Há 30 anos, Jânio desinfetava de FHC a cadeira da Prefeitura. Na do Planalto, ainda precisa sabão

A história é implacável. E, às vezes, impagável.

A seção de acervo do Estadão traz hoje a lembrança de uma das mais hilárias cenas que a política produziu: Jânio Quadros, na sua posse como Prefeito de São Paulo, passando desinfetante na cadeira do gabinete pelo fato de Fernando Henrique Cardoso ter se sentado nela, antegozando a vitória – que  não teria – nas eleições de 1985.

No dia 2 de janeiro seguinte, seu primeiro dia útil no cargo, Janio explicou a razão da assepsia:

“Gostaria que os senhores testemunhassem que estou desinfetando esta poltrona porque nádegas indevidas a usaram”

Jânio é matéria de acervo, mesmo, embora também tenha deixado lições de a que tipo de personagens a direita pode apelar para conseguir o que, com seus quadros orgânicos, quase sempre  não consegue: vencer eleições presidenciais.  Como o fez, com menos refinamento, com Fernando Collor.

Mas Fernando Henrique revelava publicamente, no insólito episódio, o traço doentio que o marcaria na então recém iniciada carreira política: a vaidade, a pretensão, a ambição.

Não é preciso falar de sua trajetória até tornar-se o “O Príncipe da Moeda”, genial definição que dele fez o sociólogo Gilberto Vasconcellos. Falam  melhor dele seu ex-colega de partido Ciro Gomes – quem quiser saber como se tornou o candidato em 1994, assista aqui –  e Itamar Franco, outro que sofreu com o ímpeto usurpador do homem a quem Jânio apontou as “nádegas indevidas”.

A vaidade, porém, ajudou Fernando Henrique a se prestar ao papel de vendedor do Brasil, porque o capital estrangeiro, o capital financeiro e a mídia colonizada sabiam que ele – ao contrário, aliás, de Jânio e, depois, de Collor – não tinha luz e vontade próprias e luzia apenas por refletir o brilho dos salões e do dinheiro.

Mesmo depois de derrotado em 2002, mesmo depois de colocado pelo povo brasileiro no monturo do desprezo, Fernando Henrique continuou a contar com a indulgência e os rapapés de certa esquerda, que acha que é ser “republicana” prestar homenagens a um governante colonial.

E o mal desta atitude é muito maior que o eventual desagrado de ter de escutar ou ler o que escreve (agora, o de antes, ele esqueceu) e fala o homem já em fase outonal, que deveria estar retirado dignamente e não assoprando o golpismo.

O mal é que, ao legitimar-se Fernando Henrique como presidente das “conquistas do Real” perpetuam-se a legitimação de todo o ideário neoliberal que tentou e tenta sempre nos reconduzir à condição de colônia.

Ainda será preciso que se passem muitos anos, talvez mais do que aqueles que nos separam do gesto histriônico de Jânio Quadros, para que a cadeira presidencial seja completamente desinfetada, não das “nádegas indevidas”, mas do medo, da submissão e do culto aos bezerros de ouro do neoliberalismo que por lá rondam, assombrando, mesmo depois de 13 anos de governos progressistas.

Fernando Brito:

View Comments (20)

  • FHC essa despresivel figura ao que costumo chamar de cachorrinho do clinton, que causou tanto prejuizo a nacao .....que atua para que haja um golpe no pais visando seus interesses mesquinhos(que e ocultar as maracutaias do seu passado nefasto ).
    O golpe continua aceso e muito bem financiado..e essa presidente que continuara fraca enquanto estiver rodeada por incompetentes principalmente de acessoria e comunicacao a tendencia e que a novela de 2015 continue.....

    • "Cachorrinho do Clinton" foi suave, pegaste leve. Eu teria outra expressão para o tipo, mas deixa assim. Aquela foto com o Clinton às costas do FHC, com as duas mãos sobre seus ombros e o dito com aquela boca escancarada com cara de idiota se presta a outras interpretações mais desairosas, por isso para não faltar com o decoro desta publicação que tanto prezo, melhor deixar mesmo como "cachorrinho do Clinton".

