A extrema-direita veio para ficar?

Lamento dizer aos meus leitores e leitoras que sim.

E lamento dizer aos meus amigos que partilham das ideias de liberdade e participação popular que, sim, involuntaria (mas infantilmente) ajudaram a parir um monstro, quando apostaram na negação do que é tão essencial quanto a liberdade: o respeito à liberdade alheia.

Ajudaram apenas, porque no DNA do monstro está a visão excludente e intransigente da elite brasileira, que se aloja no útero da ignorância.

Recebi, ontem, pelo Facebook, uma reportagem do Zero Hora, feita a partir de um estudo da antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, mostrando que houve um crescimento de quase 170% no número de páginas virtuais com conteúdo neonazista em português, espanhol ou inglês entre 2002 e 2009 — de 7,6 mil para 20,5 mil.

Seria interessante que a estudiosa antropóloga atualizasse estes números.

Talvez muita gente se assustasse.

E tentasse entender, a partir daí, como a polêmica, em lugar da confrontação, é o aprofundamento da democracia e do humanismo.

Estamos diante de um evidente aumento da intolerância em nosso país.

Em grande parte, porque aceitamos que, em nome da liberdade, tudo seja admissível.

E não é, quando fere o direito alheio.

Ninguém tem o direito de pedir que me tirem, ou a você,  o direito de voto, pedindo uma ditadura.

Ninguém tem o direito de ir armado a manifestações, porque isso viola a Constituição, expressamente.

Ninguém tem o direito de propor a morte dos nordestinos ou a sua “castração química”.

A sociedade, pelo governo que institui pelo voto, tem o dever de combater estas deformações em seu organismo.

Normalmente, isso se faria pela reação sadia de seus próprios instrumentos: a imprensa, a escola, a universidade.

Aqui, porém, considera-se democrático chamar linchamentos de “compreensíveis”.

É “charmoso” ter gente vociferando em redes de televisão.

As camisetas e os tacos de beisebol da foto, vendidas livremente no Brasil, não são um problema para a democracia.

Nem mesmo os que as usam são um problema grave, porque gente assim sempre viveu na sombra, como pequenos grupos de desajustados que, se não perserguirem ou ferirem alguém, podem babar à vontade sua monstruosidade.

O problema é quando a maioria, que elegeu governo em nome de todos, é levada pela mídia – sob pena de emparedar-se – a acovardar-se diante destas ideias-monstro.

Quando as instituições passam a se omitir, para não serem acusadas de “bolivarianismo” por pretenderem o cumprimento da lei.

Quando a selvageria autoritária, invocando uma “ditadura” que jamais existiu, no clima de absoluta liberdade que há no Brasil, se volta contra a própria democracia.

Mas é grave, sobretudo, quando se quer obrigar as ideias que triunfaram pelo voto a serem trocadas pelas derrotadas.

Porque isso, mais do que qualquer imbecil skinhead  ou coxinha  saudoso dos militares, é que atenta contra a democracia.

Eles estão por aí e não vão sumir, depois de terem se multiplicado na atmosfera podre na qual a mídia os fez proliferar.

E ficando mudos não os vamos reduzir ao quisto que sempre foram e, queira Deus, voltarão a ser.

Fernando Brito:

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  • E ficando mudos não os vamos reduzir ao quisto que sempre foram e, queira Deus, voltarão a ser.
    Quisto, não é bem quisto...é tumor mesmo. Cebinho...

  • E o pior é que estes extremistas estão se justificando, com a bandeira anti "Revolução Bolivariana". Há muito idiota útil reverberando nas mídias sociais um monte de besteira sem fundamento.

    • É o velho conto do bode na sala, como foi em 64. Infelizmente, a história não é linear e direcionada no progresso, mas circular subordinada a ciclos viciosos autodestrutivos.

    • Os imbecis confundem Bolivar o libertador da Colômbia, Venezuela, Peru,Equador e Panamá com comunismo.

  • Sr.Britto,eu de novo.Enquanto invocar-mos DEUS para salvar-nos da barbárie,que esperanças teremos?Onde Deus obrou,que a tivesse abolido?Já que o citou,quem sabe a máxima,Quem com ferro fere...

  • Perfeito, existe um acovardamento das instituições e um oportunismo sem par da "oposição", pois só nesta semana tivemos o discurso histérico e afetado de aébrio do Senado Federal, o canalha do Gilmar Mendes a falar asneiras no STF e até a osmarina farinha e ovo querendo enquadrar a Presidenta Dilma.

    A questão é complexa ao extremo, pois se há direitistas violentos os há também na esquerda e não queremos monstros soltos nas ruas e campos do Brasil, logo o principal desta reforma ministerial não é a Economia , mas a Justiça, pois ficamos 4 anos sem um ministro desta pasta.

    Reforma da mídia e um jornal imenso e de grande circulação diária como fez o Getúlio , senão este discurso medíocre de bolivarianismo vai fazer coro. Depois escrevo o absurdo que escutei de um dito "professor" de filosofia duma universidade.

  • Que segurança eu tenho quando chegar em um médico direitista radical, que está cheio por aí, inclusive dentistas, quando souber que eu votei no PT, na Dilma? Sim, tenho receio pois eles estão defendendo a "castração química de petistas" e estão com ódio nos olhos. Posso até ficar quietinha, não falar nada, mas eles desconfiam, estão perguntando até em quem você votou e se você não fala, eles já desconfiam de você. A coisa ainda está mais ou menos sutil, mas não sei não.

  • Eu sou de São Paulo e gostaria de registrar um outro fato, o retorno dos movimentos Antifas de são paulo... a Resistência violenta a violência gera o que? portanto, precisamos conscientizar a todos...

  • Ação e reação,causa e efeito.Parece que nos falta um ministro da justiça ou um pouco de coragem para lembra-lo de trabalhar.

  • Absolutament5e fantástico.

    Esse texto (refiro-me ao post) não é um daqueles textos "água com açúcar".

    Traz verdade e confronta liberdade com leniência.

    A extrema direita não possui proposta outra que não seja a destruição niilista.

    A democracia é um bem comum. Todos nós temos a obrigação de preservá-la.

    É isso aí.

  • Coxinhas precisam entender que não só eles frequentam academias de musculação e jiu-jitsu, ou podem adquirir armas brancas e até de fogo!

    Pra cada ação, uma reação! Sugiro aos coxinhas ultra-direitistas iram pra dentro de uma favela pregar suas idéias preconceituosas!

    Já dá pra imaginar o que aconteceria.

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