Há uma preciosidade política entre as falas do Papa Francisco, hoje.
Não, não foram os elogios feitos à Bolívia, em sua chegada àquele país, pela inclusão social e a diversidade, expressa até no nome “Estado Plurinacional da Bolívia”. Todas muito importantes, por certo.
Foi antes de embarcar para lá, ainda no Equador.
No finalzinho da matéria de O Globo, narrando suas atividades com Evo Morales, ficou o registro de Francisco o santuário de La Virgen de El Quinche, a 30 quilômetros de Quito, a capital equatoriana onde pediu a sacerdotes e bispos que cuidassem do “Alzheimer espiritual” que faz a Igreja esquecer dos mais humildes.
— Tomem cuidado para não cair em uma doença, em uma doença que é bastante perigosa para quem o Senhor amou gratuitamente ao segui-lo ou ao servi-lo: não caiam no Alzheimer espiritual, não percam a memória de onde vieram.
Ateu, como sou, começo a achar que Francisco corre o risco de me transformar em “papista”, no sentido de adepto do papa.
Porque a observação é preciosa para todos os que pensamos numa política popular e progressista para o Brasil e que vemos, ao longo do caminho da vida, formar-se um “Alzheimer social”, onde nos esquecemos de onde viemos e quem nos colocou onde estamos.
Este terrível mal é mais frequente do que se imagina e não tem a ver, apenas, com uma vida menos sacrificada e com um pouco mais de folga material.
Tem a ver com a imersão num meio que não guarda muita – ou nenhuma – semelhança com a vida real das pessoas mais simples.
Começamos a absorver, por vezes inconscientemente, a ideologia dos adversários.
Somos “politicamente corretos” e temos “frisson” com quem não é, mas somos socialmente cruéis: começamos a achar que certas diferenças de direitos são “naturais” e que os pobres são quase uma “subespécie”, da qual, entretanto, podem sair alguns, por uma seleção “natural” algo darwiniana.
Nós mesmos, talvez, nos encaixemos neste conceito, pois “vencemos”, vindo de lá, por nossas habilidades, espertezas, competências.
Talvez, o que tenha querido dizer o Papa aos religiosos devamos dizer a nós mesmos: “não percamos a memória de onde viemos”.
Não é “moderno”, não é “vanguarda”, não é up-to-date.
Mas é telúrico, é como uma seiva, um caldo imaterial de energia, que nos faz mais fortes e resistentes.
Nunca desprezemos a força do povo, que tem um poder que lhe vem das entranhas, puro, vulcânico, que atemoriza tanto os donos do mundo e do Brasil que eles vivem montando um infinito de patranhas para que este povo se confunda e fique inerte.
Chegar ao Governo é muito, mas é quase nada quando de contrai o “Alzheimer social”, porque já não sabemos quem somos e aqueles em que nos transfiguramos já não sabemos amar, servir ou seguir aqueles de onde viemos.
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O papa representa, nesse momento crucial para o mundo, o que há de melhor no espírito humano. Sempre terei na memória os bons ventos que renovaram a Igreja Católica no mundo inteiro e que nos deu João XXIII. Vem à memória o filme inglês If realizado nos anos de 1960, baseado no poema famoso 'Se', onde em meio à rigidez e conservadorismo de um colégio interno, os jovens criaram um refúgio onde se informavam e conheciam as revoluções do século XX. As insurgências e as guerrilhas nas colônias européias que lutavam pelas suas independências. Então, já era possível identificar onde os ventos do ecumenismo e da pluralidade cultural eram visíveis sob o som da missa luba, belissima homenagem africana ao espírito da época. Aqui,na América Latina, a ação das pastorais de diversos credos buscavam a justiça social. O tempo hoje é outro e a mensagem papal é ainda mais corajosa e revigorante. Pode simbolizar um novo renascimento para nossa humanidade. Eu, que andava meio incrédula depois de tantos anos, já recupero a esperança. Grande Papa Francisco.
Excelente matéria! A arma mais poderosa para derrotar a esquerda é introjetar esse "alzheimer social" nas suas hostes. E o governo - pretensamente de esquerda - passa então a adotar medidas recessivas, o impopular ARROCHO. Um ministro da economia neoliberal é muito pior que um Cunha, pode fazer muito mais estragos nos campos da esquerda, desacreditando-a. Depois, nas próximas eleições a direita pega de bandeja!
Muito boa reflexão! Obrigado!
Pegando um gancho nas tuas palavras:
Interessante o mundo em que vivemos em que temos que fazer um esforço para sermos justos.
Já temos, enfim, um lema para se contrapor as sandices da oposição nos seus devaneios golpistas: " o Alzheimer Social!!!
Tantos progressos e realizações durante esta década. É preciso relembrar ao povo mais necessitado de onde vieram, como viviam e, hoje, ou bem ou mal, está infinitamente melhor. Eu passo às vezes entre os bairros de Ramos e São Cristóvão e vejo milhares de moradias construídas. E boa parte daquele povo morava à beira do valão ou em barracos de papelão. Muitos metem o pau no governo, induzidos pelo partido político clandestino, chamado mídia.
Creo también que ese Papa Francisco es tan buena persona que va a hacer de mi una ATEA CATOLICA
Francisco representa muito mais do que um líder da igreja católica. Ele é a liderança planetária que faltava para trazer à humanidade a consciência de seus limites físicos e de sua imensa grandeza humana. O mundo precisa encontrar caminhos de paz. O Brasil precisa parar urgentemente com a escalada de ódio e de construção de ideais fascistas baseadas no que há de pior na história da humanidade. Francisco chegou bem na hora. A humanidade carecia, e muito, de uma liderança como a do Papa.
Excelente matéria. "Alzheimer social" é, verdadeiramente, o que ocorre no país. A insensibilidade aos desvalidos é assustadora. E isso é histórico. Ateu também sou, e o Papa, para mim, é um dos grandes estadistas deste século. A sensibilidade social dele, que não se via há muito desde João XXIII e, no curtíssimo período, João Paulo I, não existiu em Bento XVI , João Paulo II, transformado em "santo", Pio XII amigo dos nazistas e outros. Salve Francisco!
O problema é quando este "Alzheimer social" deixa de ser compulsório, inconsciente, e passa a ser estratégico, deliberado. Aí, não se esquece nunca de falar dos pobres. Apenas se esquece de seu endereço e de seus princípios, tão evocados durante campanhas e pedidos de apoio. Não adianta lembrar do pobre apenas pra falar em nome deles, pra colocar palavras na boca dos desvalidos cooptando sua imagem. Na vida pública, até o Maluf sabe o que é ser pobre (a entrevista dele pro Gugu foi hilária). Já entre quatro paredes, o passado pertence ao outro.
Há séculos não vemos alguém com Francisco. Amém.