Elas tinham destes nomes oníricos, quase a única “coisa de rico” que os pobres podem dar aos seus filhos, dobrando letras e mesclando a elas ípsilones, dáblius e cás.
Rebecca Beatriz e a prima Emily Victória, porém, não viviam no reino das fadas, mas na Favela do Barro Vermelho, em Duque de Caxias e brincavam na frente do portão de sua casa.
Uma única bala bastou para acabar com a brincadeira das duas.
As testemunhas deixam poucas dúvidas de que o tiro veio de um carro da Polícia Militar, que chegou ao lugar disparando a esmo.
A avó de Rebecca e tia de Emily, Lídia da Silva Moreira Santos viu que dispararam sem razão aparente, numa rua cheia de gente que voltava do trabalho, oito e meia da noite.
Hoje, o pai de Emily, Alexsandro dos Santos, cobriu de terra e cimento os corpos da filha e a sobrinha.
Rebecca, Emily, Lídia e Alecsandro, porém, não existem, são apenas personagens de ficção.
Para eles não valeu a decisão do Supremo Tribunal Federal, por oito votos a dois (de Alexandre de Moraes e Luís Fux) que determinava que operações policiais (se é que esta foi uma e não um “tocar o terror” como tantas vezes se faz) só se realizassem com justificativa formalizada e controle do Ministério Público.
“Normal”, a polícia está mais preocupada em interrogar os apresentadores no Jornal Nacional pelos supostos “vazamentos” do processo da “rachadinha” Bolsonaro-Queiroz e o MP mais atento a pedir prioridade nas futuras vacinações contra a Covid.
O Governo do Estado? Existe um, no Rio de Janeiro? Witzel foi-se, mas a política do “mirar na cabecinha” continua intacta.
Mesmo que seja em cabecinhas infantis, cheias de sonhos, fantasias, de alegrias que a vida, se não a perdessem, as faria perder.