A espúria aliança entre mídia e setores golpistas do Estado

Quem não conhece a história, ignora essa faceta das ditaduras.

O arbítrio não conhece limites, e neste sentido, é até “democrático”: ceifa a liberdade de pobres, classe média e ricos.

Quando os valores fundamentais da democracia são destruídos em nome do arbítrio, todos são vítimas.

Aliás, sabe-se que a classe média brasileira apenas se convenceu de que o regime militar era a barbárie quando os seus filhos, bem nascidos e bem educados, começaram a morrer nas masmorras do Estado.

Da mesma forma, grandes empresários que não conseguiram aliados no centro do poder militar tiveram seus bens confiscados.

Foi o caso, por exemplo, da TV Excelsior, uma das primeiras iniciativas privadas na área da TV e do entretenimento.

Não tinha aliados na ditadura, ao contrário da Globo. E morreu.

A nossa ditadura apareceu justamente na época do aparecimento e da consolidação da TV no Brasil, e por isso não permitiu que surgissem iniciativas locais, e que a formação da nossa indústria audiovisual se desse sob os auspícios de um regime democrático, cioso de sua pluralidade política.

Hoje vemos o resultado dessa aberração.

A nossa imprensa ainda conserva os valores brutais da ditadura.

Programas policiais vespertinos prezam a violência policial. Uma apresentadora elogiou, há pouco, o justiçamento de jovens contra um menino negro, num bairro rico do Rio de Janeiro.

Os movimentos sociais são sistematicamente criminalizados por nossas principais emissoras de TV.

Para completar o quadro, só faltava a demagogia fascista.

Tortura-se e desumaniza-se executivos de empreiteiras, tratados como “judeus ricos” do tempo do nazismo.

Joga-se a opinião pública contra eles.

É fácil fazer a cabeça da classe média sofrida e trabalhadora contra meia dúzia de ricaços.

E o mais estarrecedor é ver isso acontecer sob o véu democrático.

Confirmando a teoria de que o Brasil não é um país para amadores, nos deparamos com os preparativos de um golpe articulado por uma astúcia maligna e mentirosa, de um lado, e pela total falta de escrúpulos legalistas, de outro.

De comum com outros golpes que vivemos, a manipulação da opinião pública.

Contra esse tipo insidioso de golpe, só posso antepor a sabedoria popular.

Bezerra da Silva imortalizou, numa de suas músicas, um refrão das favelas: “eu já disse a você que malandro demais, vira bicho”.

Vira bicho, na gíria, significa virar bandido.

A nossa mídia e os setores do Estado cooptados por ela, se acham espertos demais.

Mas estão cometendo uma série de ilegalidades, que serão cobradas um dia.

Há mais de dez anos que setores do Judiciário e do Ministério Público vem aumentando suas apostas na impunidade garantida pela mídia.

Estão forçando a barra.

Fazem isso num momento em que também cresce o número de pessoas que não se deixa enganar pela mídia.

Que vê, claramente, a sucessão de arbítrios que estão sendo cometidos.

Que aguardam, ansiosamente, com esse tipo de ansiedade que constitui, em verdade, o mais poderoso tribunal de todos, porque fundamentado no longo prazo, que aguardam enfim que a verdadeira justiça, não a justiça contingente e corrupta dos homens, mas a justiça pura da história, a hora em que esses bandidos fantasiados de justiceiros pagarão por suas covardias e seus arbítrios.

*

Reproduzo abaixo um texto publicado há pouco no site Brasil 247.

JUDICIÁRIO E MÍDIA PODEM TORTURAR UM CIDADÃO?

Retratado na Operação Lava Jato como “chefe do clube” das empreiteiras, o empresário Ricardo Pessoa, preso há mais de três meses sem qualquer condenação, vem sendo praticamente torturado em Curitiba; neste fim de semana, a revista Veja, da Editora Abril, explicitou seu jogo, revelando o que ele deve falar para conquistar sua liberdade: basta incriminar o PT, transformando em ilegais suas doações legais de campanha; no entanto, poucos sabem quem é este empresário que, em pouco tempo, fez da UTC uma das empresas mais admiradas do País no setor de engenharia; pelo Valor Econômico, foi eleita pela oitava vez como a melhor em gestão de pessoas; no ranking da engenharia brasileira foi apontada como a melhor em construção mecânica e elétrica; concessionário do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), duplicou o terminal que passou a ser considerado o melhor do País; e mais: ao contrário do que muitos imaginam, não depositou recursos na conta do doleiro Alberto Youssef; é este empresário que está sendo submetido à pressão máxima numa estratégia política que visa o impeachment da presidente Dilma Rousseff e, ainda, inviabilizar a eventual volta de Lula em 2018

22 DE FEVEREIRO DE 2015 ÀS 07:29

247 – Quem é Ricardo Pessoa, sócio da UTC Engenharia e capa da revista Veja desta semana?

