A reforma é política, mas mexe com o mercado. Porque deixa impeachment mais longe

 

A reforma política e administrativa anunciada hoje pela Presidenta Dilma Roussef tem, como fica evidente, mais peso político do que administrativo, embora a redução de cargos comissionados em 3 mil (14% do total) possa significar  alguma economia, ainda que irrisória frente aos problemas de caixa do Governo.

 

Explico, antes de tratar da política, em si.

 

É que o Governo Federal tem 22.823 cargos de Direção e Assessoramento, dos quais nada menos de 17 mil  são ocupados por servidores de carreira. Ao contrário do que muita gente pensa, nem um quarto deles é nomeado com pessoas sem vínculo com a máquina estatal.  Mas, ainda que se fosse economizar a remuneração integral destas pessoas, a economia, considerado o dobro de seus ganhos médios (R$ 9,67 mil)  como despesa , por conta dos encargos e outros gastos funcionais, isso representaria uma economia anual de R$ 700 milhões.

 

É dinheiro, sim, mas apenas 0,5% dos gastos de pessoal (civil) do Governo Federal, só no Executivo, que consome R$ 140 bilhões por ano. Tem, portanto, um peso relativamente pequeno nas contas, mas possui um efeito político nada desprezível, sobretudo porque veio acompanhada de um corte de 10% nos pagamentos dos ministros e da Presidente: é um “contra-vapor” nas reivindicações de reajuste que campeiam entre os servidores de nível de vencimentos mais elevados, como auditores-fiscais, delegados de polícia e outras carreiras fora do Executivo, que são “de Estado” mas tendem a deixar de considerar a situação “do Estado”.

 

Como a reforma, disse ao início, é política, é deste lado que ela deve ser avaliada.

 

Não partilho da tese de que Dilma tenha “entregado” a Saúde, ao nomear um ministro do PMDB. Lula fez isso com o deputado Saraiva Felipe, em 2005. O Ministério da Saúde tem programas e comandos muitos estruturados para que a mudança de ministro, por si, queira dizer muito.

 

Nem, também, de que o tenha entregue – e à Ciência e Tecnologia – a um “cunhista”. É provável, sim, é que se tenha anulado parte do “cunhismo”.

 

O que aconteceu foi a consolidação definitiva do apoio da maioria do PMDB ao governo e já na batalha do impeachment.

 

Um ganho político que se refletiu imediatamente onde a política está fazendo os maiores estragos no país: nos movimentos do mercado financeiro. O site Infomoney, insuspeito de qualquer simpatia por Dilma registra agora: “Bolsa sobe forte após reforma ministerial – Anúncio de mudanças ofusca dados fracos dos EUA e mercado vira para alta; DIs caem”.

 

Isso, num dia que tinha tudo para ser agitadíssimo, por conta da estapafúrdia decisão do ministro Augusto Nardes de usar as tais “pedaladas fiscais” para jogar nas mãos de Cunha um elemento minimamente sólido para aprovar um pedido de impeachment de Dilma.

 

Não é por outra razão que a valorização da Bovespa se concentra nas estatais Petrobras e Banco do Brasil.

 

E certamente não foi por causa do Ministro da Saúde que isso ocorreu, mas porque – ao contrário dos colunistas “de mercado”, sempre arrogantes em suas análises – entenderam que a aproximação de Lula do Governo Dilma é um fator de estabilização da política e, portanto, da economia.

 

 

 

Fernando Brito:

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  • Eu nunca escrevo aqui, porém, dessa vez não me contive! Essa sem dúvida foi a análise mais chapa-branca e desconexa da realidade de toda a Internet! Parabéns vc é absolutamente lunático! Viva no seu mundo que não é o mesmo dos seres pensantes...

  • Certo,mas creio que está saindo muito caro a política e a Nação , trocar Janine por Mercadantas é uma piada de péssimo gosto,manter um inapto na justiça é brincar conosco.
    Haja Saco!!!!!
    Não vou nem falar no Levyano.

  • O site Infomoney tem um editor retardado, ou mal informado. Um mau desempenho do mercado de trabalho nos EUA significa para o "mercado" (sic) a possibildade de não elevação dos juros básicos americanos. Isso exerce uma pressão baixista (ao menos potencial) sobre os juros domésticos brasileiros. Logo independente da apreciação política subjetiva do "mercado" (sic) este não ofusca coisa nenhuma os dados de emprego dos EUA posto que se a apreciação foi positiva as duas informações caminhariam na mesma direção.
    Parece que o Infomoney é do mercado. O que prova que entre ganhar dinheiro e ter qualidade analítica passa uma rua muito larga.

  • Socorro! O Mancoandante tem sete vidas e fica. Tirar um craque como o Dr. Janine para alojar um perna-de-pau como o Mancoandante, vulgo general Assis Oliva, é demais.

  • Todos, inclusive a Dilma e o Lula são tocáveis, menos o Zé, se é que foi isto mesmo que ocorreu. Ou seja, o Ze Cafuné é intocável, inimputável, navega surfando na maionese, qualquer que seja o governo, o da situação ou da oposição. O Zé é um autêntico bagre ensaboado.

  • E o Ministério da Justiça segue sob comando do PSDB. Vai entender...

  • O ganho político não teria sido maior para o PMDB do que para o próprio governo?

  • Quer dizer que se Lula for o ventríloquo e Dilma for o boneco o país andará nos trilhos? Por que ele não se candidatou então e deixou a mulher-sapiens com essa tarefa?

  • E não reclamávamos que era política o que faltava o governo dela?
    Ela está mexendo fundo na estrutura do Estado, até aqui, patrimonialista brasileiro.
    Grande Dilma!

  • Para quem olha a presidenta Dilma de frente, na foto, com certeza verá sentado à esquerda (logicamente à direita dela), um cidadão com postura esquisita. Não se deve julgar,.mas a fisionomia do "Amigo da Onça", um velho personagem de humor de uma revista famosa que se foi, estava no rosto daquele indivíduo. O corpo fala, ali aflorava o rosto da traição. É de se "temer" e muito pelo futuro do país nas mãos de homens que pensam voltados para o "anteontem". A mosca azul picou o ragazzo e corremos o risco de se pagar caro demais a aventura golpista.

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