A “guerra do selfie”

Em quase meio século que acompanho conflitos mundiais, não me recordo de ter visto a “guerra de performances” que marca este conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Há quem tope de tudo para aparecer na onda que se formou em torno da perspectiva de que a Rússia caia, em pouco tempo, num processo de desagregação que leve à queda de Vladimir Putin.

É uma previsão sem qualquer fato que a indique, além das dificuldades econômicas a que o país está sendo submetido, embora mais nos efeitos provocados pela corrida aos bancos e ao dólar do que em qualquer dado material sobre seu comércio: gás e petróleo ficaram de fora dos bloqueios de transações, porque isso colocaria a Europa em um estado de penúria energética.

Sobretudo, é uma aposta insana, porque ninguém duvida que a Rússia possa, ainda que com alto custo militar e político, impor sua superioridade bélica à Ucrânia e suportar, por tempo longo, uma situação de conflito interno com grupos remanescentes.

Mas EUA, Otan e os países europeus, na maioria, parecem entregar-se gostosamente ao desempenho teatral do presidente Volodimir Zelenskiy, que exige deles o “fechamento do espaço aéreo” do país, sem dizer que isso significaria colocar a aviação da Otan em batalhas contra as aeronaves russas, o que nem se precisa explicar o quanto alucinado isso é.

A imprensa mundial faz a cobertura da guerra sem correspondentes, produzindo ou repetindo press-releases, “comprandohistórias da carochinha, como essa de que as colunas russa estão parada por falta de combustível, como se o segundo maior corpo militar do mundo saísse “esquecendo de abastecer”.

Zelenskiy fala a linguagem da mídia e não lhe importa que as coisas sejam factíveis, mas espetaculares. Mandar cidadãos comuns atacarem tanques com coquetéis molotov é um convite à elevação das baixas civis, mas produz cenas que seduzem idiotas, como este tal de “Mamãe Falei”, candidato de Sérgio Moro ao governo de São Paulo a ir – e com o apoio público do ex-juiz – a ir posar do lado de garrafas prontas a serem cheias de gasolina lá na Ucrânia.

Patético é pouco para definir esta guerra bigbrother.

Ocorre, porém, que o mundo existe fora destas fantasias e pagará caro pela irresponsabilidade com que esta crise vem sendo conduzida.

Poucos têm a coragem de dizer isso abertamente, pois é como se fazê-lo fosse concordar com a invasão do país e ser aliado do “demônio” Putin.

Kennedy Alencar faz isso, no UOL, e merece ser reproduzido. Assista.

 

Fernando Brito:
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