Comecei a escrever este post na terça-feira, mas achei que era exagerado ficar contando experiências pessoais, mais do que tenho revelado aqui meus problemas de saúde.
Mas agora, depois da agressão estúpida e vaidosa feita por um executivo palerma – certamente titular de um bom plano de saúde, devidamente abatido do IR, isto é, do Estado – contra o ex-ministro Alexandre Padilha num restaurante paulista, por causa do “Mais Médicos”, resolvi contar duas histórias. A minha e a de meu velho professor Nilson Lage, que a publicou em seu Facebook, fonte permanente de pautas e inspiração deste blog.
Segunda fui fazer exames no Instituto de Cardiologia de Laranjeiras, vários deles, a começar por uma coleta de sangue, para a qual cheguei às 7:30 h.
Peguei a senha de número 76 e sentei-me do lado de duas senhoras, ambas muito longe da condição de miseráveis, uma delas com o número 61 (o da outra não pude observar). E tome de ouvir que aquilo era uma esculhambação, que a fila era imensa, etc, etc.
Clientela cerca de 50% de classe média, como eu.
Bom, meu sangue foi colhido às 9h, uma espera que foi menor do que aquelas que, muitas vezes, tive em laboratórios privados. Depois, esperei mais meia hora por um eletro e coisa de uma hora ou pouco mais para dois “doppler”, coronárias, aorta e carótidas”.
Às 13:30 estava fora do do hospital, depois de, em todas as salas de espera, ouvir impropérios mil contra o “nove dedos”. Assim mesmo, vindo de gente que não era miserável nem estava sendo exposta a sofrimentos.
Como ouvi no final de semana que passei, quase todo, na Unidade de Emergência Mário Monteiro, em Piratininga, tomando insulina, subcutânea e no soro.
Ontem à tarde, de volta a Niterói, fui ao modestíssimo Posto de Saúde do Tibau, na ligação entre a Lagoa de Piratininga, por onde se chega por uma ponte que nem suporta caminhões, marcar uma consulta para encaminhamento a um endocrinologista. Uma ida, como se depreende, sem marcação nem “peixada”, embora eu tenha visto por ali um simpático e simples restaurante de peixe, pois o Tibau pouco mais é que uma vila de pescadores. E a consulta foi marcada para segunda-feira, às sete da manhã.
Claro que há milhares de situações dramáticas e indignas no atendimento da saúde pública. Muito, muito mesmo, é precário e insuficiente, mas não há como comparar com o dantesco que não faz muito vivemos.
Mas todos nós, de alguma forma, as aceitamos como panorama universal da saúde pública, com a cabeça feita pelo mundo-cão com que estes casos são amplificados pela mídia, com a prazerosa cumplicidade daquela parte da corporação médica que bem se representa no high-society.
Já em outro lugar “bem”, Florianópolis, Nilson Lage, de 80 anos, narra:
“Ontem passei mal, com uma gripe braba que ganhou contornos mais sérios tanto pela idade quanto pelo DPOC – trocando em miúdos, o antigo e superado (no nome) enfisema; essa doença o rapaz aqui adquiriu com o vício do cigarro, que era hábito elegante, promovido pelas estrelas de cinema, objeto ritual de profissões tensas como jornalismo ou medicina, derivativo ou calmante oferecido até, em caixinhas de dois, aos passageiros de avião para superar a tensão das “zonas de instabilidade”…
Quado a febre bateu nos 38 e meio e a respiração ficou insuportavelmente ofegante, às nove da noite de um sábado espremido entre feriados, fui à Unidade de Pronto Atendimento do bairro. Na UPA, colheram sangue para o hemograma completo, marcaram o raios-X para o dia seguinte, deram-me oxigênio, hidrocortisona na veia, antibiótico (indicado excepcionalmente em portadores de DPOC para prevenir a provável pneumonia bacteriana oportunista) e me puseram em repouso, ligado aos equipamentos e monitorado por três horas, até que a médica – uma jovem doutora muito gentil – me liberou com as recomendações de praxe e indicação para retorno. Tudo conforme o protocolo.
Pelas outras macas passaram um rapaz acidentado que foi porteiro no condomínio em que moro e uma dona de casa com hérnias de disco que esperava cirurgia e estava em crise dolorosa;
Deitado, melhorando, tive tempo bastante para lembrar como era há pouco mais de dez anos quando acontecia algo assim: a distância, a espera, os ambulatórios de hospitais públicos mais entupidos de gente do que as rodoviárias; e a medicina-negócio que prosperava no marketing do desespero oferecendo serviço vagabundo (nunca vi cumprirem integralmente um protocolo desses, a não ser em clínicas muito caras, e testemunhei outras tantas vezes o atendimento de casos graves por auxiliares de enfermagem e estudantes de medicina em início de curso, principalmente nos fins de semana) – tudo pago, no sufoco, Deus sabe como, por quem podia.
