a Dilma ainda não lançou o PAC-3.

  • Bem, uma coisa é certa.

    Vou torcer como um louco para a Argentina levar esta.
    Mil vezes que o caneco fique aqui na América do Sul.

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