A receita dos EUA para o mundo eles não seguem em casa

Na véspera de Natal, o Ministério das Relações Exteriores recebeu um pedido da Associação dos Produtores de Soja para que apresentasse uma reclamação na Organização Mundial do Comércio contra os Estados Unidos. O motivo é A Farm Bill, uma lei aprovada ano passado que “completa” o preço da soja americana se ele baixar de um certo nível.

É apenas um dos subsídios e regulações que os americanos impõem. Muitos deles, há décadas, como a proibição de exportação de petróleo americano, em vigor de 1975 até há poucos dias atrás.

Dos outros – e dos da Europa também – fala Mauro Santayana em seu blog, ironizando a “tese” neoliberal de que, por lá, o Estado não interfere na economia e o “mercado” funciona sem qualquer amarra.

A receita que eles nos ditam, em suas próprias casas, leva o tempero da conveniência nacional.

O recado dos EUA e da  UE para seus capachos antinacionalistas
latinoamericanos: façam o que dissermos, não o que fazemos”

Mauro Santayana

Para os energúmenos que dizem que nos EUA o Estado não interfere na economia, uma notícia: só na semana passada foi aprovado pelo Congresso, em Washington, o fim da proibição da exportação de petróleo norte-americano, que perdurou por longos 40 anos.

Por lá, existe uma lei de conteúdo local, o Buy American Act – que, como ocorre no caso da Petrobras, aqui seria tachada de “comunista” e “atrasada” pelos entreguistas – que, desde 1933, exige que o governo dê preferência à compra de produtos norte-americanos, e que foi  complementada por outra, com o mesmo nome e objetivo, em 1983.

Na área de defesa, nem um parafuso pode ser comprado pelas forças armadas norte-americanas, se não for fabricado no país.

E se a tecnologia ou o desenho pertencer a uma empresa estrangeira, ela é obrigada a se associar, minoritariamente, a um “sócio” norte-americano, para produzir, in loco, o produto.

Quem estiver duvidando, que pergunte à EMBRAER, que, para fornecer caças leves Super Tucano à Força Aérea dos EUA, teve que se associar à companhia norte-americana Sierra Nevada Corporation e montar uma fábrica na Flórida.  

No Brasil, a nova direita antinacionalista, grita, nas redes sociais, o mantra da privatização de tudo a qualquer preço. Citando, automaticamente, fora de qualquer contexto, os Estados Unidos, oshitlernautas tupiniquins não admitem que estatais existam nem que dêem eventuais prejuízos, ignorando que nos EUA – a que eles se referem, abjeta apaixonadamente, como se não vivêssemos no mesmo continente, como America – a presença do estado vai muito além de setores estratégicos como a defesa.

No nosso vizinho do Norte o transporte ferroviário de passageiros, por exemplo, é majoritariamente atendido por uma empresa estatal, a AMTRAK, que – sem ser incomodada ou atacada por isso – dá um prejuízo de cerca de um bilhão de dólares por ano, porque, nesse caso, o primeiro objetivo não pode ser o lucro, e, sim, o atendimento às necessidades da população, incluídas as camadas menos favorecidas.

A União Européia, que posa de liberal no comércio internacional, e cujos jornais econômicos – assim como o Wall Street Journal, dos EUA – adoram ficar (a palavra que queríamos usar é outra) – ditando regras para o governo brasileiro, acaba de postergar, até segunda ordem, o acordo de livre comércio com o Mercosul, mesmo depois da eleição de  Fernando Macri, adversário de Cristina Kirchner, na Argentina.

Apesar da propaganda contrária por parte da imprensa brasileira, a culpa não foi do Brasil ou do Mercosul.

Como previmos no post “o porrete e o vira-lata” os europeus roeram a corda porque,  protecionistas como são, não querem eliminar seus subsídios ao campo nem  abrir o mercado do Velho Continente aos nossos produtos agrícolas, nem mesmo em troca da assinatura de um acordo que pretendem cada vez mais leonino – para eles  é claro – com a maioria dos países da América do Sul.  

Se no plano econômico é assim, no contexto político a estória também não é muito diferente.

Os bajuladores dos EUA entre nós acusam a Venezuela e a Argentina – onde a oposição venceu democraticamente as respectivas eleições há alguns dias – de ditaduras “bolivarianas”.

Mas não emitem um pio com relação a “democracias” apoiadas pelos EUA, como a Arábia Saudita – governada e controlada por uma família real com algumas centenas de membros.

Um reino que detêm um fundo, estatal e bilionário, que acaba de comprar 10% da terceira maior empresa de carnes brasileira, a Minerva Foods.

E uma monarquia fundamentalista na qual as mulheres votaram pela primeira vez, apenas na semana passada.

Fernando Brito:

View Comments (26)

  • Diante de fatos como esse, nunca é demais recomendar a leitura do livro "Chutando a Escada", de Ha-joon Chang.

    Em síntese apertada, é o famoso: "Façam o que eu digo, não façam o que eu faço",

  • Boa noite,

    não posso taxar esses entreguistas de idiotas, pois isso eles não são, eles são é muito espertos, pois sabe se vender qualquer um dos bens do povo do Brasil vai levar uma graninha por fora. Não é-a-sim(aecim)!!!