Fico pensando: como se pode odiar, assim, de graça, alguém que fez esta e outras coisas boas; ou ter saudade do governo infame e cínico de Fernando Henrique Cardoso, que fazia praça da liquidação dos serviços públicos, da invasão por vendilhões dos templos onde os homens buscam seus direitos e adquirem fé na humanidade? Em nome de que ambição, que ideologia, que princípios que não a lei do mais forte, a crença apaixonada na guerra de todos contra todos (bellum omnia omnes) descrita no Leviatã, sem sequer o poder inibidor das maldades humanas previsto por Hobbes?
O poder inibidor das maldades humanas de Hobbes era (ou é) o Estado e seus aparelhos, ideológicos e repressivos, como a mídia e a Justiça.
Que, no Brasil, tornaram-se estimuladores diários do bellum omnia omnes, que gerou a famosa frase que afirma ser o homem o lobo do homem.
Sem um contraponto como, porque a intelectualidade entregou-se às minudências do politicamente correto, da filosofia do “direito do consumidor” e do relativismo (paradoxalmente) “absoluto” e de um Governo que não polemiza, não reage, não proclama princípios e regras, chegamos a este ponto.
Espalha-se, pela sociedade, a ideia de que é com brutalidade que se resolve a vida: desde a prisão sem fundamento e razoabilidade, a redução da maioridade penal como remédio e o portar armas como sinônimo de “paz”.
Parece que ingressamos na Era dos Imbecis.
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Fato semelhante aconteceu comigo, embora fosse em uma clínica de um plano privado. Na sala de espera uma tv ligada na globilóide e algumas pessoas reclamando baseando-se nas "notícias" da tv. O preço da gasolina explodiu, a Petrobrás vai quebrar, a inflação descontrolada, os médicos cubanos e todo o tipo de blá blá blá repetitivo que é típico dos coxas desinformados. Como todos aparentavam ter a mesma faixa etária minha (64) não me contive e perguntei a uma das senhoras, a mais exaltada - "a senhora, que aparenta regular de idade comigo, poderia citar um, somente um, indicador que tenha tenha sido melhor no nosso tempo?".
Ela respondeu que não entendia nada de economia e que eu só poderia estar defendendo o governo porque podia pagar o plano de saúde. Uma resposta bem nivelada com a ignorância do mundo em que vivem os coxinhas e, além disso, se a possibilidade de pagar o plano fosse parâmetro para apoiar o governo ela esqueceu que estava ali consultando porque também tinha um plano de saúde, como eu.
Fiquei uns 15 minutos ouvindo idiotices até que resolvi reagir e então todos ficaram quietos. Gostei de ter feito isso.
Parabéns, Vitor.Gostaria de ter sua coragem, amigo.
Também moro em Florianópolis, sou classe média remediada e algumas vezes usei o serviço de atendimento do Centro de Saúde do bairro onde moro (Itacorubi). É um bairro que cresceu muito nos últimos anos com a construção de prédios gigantes de classe média e média alta, mas mantém ainda bolsões de pobres e classe média baixa e pobres, além de vizinhar com o morro do Quilombo, que também é atendido pelo posto do bairro. As duas vezes fui muito bem atendida, o posto estava limpo e bem organizado. De fato, demorou 45 minutos para eu ser atendida (mas mesmo quando pago médico particular, ele atrasa esse tempo para me atender). Fui atendida por um enfermeiro, muito respeitoso, me ouviu e fez perguntas. Fiquei muito satisfeita com o tratamento digno que recebi, e que ao que parece, todos recebem naquele posto.
Também já tive que fazer uma consulta e exame na Policlínica do Centro e não tenho o que me queixar do atendimento da médica. Minhas queixas seriam a demora para conseguir a consulta (semanas ou meses, mas esse mesmo problema temos até mesmo com plano de saúde e alguns médicos particulares), e o tempo de espera no consultório para ser atendida.
Todos os protocolos de procedimentos médicos melhoraram,são iguais tanto no público quanto no privado,todos os acidentes são atendidos no SUS..
Tem SAMU em todo o Brasil que custou uma fortuna e tem salvo muitos...
Tem muito mais estudadantes fazendo medicina,e se formando tem o mais médicos em lugares remotos por isso a expectativa de vida aumentou os números estão aí e falam por si.
A expectativa de vida aumentou,e as pessoas poderiam usar isso,para não serem pessimistas...