A julgar pelo que se lê na imprensa tradicional, Pessoa é o “chefe do clube” das empreiteiras. A alcunha lhe foi dada por um delator: o executivo Augusto Mendonça, da Toyo Setal, que, coincidência ou não, é um concorrente da UTC que, ao acusar seu rival, conquistou a liberdade.

Provas, para que provas? “Chefe do clube” foi um apelido que serviu à tese da criação do cartel, como se uma empreiteira de porte médio pudesse chefiar empresas muito maiores, como Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Outro detalhe “irrelevante”: ao contrário do que muitos imaginam, a UTC nem sequer participa das obras da polêmica Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Ou seja: o “chefe do clube” não entrou na maior obra da Petrobras nos últimos anos.

Pela mídia, Ricardo Pessoa já foi condenado e está sendo submetido à mais torpe das torturas. Desumanizado, ele representa a esperança de setores da oposição para que se alcance aquele que parece ser o objetivo político da Operação Lava Jato: recolher elementos para subsidiar um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff e inviabilizar a volta do ex-presidente Lula, em 2018.

O jogo se tornou explícito neste fim de semana, com a capa de Veja. Na chamada, onde se lê “O que Ricardo Pessoa, da UTC, preso em Curitiba, quer contar sobre a Lava-Jato”, deveria estar escrita outra mensagem: “O que nós, da Editora Abril e da oposição, queremos ouvir em sua delação premiada”.

O que se busca nessa eventual delação é muito simples: a confissão de um empreiteiro, que diga que as doações legais foram “propina”. Assim, o que hoje a lei permite, seria transformado em crime. É uma armação tão escancarada, que mereceu uma nota de repúdio do tesoureiro da campanha presidencial de Dilma em 2014, deputado Edinho Silva (PT-SP).

“O deputado denuncia e repudia a tentativa da revista Veja de, a qualquer custo, vincular a campanha da presidenta Dilma às investigações efetuadas na Petrobras, chegando à tentativa de criminalizar doações legais. Sem qualquer fundamento coloca em suspeição as contas de campanha já auditadas e aprovadas pelo órgão máximo da Justiça Eleitoral desse país”, diz ele.

O que é a UTC

Numa reportagem deste domingo da Folha de S. Paulo, relata-se a rotina dos presos em Curitiba. Estão em celas escuras, com uma única latrina e sem privacidade, onde quatro pessoas dividem o espaço. Comem com a mão. E só recentemente conseguiram autorização para ler jornais e revistas. Antes que se esqueça, nenhum deles foi condenado. Todos, embora tenham bons antecedentes criminais, estão presos preventivamente. Perderam a presunção de inocência e o direito de responder em liberdade – que, se ainda não tiverem sido revogadas pela Lava Jato, são cláusulas pétreas da Constituição Brasileira.

Na semana passada, Ricardo Pessoa teve sua prisão preventiva prorrogada pelo juiz Sergio Moro. O motivo foi a suposta tentativa de interferência política no processo, decorrente do encontro entre o ministro da Justiça e o advogado Sergio Renault, sócio de um escritório de advocacia que atua para a UTC. Na prática, Pessoa foi punido pela interpretação da conduta que se fez de um advogado quem nem sequer lhe representa – seu advogado, no mesmo escritório, é Ramiro Tojal.

Tratado como bandido de alta periculosidade, ele conseguiu feitos notáveis para sua empresa nos últimos anos. No fim do ano passado, a UTC foi eleita, pelo Valor Econômico, como a melhor empresa na gestão de pessoas, pelo oitavo ano consecutivo, na categoria de 8 mil a 16 mil funcionários.

No Ranking da Engenharia Brasileira, foi apontada como a melhor empresa do País em “Construção Mecânica e Elétrica”. Além disso, concessionário do Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), Pessoa conduziu o processo de duplicação do terminal, que foi apontado pelos passageiros como o melhor do Brasil. Outra conquista recente foi a compra da Constran, que pertenceu ao lendário empreiteiro Olacyr de Moraes.