  • Brito, Eu vos agradeco!
    Cada vez que republica artigos de Mauro Santayana, Samuel Pinheiro, Moniz Bandeira, Ajuda a todos os seus leitores a praticar um pensamento quase obscuro para a maioria do povo. A geopolitica!

  • Recado para os coxinhas(macaquinhos imitadores que gostam de imitar europeus e Norte Americanos) Nos estados unidos Serra, FHC, Aecin,e outros da mesma laia, pelas leis NAmericanas seriam acusados de traicao a patria condenados e executados....

  • O Brasil poderia ter sido imperialista na AL e protegido o dinheiro do BNDES. Ao contrário disso, abriu as pernas "às nações amigas (bolivarianas)" com juros de mãe.

    • Conspiracao? My Ass!

      quarta frota ativada
      sete bases na narco colombia
      base no paraguay
      fuzileiros navais no peru e no chile
      espionagem na presidencia/abin/petrobras
      -- acordo sobre alcantara - (cabeca de praia)perda da soberania
      amazonia minerais/oxigenio/agua/terras raras/amazonia azul/presal

      muito bem pagos juizes/politicos/militares/imprensa/ong's
      o problema e bem mais complexo do que parece!

    • voce ja leu o livro as veias abertas da america latina..de Eduardo Galeano.voce sabe o que quer dizer geopolitica? vai ler um pouquinho .....

      • Os países mais desenvolvidos subjugaram os menos desenvolvidos. Certo! Ultrapassado isso, o Brasil não teria ganhado mais se fosse imperialista com seus hermanos latinos? Se o dinheiro do BNDES é nosso, porque 57% dele financiou países apadrinhados por Lula a juros de mãe?

        • me mostre esta statistica 57% tem que ser de um orgao oficial
          nao me venha com valor econimico, alguem me disse vi na globo li na veja ou na felha ou algum economista X que nao pode ser identificado....porque ai nao vale..ok

          • No aguardo daquele velho chavão de que os órgãos oficiais só manipulam os dados

    • China's turn away from Saudi oil in favor of Russian supplies is a result of Chinese worries about Riyadh's malign political influence

    • Grande orgulho deste ato do nosso país! Não seremos os pequenos tiranos na América Latina! Nossa vocação, sob os governos progressistas, sempre foi a de integração com os países da América Latina. Nós, de esquerda, nunca quisemos ser senhores de escravos, como os coxinhas pretendem que sejamos com os países vizinhos. E eles, na sua pequenez, sequer se importam de serem eles próprios escravos dos interesses dos EUA

    • (Rindo) Titus, não querer o petismo e o petralhismo não faz de ninguém fascista. Isso que você está fazendo é reducionismo, seguindo bem o que tio Lenin ensinou.

      • nao discuto partidos.... direita ou esquerda para mim nao importa...o que importa e o Brasil...e quanto aos hermanos...nos precisamos deles tanto quanto eles de nos isso e geopolitica ...em um mundo globalizado blocos negociam... sozinho nao tem forca de barganha...ou voce quer continuar sendo o fundo do quintal...servindo a materia prima ou voce vira adulto....

  • Não precisa de mais nada: durante a crise do subprime em 2008 os EUA usaram e abusaram do poder de intervenção na economia! Lembrem-se que havia a máxima do "too big to fail", em livre tradução, muito grande para falir; com isto eles injetaram a fundo perdido bilhões de dólares em vários bancos e também na GM, esta praticamente, durante um bom tempo, se transformando numa verdadeira empresa estatal! E aqui a turma neoliberal acreditando ainda no "bom" velhinho e no coelhinho da páscoa, kkkkk!

  • Quero ver como os produtores de soja argentino farão.
    Será que o governo Macri irá contra os americanos?

  • E Dilma insistindo no Consenso de Washington. Queria ler, uma vez que o fosse, uma análise com o mesmo viés nacionalista do Santayana sobre este absurdo que se perpetua em nosso sistema finaceiro.

  • Li, no Viomundo (http://www.viomundo.com.br/denuncias/veja-como-eles-ja-nao-pagam-o-pato-e-querem-cobrar-de-voce-brasil-nao-taxa-dividendos-e-cobra-bem-menos-que-outros-paises-de-propriedade-e-heran.html), o seguinte comentário:
    -
    "Apesar de todos os escândalos, de todo o descrédito, de toda a queda de popularidade, os comunopetistas ainda dominam, além da administração federal, da grande mídia e do sistema judiciário:
    a) as universidades, especialmemente as faculdades de História, Direito e Ciências Sociais;
    b) o mercado editorial e a produção de livros;
    Deixem isso assim e em poucos anos a canalhada terá recuperado o seu prestigio e terá condições de instalar uma ditadura praticamente indestrutível."
    -
    Lá, o comentarista se apresentou sob a alcunha de Kurt Cobain. Aqui, ele chama-se Luiz C Brito. Trata-se de uma só pessoa ou foi um caso de "copiar e colar"?

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