A freixeira e o araponga: uma história improvável

(atualizada às 11h com a resposta de Igor a O Globo)

Com a ajuda dos leitores e a nota da Abin, temos uma história capaz de animar os melhores cronistas.

Carla Hirt, acusada de ser agente da Abin, não é agente da Abin, mas uma militante de esquerda, adepta de Marcelo Freixo – o que não é nenhuma crítica, antes que alguém se incomode – e participante assídua das manifestações antiCopa.

Igor Matela, seu colega de escola – ela, doutoranda; ele, mestrando – é, na verdade um agente de informações. Deve ser agente no Rio, porque aqui estuda. Não se sabe se faz suas atividades de espião na faculdade ou se aproveita as longas horas à espreita de suspeitos para ir folheando os livros de que precisa, aluno aplicado.

Ali no curso, entre um tratado geográfico e um microfone secreto, ambos se apaixonam. E até mandam correr as proclamas, no Diário da Justiça de 30 de maio último, para se casarem no Registro Civil.

E onde passam a lua de mel? Nas passeatas: ela gritando e ele observando, talvez para fazer um relatório a seus superiores.

Em meio ao idílio, no dia 18 de junho, ambos são presos, sob a acusação de vandalismo, dela, e de desacato à autoridade, ele.

Disse ela a alguém, via twitter, que o flagrante foi forjado. Nao tenho nenhuma razão para duvidar dela, até porque a polícia é uzeira e vezeira em fazer isso.

Mas fico imaginando a cena na delegacia, quando ele se identificou como agente da Abin:

– Eu sou X-9, companheiro, alivia aí…

– Como assim “X-9”, amor?

– Agente da Abin, querida.

– Não! Você é um espião!?!

– Sou, mas só espio você, querida…

Ah, Paulo Mendes Campos, seu lindo pombo enigmático, que veio a pé para casar no mais alto beiral da Candelária, se tivesse um talento como o seu para escrevê-la, ficaria no chinelo perto desta história de amor…

PS. Em respeito às pessoas que servem de personagens a este caso, publico abaixo a resposta oferecida por Igor Matela ao jornal o Globo)

RESPOSTA DO IGOR AO JORNAL O GLOBO:

hoje fui surpreendido por uma reportagem da editoria Rio do jornal O Globo que relata que eu e minha esposa, Carla Hirt, teríamos sido presos por ações de vandalismo no dia 17/07 na sequencia do protesto em frente à casa do governador Sérgio Cabral. Além disso, a reportagem afirma que eu e minha esposa teríamos nos identificado como agentes da Abin, insinuando que estávamos infiltrados e com outras intenções que não a livre manifestação política.

Gostaria de informar que tal reportagem é difamatória, não nos ouviu e publicou informações erradas que poderiam ser facilmente checadas na própria 14 DP. Carla é professora e atualmente doutoranda no IPPUR/UFRJ. Foi presa de forma arbitrária, agredida, baleada, acusada de formação de quadrilha junto com outros rapazes que ela sequer conhece. A denúncia é tão absurda que o Ministério Público indicou que não irá levar adiante, uma vez que a polícia não conseguiu provas do crime.

No meu caso, é verdade que trabalho na Abin. Passei num concurso público e sou um servidor federal como qualquer outro, submetido à lei 8.112. Tenho garantido minha livre manifestação política. Neste dia, não fui preso. Quando Carla estava sendo abordada e já tinha sido ferida, conseguiu me ligar. Ouvi pelo telefone que estava sendo agredida e levada para a delegacia. Corri para a DP e cheguei lá uns 30 minutos depois indignado, perguntando pela minha esposa e questionando o abuso de autoridade da PM. Injustamente fui acusado por desacato, numa situação que nada teve a ver com atos de vandalismo. Me identifiquei com minha carteira de motorista e disse, quando a delegada que questionou, que trabalhava na Abin . Em nenhum momento tentei usar isso para o que quer que seja, pois se fosse assim teria sido autuado por abuso de autoridade ou então teria sido liberado.

Tudo isso está nos registros de ocorrência da delegacia.

Esta história conspiratória está me causando muitos prejuízos. Está ferindo minha honra e de minha esposa, me colocando em risco por me associar com policiais infiltrados e está me trazendo problemas no trabalho, onde posso sofrer um processo disciplinar.

Se quiserem ter referências sobre mim e sobre a Carla, sobre nosso efetivo e honesto engajamento político, podem perguntar a várias pessoas: professores do IPPUR/UFRJ (onde eu também curso mestrado), com o vereador Eliomar Coelho que conhece bem a Carla, Comitê Popular da Copa e Olimpíadas, Justiça Global, etc.

Gostaria de pedir que esta reportagem fosse retirada do site do jornal, pois nossos nomes completos estão sendo expostos, causando um prejuízo incomensurável para nós. Já estamos desmentindo a reportagem nas redes sociais, recendo muita solidariedade de todos. Mas gostaria que os senhores também fizessem uma retratação.

Ciente de sua compreensão,
atenciosamente,

Igor P. Matela

 

Fernando Brito:

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