A dor da gente não sai no jornal

 

Tive muita vergonha de minha profissão, hoje, quando vi a campanha da ONG Teto, voltada para habitação popular.

Ela é uma bofetada no que se tornou a máquina de comunicação meste país.

“O problema não é o que vira notícia, mas o que deixa de ser”

Não é assim, é pior que isso.

Claro que sempre houve, aqui e em toda parte, o chamado “jornalismo de entretenimento”.

Sou velho o suficiente para lembrar da “Revista do Rádio”, das fotonovelas.

Mas é impressionante o nível de empobrecimento mental que mídia brasileira se esforça – sim, é um esforço ser cínico num país como o Brasil! – em  impor ao nosso povo.

Os modelos de “virtude”, os “desejos”, o mundo imbecil da futilidade  tornaram-se uma avalanche monstruosa sobre uma população carente que não tem, de outro lado, quem verbalize, senão por oportunismo político, os sofrimentos do povo brasileiro.

A classe média – inclusive a que recém-ascendeu a essa condição – perdeu quase todos os contrapontos políticos e ideológicos que faziam de parte dela uma aliada do nosso povão e, do Brasil, um projeto de país.

Quem se aventura – e são poucos – a dizer que não haverá país sem povo é “sujo” e mandado “ir pra Cuba”.

Aliás, com a ajuda do embrião da estupidez que nos chamava de “populista”.

Quem despreza o Estado, ama o “mercado”.

O “mercado” é a salvação e é por ele e só por ele que virá a perfeição do mundo.

O Estado é a danação corrupta, ineficiente e medíocre.

Os jornais e os jornalistas se tornaram arautos deste futuro desejável, onde as “celebridades” se tornam o modelo de uma existência pródiga e vazia.

Nulidades como as Sheherazades e Joyces se tornam, com seus cabelos louros e lisos, as opiniões nacionais.

E a mídia, “livre”, vomita preconceito e ódio contra os pobres, estes “vagabundos”.

A “liberdade de imprensa” é plena: todos tem o direito e o dever de pensar o mesmo.

Os pobres, afinal, nunca foram notícia, não deixaram, portanto, de sê-lo.

O problema é aquilo que se tornou notícia, a única notícia.

Fernando Brito:

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  • Caro Brito,quem se alimenta com esse tipo de noticias??,tem um site que não vou citar,que só pode ser uma filial da globo versão digital, você prestar atenção,só tem noticias do BBB,novelas ,atores da globo,uma hora e mostrando foto do ator ou da atriz na pria,no estourante,na feira, sem conteúdo nenhum.ou seja ficam empurrando isso pra pessoas,como se isso fosse a coisa mais importante das vidas das delas..tornando esses indivíduos como exemplos de que.????.

  • O importante é ser consumidor.Existimos para isso.Já fomos cidadãos.Era muito chato.Hoje, somos, antes de tudo, consumidores.A Declaração Universal dos Direitos do Homem será substituída pela Declaração Global dos Direitos do Consumidor. O capitalismo tem as suas leis. As únicas que interessam. As leis do dinheiro.(de Juremir Machado)- Pobre não é consumidor e não interessa ao Capitalismo (que venera seu Deu$) juntamente com a Mídia sua fiel discípula.

  • A Globo então é a que mais nutre ódio pelo BRASIL e seu povo que não fazem parte de sua oligarquia.E o pior,ela está aniquilando a forma de pensar do povo.

  • É o velho problema: isso vende. Fofocar de gente famosa vende. Tentar buscar compaixão no coração das pessoas vende muito menos, e isso faz parte da natureza humana.

  • Para quem ainda não viu esta reportagem de um telejornal da Rede Globo, vale muito assistir esses poucos mais de 1 minuto de vídeo que posto o link abaixo.

    A Rede Globo vai em uma escola para discutir se os paus de selfies atrapalham o desempenho das aulas e o aprendizado. Porém, tinham adolescentes com 14/16 anos no máximo interessados em discutir temas mais relevantes do que os paus de selfies, por exemplo, a PEC 171 da diminuição da maioridade penal.

    Quando o repórter perguntou se mais algum daqueles adolescentes queriam falar e uma das adolescentes começou a falar. O repórter começou a ouvi-la e ela começa a falar da PEC 171 e não é que se sucedeu o mais que esperado, o repórter cortou a fala da adolescente e deixou ela falando sozinha.

    O emburrecimento diário do povo é sintomático na velha mídia capitaneada pela Rede Globo. Nada de assuntos relevantes, de saber a opinião dos jovens sobre um tema que afeta a vida deles de maneira direta e principalmente o jovem das classes sociais mais pobres e os jovens negros. Nenhuma discussão séria, nenhum direito a ouvir um outro ponto de vista.

    Cortou a fala da menina sem nenhuma cerimônia, ensaiado como sempre, só pensando na manutenção do seu emprego, e mais nada! Na manutenção do seu "status" de repórter da Globo. Cena ridícula.

    E o repórter terminou dizendo que "daqui a pouco a gente tira mais uma foto". Esta é a ditadura global, contra ela a salvação do futuro do Brasil!

    http://br29.com.br/reporter-da-globo-subestima-alunos-de-escola-estadual-e-toma-um-esculacho-ao-vivo/

  • Fico pensando em como tudo virou fofoca, até mesmo a disputa pelo poder entre câmara e senado por conta da PL da terceirização. Eles não gostam de pobres poderia ser a mesma coisa daquele título de filme Eles não Matam cavalos, matam (interrogação) porque cavalo é animal de luxo. O filme aqui veio com o título de A noite dos desesperados, uma radiografia da crise de 1929. A terceirização está sendo imposta quando ainda não acabou a regulamentação do trabalho doméstico. E essa turma se diz anticomunista. A gente nem sabe se essa PL é um presente de grego (da Grécia falida pela comunidade européia) ou se um 'negócio da China' onde o trabalho não vale quase nada, ou dos vários guetos de trabalho escravo na Índia, Indonésia, África e por aí vai. E não faço aqui juízo de valor moralista\religioso sobre o termo comunista, mas ressalto a profunda falta de conhecimento, de consciência humanitária e ignorância regida pelo ódio e pelo fracasso de seus medíocres e inúteis sonhos.Acho que esse post mostra bem o ponto em que chegou nossa rede nacional de informações. Cinquentenária ou não, uma delas é a ponta do iceberg que nos ameaça.

  • Fernando, numa síntese apertada (imitando os nossos doutores da lei), a mídia é uma máquina de venda de porcarias que ninguém precisa.
    Prá isso dar certo é necessária uma campanha 24/7 voltada para imbecilizar radicalmente as pessoas, porque só um total imbecil vai comprar o que alí é vendido.

  • ALUMÍNIO
    by Ramiro Conceição

    Não! Não era possível que fosse a Estatua da Liberdade.
    Nem, muito menos, o Redentor… da Baia de Guanabara.
    Nem com certeza a fria Mãe pedregosa... de Stalingrado.
    De certo jeito, poderia ser até a Pietá… de Michelangelo.

    Todavia eu estava às 6 da tarde em Vitória,
    em pleno XXI, a buscar meu filho na creche.
    O que seria tal monumento... que se movia?

    Sim, ela estava alí com seu filhote ao colo,
    bem à frente do preconceito de meus olhos.
    Era negra… Orgulhosamente… Negra!

    De repente, se dobrou sobre a lata de lixo,
    a catar as latas de alumínio… ao sustento;
    porém – antes! – ergueu o seu filho ereto:

    acima da nuca;
    acima…da rua.

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