      • rsrsrs
        Deixaria por um Poodle excitado. Só faltou a língua para fora da boca, salivando.

      • Essa do Bil cheirando o cangote do nosso ex foi demais!!! Pelo amor de Deus não deixa niguem ver nos dias de hoje. Como ficaram nossos jovens que por inocência hoje defendem o esfomeado IENA de MG????

    • Titus.
      -
      O FHC fez o governo mais corrupto e deletério da história brasileira. Ele deixou - deliberadamente, pois o projeto era esse - o povo e o país de joelhos diante do imenso poderio do grande capital, nacional e estrangeiro. E desta posição genuflexa, creio que só conseguiremos sair daqui a muitas décadas. Isto se tivermos muito espírito nacional e solidário.
      -
      Aloysio Biondi afirmou com propriedade: "FHC destruiu a alma nacional".

  • Do amadissimo Dom Orvandil.
    http://cartasprofeticas.org
    Aécio, Cunha, Serra, FHC, Caiado, Aluysio Nunes, Agripino Maia, Paulinho Mandado, a mídia oligárquica, os bancos privados, os ruralistas, os fundamentalistas, os fascistas, os nazistas e outros da mesma pocilga produzem lamas assassinas que descem de suas arrogâncias em direção à sociedade, produzindo idiotas, burrices, psicopatas destrutivos, divisões, ódio, desemprego e desgraças de todos os tipos na família brasileira.
    Brizola, Zumbi, Tiradentes e muitos outros homens e mulheres são vertentes referenciais de amor apaixonado de quem ama o Brasil, o povo, a democracia modelo radical na justiça social; são vertentes inesgotáveis de inspiração e de coragem para nossa luta, hoje e sempre.

  • Este ai é o tal intelectual que adotou os órfãos da Direita soberba... os tais se julgam exemplo de inteligência e mestres da sabedoria politica. chamam seus adversários de pais do Zé Povinho, Criadores do Bolsa Esmola . E ainda tem um guru que escreve um livro onde afirma que quem não leu seu livro é um idiota. Assim só lhes resta mesmo o choro e ranger de dentes a cada derrota.

  • Em "Roda Viva" a frase do Chico Buarque, " NA VOLTA DO BARCO É QUE SENTE O QUANTO DEIXOU DE CUMPRIR" representa bem o sentimento de ressentido do FHC, quando percebeu que o "operário! fez o que ele por incompetência deixou de fazer.
    Enquanto ele não destruir no espelho "a história" que reflete o LULA, ele não morrerá feliz,
    Portanto, é o verdadeiro retrato de um homem INFELIZ.

    • Meu caro Manrel.
      -
      Não é "por incompetência" que o FHC "deixou de fazer". É o projeto. Ele se comprometeu a utilizar seu mandato para fazer com que o Brasil mergulhasse a fundo no neoliberalismo. Para isso, ele não poderia olhar para as necessidades do país e de seu povo. Ele tinha que entregar o país e não tentar construir o país.

  • Pois é, Brito..
    O medo, a submissão e o culto ao neoliberalismo estao presentes 24 horas por dia no Planalto. Só se fala em vender a alma ao dibo para pagar os juros da dívida pública, aliás, está uma farra de swaps, operaçoes compromissadas e emissao de títulos da dívida pelo Tesouro para cobrir prejuízos bilionários com essas operaçoes financeiras equivocadas. E a dívida pública só aumenta ainda mais..
    Se mexer com a previdência em 2016 a coisa vai ficar feia para a Dilma, porque a Previcencia é superavitária e ainda recebe 21% do orçamento, mas os credores, maioria bancos nacionais e estrangeiros, querem maisss e mais e só dá pra tirar da aonde ainda tem, que é a Previdencia.
    Será que a Dilma vai capitular??

  • Um comentário simples, mas muito certeiro, e até definitivo, do Prof. Luiz Fiori: "Governo FHC, governo de grandes negócios".

  • Pseudo intelectual. Apenas um ENTREGUISTA da UDN.

    É o que de fato é, esse agente da cia.

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