Encarcerado em Curitiba, Pessoa é hoje um homem fragilizado. Sob tortura, vê tudo o que construiu nos últimos anos sob ameaça de desmoronamento. Na semana passada, na primeira denúncia do Ministério Público contra as empreiteiras investigadas na Lava Jato, em que se pede uma indenização de R$ 4,47 bilhões, a UTC Engenharia, justamente a empresa do “chefe do clube”, ficou de fora. Talvez, num sinal para que Pessoa se renda e faça a tão ansiada delação premiada – olha só o que pode fizemos com seus amigos…

Se Pessoa irá se render ou não às pressões da força-tarefa da Lava Jato ou da revista Veja, que o ameaça antecipando uma sentença de prisão de 180 anos, só o tempo dirá. Como qualquer indivíduo, o “chefe do clube” é um ser humano, com seus medos e fraquezas, que vem sendo testado ao extremo.

Suas doações de campanha foram feitas dentro da legalidade, seu crescimento empresarial é reconhecido por publicações especializadas, e até mesmo a acusação que pesa contra ele é frágil. Pessoa, ao contrário do que muitos imaginam, não deu recursos ao doleiro Alberto Youssef. Ele recebeu dinheiro do doleiro, que pretendia, em parceria com o empreiteiro, construir empreendimentos legais. Foi assim, por exemplo, que Pessoa construiu um hotel em parceria com Youssef na Bahia.

Se isso é crime, do mesmo delito também se deve acusar a empresária Chieko Aoki, do Blue Tree, e a própria CNBB. Sim, a igreja católica fez um hotel em parceria com Youssef na cidade de Aparecida, em São Paulo.

Ao contrário do que diz a mídia, que não revela sua espúria agenda política, Ricardo Pessoa não é um homem-bomba. É um ser humano, que está prestes a explodir porque está sendo torturado e ameaçado de ver tudo o que construiu nos últimos anos ser destruído pela Judiciário e por setores da imprensa. Apenas isso.

Fernando Brito:

View Comments (21)

  • Miguel, acredito que irá surgir um movimento de reação ao golpe. Acredito na sua frase:
    "Fazem isso num momento em que também cresce o número de pessoas que não se deixa enganar pela mídia".
    A mídia está levando ao limite a disputa.
    A carta de Michelle Daher ao O Globo abriu o caminho e nos encoraja a travar a batalha da comunicação que se dará nas ruas e nos blogs sujos.

    Força, Miguel.

    • Rezo e torço para que tudo isso seja um grande tiro no pé dessas pessoas.

    • Rezo e torço para que tudo isso seja um grande tiro no pé dessas pessoas.

      As instituições tem que se manifestar, senão são coniventes.Onde elas estão?

      CREA, OAB, Associação dos Magistrados,Jornalistas, etc?

  • "O Acordo de Leniência previsto na Lei 2.846 e a legislação específica do Cade no combate ao cartel somente poderão ser aplicados nos casos em que os delitos envolvam diretamente a Alston e a Siemens da corrupção Tucana!
    E onde já se viu ingerências da AGU, da CGU e do TCU?!
    Manda cópia da representação para o PIG!
    Em primeira mão!
    Depois, informem à União e demais interessados!"

    De algum Procurador do staff do 'juiz do Brasil' - pitaco dirigido ao advogado Geral da União Luís Inácio Adams!

  • ... No momento em que o STF desmembrou o processo atinente à *Ação Penal 536 e, em paralelo, negou o mesmo encaminhamento referente à Ação Penal 470 [o tal do Mentirão]...
    *vulgo MENSALÃO do conluio PSDB/DEMo de Minas Gerais, ali, sim, dinheiro público surrupiado, Bemge, Cemig, Copasa...
    Naquele momento...
    É importante que as pessoas saibam...
    Naquele momento estava mais do que 'desenhado" o 'script' do golpe jurídico-midiático, capítulo sob a batuta do rábula psicopata, hoje no ostracismo, 'amanhã', definitivamente, no limbo da história...
    Naquele momento... Naquele momento, insisto, os advogados dos réus, coletivamente, deveriam ter ingressado com ações, queixas crimes, em várias instâncias, inclusive internacionais...
    Enquanto isso, 'o [tíbio] PT da Governança' acreditava no nosso republicanismo de araque, na nossa subdemocracia de fachada e, quiçá, na aura "suprema" dos autos dos processos dos 'miniSTROS' da nossa [nossa?!] corte suprema!...
    O país foi engabelado por uma fajuta e deformada teoria do 'domínio do fato', aplicada de forma inédita e capciosa!
    Assistimos - impávidos e incrédulos - o festival de horrores das 'sessões da tarde' da GloboNews sob o comando do "décimo segundo 'miniSTRO' do STF", a também estrela global **Merval Pereira!...
    **"imortal" jornalista pós-doutorado em Direito Penal!
    Pausa para rir!
    Líderes petistas humilhados, execrados publicamente e presos!
    O ódio disseminado!
    Interesses inconfessáveis!
    O réu confesso Eduardo Azeredo nunca sequer mencionado pela alcunha de mensaleiro...
    Muito menos, quadrilheiro!
    E, agora, blindado pelas primeiras instâncias das Alterosas dos 'Never'!
    Saiu o Barbosa, entrou o novo juiz do Brasil, o Moro das primeiras instâncias do Paraná do escândalo do Banestado do antanho da era FHC!
    A senhora Kátia Abreu, o empreiteiro Ricardo Pessoa...
    Quem tem mais dúvida da impiedade, brutalidade e covardia dos [eternos] fascigolpistas?!
    Viva os heróis da Casa Grande(!): Robert(o) Jefferson, Albert(o) Yousseff, Paulo Robert(o) Costa, Robson Marinho...

