Machado de Assis, João do Rio e Carlos Drummond de Andrade registraram o dito popular do “não me venhas com borzeguins ao leito”, agora em desuso, pois já ninguém sabe o que são borzeguins, botinhas d’antanho.
E eu já nem sei se é politicamente correto traduzi-lo com o ‘não me venha com frescuras’ e não vou arrumar frescura com isso.
Mas outra coisa não vem à cabeça quando observo o comportamento da imprensa brasileira, talvez por não ter mais jornalistas grandes, quase, se apega em um coro sobre miudezas que bem mereceria o ditado antigo.
Vejam: o país vive uma escancarada ameaça de golpe, com generais e o próprio presidente da República desafiando os tribunais superiores, com notícias de que até a CIA entrou nesta história, desestimulando aventuras golpistas e a Folha de S. Paulo gastando telas e telas (o sucedâneo do também velho “páginas e páginas”) para ouvir “especialistas” dizendo que os discursos de apoiadores de Lula, no 1° de Maio do Pacaembu, “flertaram com a ilegalidade” ao dizerem que queriam ver o ex-presidente eleito outra vez, antes do prazo em que é permitido dizer o que todo mundo já diz.
Tenha santa paciência!
A inflação galopando, o dólar tomando o fôlego, o povo comendo pé de galinha e a gente se dedicando a estudar, como os “sábios” do Reino da Quinta Essência, de Rabelais, o salto das pulgas ou as técnicas para desenhar nas águas.
Assim age com a única chance real que se tem de enfrentar o avanço autoritário, esquadrinhando cada milímetro das falas de Lula, para encontrar algo que se possa tachar de inconveniente, seja a vaidade de Zelensky, seja ele não se incomodar com piada de nordestino. Ao pé da letra, não haveria um português no Brasil, nem Pedro Álvares Cabral. Opa! Cabral não pode, porque senão é referência ao ex-governador do Rio.
Não é um questão de ser “parcial”, embora entre o voto e o tanque de guerra não se possa praticá-la, mas é a relevância, da qual se afastar-se é pecado mortal ao jornalista.
E passamos a publicar o rancor, versão ruminada do ódio, que lhe extrai e distribui, em cada palavra, a dose camuflada do fel.
Já que a manhã me é de antiguidades, que vá aos colegas o conselho de Carlos Drummond de Andrade, dado lá no passado ano de 1966, quando saudou outra hoje velhice, “A Banda”, de Chico Buarque, essa que também passa pelas telas, ex-páginas, dos jornais:
O jeito, no momento, é ver a banda passar, cantando coisas de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.