Apesar de não ter problemas de saúde, sei que sou mortal e não me desespero com isso,estou calmo e confiante na vida esse e' meu destino e muito agradecido por existir,o corpo e' uma maquina não e' o pulmão que respira,porém nos que respiramos através dos pulmões, e o coração baterá,independente,o tempo que for preciso e a vida e' um milagre ter consciência faz bem,ouvir besteira faz mal.
Na quarta fomos, eu e minha mulher, vacinar contra gripe. Na recepção fomos avisado que todos ali se encaixam como prioritário. Nossa senha foi 55 e 56 e estavam chamando a 40. Quando saímos estava na fila, com a senha 64 a Tia da nossa Presidenta
Brito, cuide de sua saude. Desculpe-me o egoismo, mas você nos é precioso. É uma luz do grande Brizola a iluminar um ambiente tanto idiotizado pelo pig.
Dou um testemunho de antanho: lá no inicio do desastroso governo do fhc, aquele que se entregou ao pior do pig, em uma daquelas frequentes crises, das manchetes neutras mesmo anunciando desgraças, lastimando o preço das coisas e prevendo "apertos saneadores do fmi", eu, hcc, peguntava aos meus amigos de ouvidos opacos: como será que os 30% dos brasileiros que passam miséria e fome estarão sentindo esta "crise"? Claro que para eles não fazia a menor diferença. A crise era, digamos, nossa, do carro a menos, da viagem ao exterior adiada, da ida ao restaurante menos frequente. Crise da turminha.
Hoje se fala de crise porque como disse o pobre do nassif: "os agentes financeiros ficaram sem referencias devido as pedaladas da Dilma" (ao ouvir isto eu quase choro de dó dos agentes fianceiros, coitados!!!!!). Nada vale para alguns imbecis que a miséria e a fome estão quase extintas, que 60 milhões do que nuca viram médicos agora são assitidos, do glorioso SUS, dos humildes nas universidades, etc, etc etc.Nunca esquecendo que o brizola lutou por eles e tanto apanhou do pig.
Mas há um consolo, na eleição ganhamos destes imbecis e dos bandidos do pig.
Vou contar a minha...
Sou aposentado e moro na casa de minha mãe.
Trouxe minha sogra para morar comigo, isto na casa
pequena de meu terreno. Beleza familia reunida..
Minha sogra nada ganhava...nunca ganhou salario
só cuidava das filhas que trabalhavam..
Quando chegou a idade aposentamos ela, hoje ganha
beneficio. Melhorou para mim.
Minha sogra, fez duas intervenções no coração e
duas cirurgias para retirar vesicula, uma vesicula
outra reparos nas hernias da cirurgia ( comum ) para
quem faz corte. Pelo SUS na santa Casa e gratuito
tudo..recebemos informe do SUS de quanto foi o gasto
e devolvermos informações de como foi o atendimento.
MEU filho, apendicite 1º atendimento, suspeita, dificil
diagnostico...2º dia..diagnostico por ultra som, ainda
no aguardo...3º dia diagnostico confirmado por tomografia
computadorizada..CONFIRMADO..corremos ao médico, que em
UMA HORA E MEIA..deixava meu filho já no quarto operado e
bem...TUDO DE GRAÇA...inclusive o teste de biopsia..
O SUS me enviou a correspondencia e eu dei a respostas que
eles precisavam..transparência.
AGORA VOU CONTAR outra história Médica..
Minha mãe, fez cirurgia de cataratas, por se sentia segura
assim e tem dinheiro a minha Idosa ( 82, e com um olho avariado)
então necessitava de um tratamento melhor?? ( estranho não)..
Fizemos, tudo correu bem ( 7500,00), o médico disse então que
fazer cataratas do olho avariado agora ajudaria o operado...???
Me assustei, pois antes não precisava, maas tudo bem..
Cerebro, olhos e coração como disse o mesmo são os mais importantes.
DISSE:- Doutor teria como então fazer pelo SUS, como seria isto..
IMEDIATAMENTE ESCUTEI....Juro por DEUS..
VAI perguntar pro LULA se ele faria pelo SUS, não coloco as lentes
do SUS nem no meu cachorro..cerebro, coração e olhos são importantes.
Minha mãe não vai fazer, já decidiu, não tem tanto dinheiro assim..
QUANDO estava aguardando a minha mãe fazer cirurgia ( 30 minutos),
chega alguma acompanhante de alguem, pois aquilo parecia produção
em escala..e DISSE em voz alta, com o celular na mão...A DILMA pagou a passeata dos Vermelhos..( a 1º deste ano em São Paulo com chuva).