  • ATENÇÃO!

    Uma parte do PIG já está permitindo a poeira da verdade revelar as, digamos, 'ocultações seletivas'!

    A Folha de São Paulo começa "a pedir arrego"!

    Por enquanto nas entrelinhas!

    Nos parágrafos finais de um longo texto!

    Cujo título não associa o que, por enquanto, deve aparecer velado!

    E os Frias poderão dizer 'amanhã': "Estão vendo? Nós já noticiávamos desde..."

    ENTENDA

    ############################

    (...)
    [Pedro José] Barusco Filho disse que escolhia as instituições financeiras que esconderiam seu dinheiro de acordo com o sigilo oferecido. Ele contou que "entre 1997 e 1998 até outubro de 2010" ele recebeu US$ 22 milhões em propinas pagas pela firma holandesa SBM.
    Nos primeiros pagamentos, na década de 90, os valores foram pagos no banco Republic, que depois foi comprado pelo HSBC. Barusco, porém, disse que não gostou "do serviço e do 'sigilo' desse banco" e por isso transferiu os valores de uma instituição a outra até que, em 2003, "transferiu todos os créditos de propina destas contas para a conta numerada" em seu nome no Safra de Genebra.
    (...)

    Em 'Bancos na Suíça colaboraram com desvios, diz delator'

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA
    Folha/uol
    22/02/2015 02h00

    FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/02/1592975-bancos-na-suica-colaboraram-com-desvios-diz-delator.shtml

    ##################

    O(a) dileto(a) (e)leitor(a) por "acauso" leu, no texto, algum menção que associa a cronologia referida pelo delator e a era FHC?...

    "Mistério!"

    Ah essa próxima CPI da Petrobras poderá retirar muitos cadáveres impunes das profundezas do pré-sal!

    A força e a magnitude das ondas factuais poderão tornar-se incontroláveis!

    Tremeis [eternos e irrecuperáveis] entreguistas, antinacionalistas e fascigolpistas!

    Párias da nação!

    Inimigos do povo trabalhador brasileiro!

    O Tempo o Senhor da Razão!

  • Hoje o judiciário pode sim torturar quem bem entender. A mídia legitima esta tortura.

    A justiça brasileira está com as calças arriadas para a Globo.

    Vergonha.

  • Quando o Brasil virará esta página vergonhosa na história do país?

    Vinhamos numa ascendente de progresso na infraestrutura, educação, no campo externo, etc. e de repente caímos num buraco de mentiras, manipulações e injustiças paralisando o país e envergonhando nossa sociedade.

    As vozes influentes neste país não podem se calar neste momento. Faz-se necessário e com urgência uma retaliação à altura contra esses denunciantes e membros do judiciário irresponsáveis que visam unicamente a desestabilização de um governo eleito democraticamente.

  • Quando o país foi mergulhado no pântano da ditadura militar, muitos caíram na clandestinidade e partiram para o confronto armado.
    Hoje não vai ser diferente.
    Os golpistas estão brincando com fogo...

  • Eu não entendo como os homens honestos existentes no Judiciário, por ex., no STF, não se organizam com outras personalidades influentes do país, não dão um basta nesta sujeira protagonizada por esses mauricinhos do MPF que, criados na elite e empoderados pela mídia canalha, estão jogando no lixo todas as conquistas duramente arrancadas de uma sociedade desumana que perpetuava-se no poder há séculos.

Related Post