A inacreditável arrogância de Joaquim Barbosa

Miriam Leitão fez uma entrevista com Joaquim Barbosa que revela, mais uma vez, o erro estratégico de Lula ao nomeá-lo. A arrogância de Joaquim Barbosa parece não encontrar limites. É muito sintomático, por outro lado, que Joaquim Barbosa tenha se tornado o novo “protegé” da Globo. A Globo sempre adorou arrogantes e ditadores.

Indagado sobre os xingamentos que proferiu contra um repórter, ao dizer que ele “chafurdava no lixo” (mais tarde se descobriu que o repórter investigava a reforma de seu banheiro), Barbosa se sai com essa: “É um personagem menor, não vale a pena”.

Diante de sua própria majestade, Barbosa deve achar que um indivíduo comum, um repórter de jornal, por exemplo, pode ser xingado em público, porque se trata de um “personagem menor”. Mais adiante, veremos como ele trata os blogs…

Barbosa também pretende dar aulas de como se governa:

Como ampliar o Estado para garantir direitos de quem esteve marginalizado, mas, ao mesmo tempo, controlar o controle do gasto público para manter a inflação baixa?
O primeiro passo é gastar bem. Saber gastar bem. O Brasil gasta muito mal. Quem conhece a máquina pública brasileira, sabe que há inúmeros setores que podem ser racionalizados, podem ser diminuídos.

Barbosa descobriu a fórmula mágica para gestão, problemas sociais e inflação!

Brincadeira, deve haver alguma maldição na cadeira de Presidente do STF. Todos que se sentam ali se tornam irritantes ditadorzinhos de toga, cheios de pseudo-lições políticas e morais para dar aos brasileiros. Acontece que eles não estão ali para nos dar lições, muito menos para discorrer sobre o que o governo deve ou não fazer, mas exclusivamente para julgar, com o máximo de isenção.

A Constituição Federal é bem clara. “Aos juizes é vedado: (…) dedicar-se à atividade político-partidária.”

Se a sentença vale para um juiz comum, vale muito mais para quem ocupa o cargo máximo do judiciário. Então não pega bem para Joaquim Barbosa dar entrevistas de candidato de oposição.

Sim, Barbosa, há inúmeros setores que podem ser “racionalizados e diminuídos”. A começar por reformas em banheiros, por exemplo… Podiam ser mais singelas, não acha?

Barbosa se pretende, de fato, um intocável.

“No domingo passado, houve uma violação brutal da minha privacidade. O jornal se achou no direito de expor a compra de um imóvel modesto nos Estados Unidos. Tirei dinheiro da minha conta bancária, enviei o dinheiro por meios legais, previstos na legislação, declarei a compra no Imposto de Renda. Não vejo a mesma exposição da vida privada de pessoas altamente suspeitas da prática de crime.”

Quer dizer que Barbosa acha “normal” um presidente do STF ser incluído entre os principais candidatos de uma pesquisa eleitoral, que pessoas invistam dinheiro em sua campanha à presidência da República,

http://joaquimbarbosapresidente.com.br/

e ainda assim considera uma violação brutal de sua privacidade “expor a compra de um imóvel modesto nos Estados Unidos…”? Detalhe: acaba de ser publicada matéria no Correio Braziliense, dando conta que Barbosa usou um apartamento funcional como sede de sua “corporação”. Ou seja, delinquiu de maneira primária.

Mas peraí… O Globo ainda sequer deu a notícia do apartamento! A entrevista, então, teria o objetivo de blindar Joaquim Barbosa de um possível dano à sua imagem causado pela notícia da compra de um apartamento em Miami? Acho que é uma boa aposta…

Em seguida, Barbosa é perguntado se os réus do mensalão “serão presos”. Ele responde o seguinte:

Estou impedido de falar. Nos últimos meses, venho sendo objeto de ataques também por parte de uma mídia subterrânea, inclusive blogs anônimos. (…) Eu me permito o direito de aguardar o momento oportuno para desmascarar esses bandidos.

Ou seja, a entrevista também serviu para Barbosa se defender de um suposto ataque de “mídia subterrânea”. Chega a ser emocionante o esforço da Globo de pôr Barbosa dentro de sua redoma platinada. O único político, do qual me lembro, que teve tanto espaço na mídia para se defender de ataque de “blogs” foi José Serra, que os chamou de “blogs sujos”. Tá todo mundo agora com medinho dos blogs, né? Estão com saudades dos tempos em que somente a Veja trazia denúncias?

O julgamento da Ação Penal 470, da qual Barbosa foi relator, constituiu-se uma das mais tristes páginas do Judiciário, com ataques insuportáveis a direitos consagrados historicamente, como a presunção da inocência e a necessidade de provas, e Barbosa tem o desplante de ameaçar meia dúzia de blogs que ousam lhe criticar? Que espécie de tirano é esse? Repórteres “chafurdam no lixo” e blogs são “bandidos”? Ele acha que é crime criticá-lo?

Bem, as coisas estão claras. Barbosa é mais um Ayres Brito. É mais um a se vender, mesmo que finja não saber disso, ao poder da Rede Globo. Merval Pereira já tem um novo prefaciador para seu próximo livro.

Qualquer um que analisa a política nacional, entende que Barbosa se tornou um elemento central no xadrez de 2014, seja como candidato de oposição (com apoio dos ricos, dos coxinhas e da direita) seja como figura pública cada vez mais identificada ao discurso conservador.

Joaquim Barbosa, como magistrado, tem a prorrogativa de poder se afastar do STF até abril do ano que vem, para disputar eleições presidenciais. Detentor de um cargo vitalício, poderá aguardar, confortavelmente, o desdobrar das pesquisas eleitorais para decidir se vai ou não.

Humildemente, acho que o Congresso Nacional deveria estabelecer restrições mais rígidas para a participação de ministros do STF na vida política. Sua discrição tem de ser obrigatória. Juiz só deveria se pronunciar nos autos, e ministros do STf deveriam evitar, de todos os modos, fazer o jogo político da mídia. Presidente do STF liderando pesquisa eleitoral e pontificando sobre política na grande imprensa é uma anomalia democrática que deveria ser corrigida urgentemente. Ou as teses de Montesquieu sobre “separação dos poderes” só valem quando interessa à mídia?

Íntegra da entrevista de Barbosa à Miriam Leitão.