Cumprindo seu papel de “Facebook” da direita, o site da Folha assume a campanha de convocação da agora enfraquecida “Operação Sete de Setembro”, a tal “onda” de manifestações que se planeja para o próximo sábado.
Em boa parte porque a mídia, que as promovia, está dividida agora.
Mas que ninguém se iluda, elas vão ocorrer, porque a esta altura há grupos com ousadia e meios para fazê-lo e vão encontrar um ambiente onde não recebem enfrentamento político-ideológico e se valem da mais que justa insatisfação da população com o atraso e as distorções da vida política brasileira para levar água ao moinho da direita brasileira.
Até porque estes grupos não a direita real, mas apenas seus instrumentos – incientes, muitas vezes – de desestabilização de um governo progressista, no lugar do qual pretendem colocar não sabem bem o que, embora os acontecimentos no Egito devessem ter mostrado que as roupas pretas e toucas ninja que sobem ao poder não são exatamente os black blocs.
Mas, se os “anonymous” não são a direita real, o contrário é real: procure um reacionário no Brasil e encontrará um simpatizante dos “anonymous”, gostem disso eles ou não.
O apolítico, há tempos é assim, é sempre de direita, porque a ausência de polêmica é a manutenção do status quo.
Não se exija tanta lucidez, porém, de uma juventude à qual deixamos de dar referências políticas e ideológicas, à qual desacostumamos de manifestações públicas, a quem legamos a ideia de que a associação – sindical, estudantil, partidária – se resume na obtenção de favores e posições. Exceções raras e honrosas, como o MST, quem pode honestamente dizer que isso não se passou?
Quantas vezes nos iludimos achando que uma gestão técnica e republicana (jamais pensei que ia ter problemas em ouvir essa palavra, que tanto amo) e que o simples e inegável sucesso da administração do país bastaria para manter a hegemonia conquistada depois de quase 40 anos de governos de direita?
Deixamos de nos identificar, de revelar o que somos, de apontar-lhes o dedo e acusá-los pelo atraso, pela pobreza e pela dependência deste país.
Encaixotamo-nos no discurso da eficiência, da governabilidade, e deixamos de lado o do desejo, do sonho, da busca, esquecido que somos matéria e sonho, barriga e mente, presente e futuro.
O tempo faz a vida pender para os primeiros e a e tender a abandonar os segundos.
Essa força é a morte e a morte só não nos alcança se a desafiamos.
Na política, isso é tão verdade quanto na existência individual. Passamos por isso ao final do primeiro governo Lula, quando achamos que a imensa empatia que se construiu com a sua eleição bastaria para reconduzi-lo. Fomos às pressas, correndo, buscar no amor ao progresso do Brasil e no horror às privatizações criminosas de Fernando Henrique a tábua que nos salvou do naufrágio eleitoral.
De alguma forma, no Governo Dilma, este erro repetiu-se.
Gerente, faxina, gestão…Bonito, caímos nas “graças” de uma mídia “simpática”, que exaltava a figura presidencial enquanto minava as forças que lhe davam sustentação política. Não fosse o caráter e a solidez ideológica de Dilma Rousseff, quão perto estaríamos de uma traição política, não é?
Mesmo assim, deixamo-nos cair na rotina e fugimos da polêmica. A comunicação do governo não é política, é “institucional e republicana” (estão vendo porque a palavra me arrepia?).
Mas, vejam que maravilha é a força do povo, basta um pequeno episódio, uma situação que marque claramente onde estamos e o que queremos para que ela se acenda e ilumine os caminhos.
Este episódio dos médicos, num instante, repartiu os campos com uma clareza que todos puderam, sem dificuldade, entender. O conservadorismo elitista, excludente, que pensa este país para si e não para o seu povo desnudou-se, estrilou e, afinal, submergiu em gaguejos e desculpas “éticas e técnicas” e foi varrido com todos os seus senões para o lugar desprezível que merece.
Porque a direita brasileira, quando se lhe mostra a cara, vemo-la como ela é: monstruosa, disforme, encarquilhada, mesmo quando se exime de roupas brancas e personagens jovens.
Sua face é horrenda e sua causa, desumana.
Natural, portanto, que se mascare.
Mas nós voltaremos à mudez?
Ilustração: Vitor Teixeira
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Mais uma vez, perfeito. Não é por acaso que Leonel Brizola o tinha como assessor.
"Este episódio dos médicos, num instante, repartiu os campos com uma clareza que todos puderam, sem dificuldade, entender." A direita procura confundir mentes e corações. Usa mascara para enganar os incautos. O episodio do programa Mais médicos arrancou as mascaras e mostrou a verdadeira face da direita: monstro cruel e insensível. Muitos foram os momentos em que ela mostrou sua verdadeira face: quando foram contra o bolsa família, o Enem, as cotas, a redução das tarifas de energia elétrica, a redução das taxas de juros e agora o bolsa saúde. Só os imbecis e aqueles que comungam como o pensamento da direita não notaram a monstruosidade, E muitos se dizem Cristãos e frequenta Igrejas. Fariseus, hipócritas.
Alguém duvida de que lado estava a direita há mais de 2000 anos atrás quando em um Tribunal de Exceção, sem direito a defesa, condenaram a tortura e crucificação um homem que se dizia filho de Deus e caminhava com os mais pobres e miseráveis da época?
Uma autocrítica perfeita.
Abandonamos a necessária politização da juventude enquanto envelhecíamos. Agora assustamo-nos com as influências que dez anos de Veja, Estadão, Folha e Globo exerceram sobre ela enquanto estávamos calados ...
Estamos num perigo real.
Que belo texto, motivador. Parabéns!!!
Na verdade, uma geracao de esquerda criou uma geracao de pequenos burgueses que, generalizando, teem odio aa esquerda. Como sempre, soh entenderao seus velhos quando for tarde demais.
Mais pura verdade.
São os brancos, perversos e boçais, aos quais se referiu o ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo?
Saudades da CMTC!
O governo Dilma tentou agradar as corporações e os mais pobres, abandonando a classe média. Buscar e apresentar soluções para a classe média, com financiamento de moradias de melhor padrão, redução do lucro das montadoras de veículos ou transporte público de maior qualidade, bem como melhor regulação e fiscalização dos planos de saúde e dos direitos do consumidor, corrigir adequadamente a remuneração dos servidores públicos e aposentados, vai enterrar de vez as pretensões tucanas e globais. O Partido dos Trabalhadores não deve abandonar seus eleitores da Classe média.
Perfeita análise. Parabéns
Excelente analise.
Pirou, Dr. Fonseca?