O carbolitio e o anti depressivo que tomo para BIPOLARIDADE desapareceram
de meu corpo, e PERGUNTEI com voz bem energica, QUEM senhora, QUEM esta dizendo isto...
è...é...iii...ai....sei lá algume desta coisa de what zap..sei lá..
O resto não vou relatar por que foi lamentável..
Grande Fernando Brito!
A questão da saúde pública no Brasil está muito distante do que se apresenta nas histerias diárias de nossa mídia nojenta.
Onde temos maiores gargalos são em cirurgias ortopédicas, 70% destas (na minha região) são geradas por acidentes de motocicletas, esse meio de transporte aleija mais do que muitas guerras. A indústria fatura e o ônus fica para o Estado, sobrecarregando nossos pronto socorros e lotando filas de cirurgias.
Grande Abraço.
E obrigado por continuar lutando contra tamanha desinformação e maldade.
João Carlos, perdoe-me meter minha colher, mas quem aleija mais que guerra não é o motoqueiro, é o motociclista, que é extremamente imprudente, agressivo no trânsito e sem educação. Esse negócio de andar no corredor, e em alta velocidade, é um absurdo!
Abração!
P.S.: amigo meu, motociclista, diz que essas bandalhas que citei acima são feitas por motoqueiros! Motociclistas respeitam as leis. Palavras dele (que nunca sofreu um acidente)!
CORREÇÂO: "...mas quem aleija mais que guerra não é A MOTOCICLETA, é o MOTOQUEIRO, que é extremamente imprudente..."
Dicionário...
Motociclista- aquele que dirige motocicleta.
Motoqueiro - aquele que navega na moto.( Holly)
Bicicleteiro - aquele que anda de bicicleta.este é sempre atropelado.
Bikeiro - aquele que anda de BIKE..este não morre.
Onde moro, para se conseguir uma consulta com um ginecologista com plano de saúde ou particular, leva em torno de dois meses. Isso acontece anualmente com minha esposa, que é obrigada a fazer exames periódicos exigidos pela empresa em que trabalha. Já pelo SUS, eu tenho uma experiencia recente. No dia 26/10/2014, levei um tombo, vindo a quebrar o colo do fêmur. Minha esposa ligou para os bombeiros, e em menos de 10 minutos já estava sendo transportado para a UPA. Lá, desci direto da ambulância para a sala de raios-x. Em menos de meia hora, o médico me encaminhou a outro hospital onde seria realizada a cirurgia para a colocação de dois parafusos, recomendados para este tipo de fratura. Em dois dias tive alta. Nenhum, repito nenhum hospital particular daqui teria sido tão eficiente quanto foi o SUS. Só não reconhece quem vive envenenado pela mídia golpista.
Ola, gostaria de tb registrar um atendimento a minha sogra feita pelos sistema SUS! Fomos atendido no Sus no interior de Goias , onde os medicos encaminharam para a Capital , pois viram a necessidade de se fazer um exame minuncioso! Na Capital fomos muito bem atendidos pelos Medicos de um Hospital que ,embora atende pelos SUS, tb tem atendimento particular! e nos ficamos maravilhados com o atendimento feito por todos no Hospital Lucio Rabelo (Incore) , desde os porteiros até o medico cirurgião! Nos orientaram sobre todos os procedimentos para conseguir a operaçao atraves do SUS, tiveram a paciencia de esperar , pois tinhamos que ter um encaminhamento da secretaria municial da cidade dela e realizaram a cirurgia com sucesso! durante a recuperação teve toda a assistencia e atendimento gentil de todas enfermeiras e médicos. Tudo isso pelo SUS. Não se gastou um tostão! Imagino em que Pais tem esse tipo de atendimento. Sei que nos EUA eles atendem , mas se não tem plano de saúde vc fica devendo. Infelizmente um ano depois ela foi acometida de outro problema (agora cancer no figado) levamos a um hospital Particular e ela veio a falecer! Não quer dizer que foi mal atendida no Hospital Particular , tb foi bem atendida, mas se tivesse sido pelo SUS e viesse , como veio, a falecer, uns poderiam dizer que foi por ter sido atendida pelo SUS. Foi uma fatalidade! So para registrar que no SUS os medicos que atendem são Profissionais e devem atender da mesma maneira que atenderiam um abastado financeiramente. Aquele profissional que não o faz é pq não tem carater!
"Sem um contraponto como, porque a intelectualidade entregou-se às minudências do politicamente correto, da filosofia do “direito do consumidor” e do relativismo (paradoxalmente) “absoluto” e de um Governo que não polemiza, não reage, não proclama princípios e regras, chegamos a este ponto." Muito triste.