A seca que a imprensa de São Paulo não enxerga

A repórter Lúcia Rodrigues fez, para o Viomundo, a reportagem que a imprensa de São Paulo não faz: sobre como está a vida das pessoas da periferia já atingidas – não importa que nome se queira dar (ou não se queira dar) – pelo racionamento de água em São Paulo.

Lúcia, com fotos de Mohamad Hanjoura,   fez o que parece ser vetado aos repórteres dos grandes jornais, que se limitam a escrever que “o nível da represa subiu para 26,7%”, como se a represa pudesse encher quando se tira água de seu fundo.

Para estas pessoas não há “volume morto” ou “reserva emergencial”. Há – e já não há, tamanha a procura – tonéis e bombonas para tentar armazenas água.

O Estadão, aliás, percebe que os tais 26,7% era mais uma “obra” do Governo Alckmin, e dá os números da Agência Nacional de Águas, que calcula a percentagem sobre o novo volume – em tese –  disponível e aponta um valor de 22,9%.

Como ninguém bebe percentagem, o fato é que se tudo for como diz a Sabesp, o reservatório tem uma disponibilidade igual à que possuía em meados de janeiro deste ano.

Novamente em tese, isso permitiria cinco meses de abastecimento, mantido o ritmo atual de chuva e de consumo.

Não dá para avaliar como o bombeamento está funcionando porque, nas medições disponíveis, foram usados apenas 400 milhões de litros de água do reservatório Jaguari-Jacareí, o que dá uma vazão de apenas 1,5 metros cúbicos por segundo, dez por cento do que vinha sendo retirado quando a água ainda tinha nível para entrar naturalmente pelas tomadas d’água.

Não é possível informar mais porque a Sabesp tirou do ar o site que informava as vazões de cada represa.

Como quem tira o sofá da sala, não é?

 

Fernando Brito:

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  • A dengue "aumentou" em São Paulo - capital - e se tornou epidemia em Campinas e região. O pessoal anda estocando água em tonéis de modo improvisado aumentando os criadouros de mosquitos. Haverá alguma correlação entre a incompetência tucana a administração do Sistema Cantareira e os casos de dengue em 2014 maiores que 2013? Claro que há. Mas para a imprensa tucana, não. Melhor botar tudo na conta da administração municipal, de preferência na do PT.

  • Vamos todos por favor solicitar por email na ouvidoria de transparencia do governo de São Paulo (www.sic.sp.gov.br/) a exlicação da causa da retirada desta página do ar...

  • Se o governo federal tivesse tirado as informações dos reservatórios elétricos do site da ONS a mídia fascista ia fazer um barulho enorme todos os dias.

  • A ANA já retornou com a % antiga: hoje já está apontando 1,4% no Jaguari e 7,3 no SE. Acho que ainda não estão bombeando efetivamente, só fazendo testes. A inauguração foi só marketing prá poder "aumentar" a agua do cantareira e tentar sair do superficial e benevolente noticiário da imprensa.

  • A ANA já retornou com a % antiga: hoje já está apontando 1,4% no Jaguari e 7,3 no SE. Acho que ainda não estão bombeando efetivamente, só fazendo testes. A inauguração foi só marketing prá poder "aumentar" a agua do cantareira e tentar sair do já superficial e benevolente noticiário da imprensa.

  • Seria bom enfatizar que este volume apontado não é só água, mas de terra também. Digo isto pela cor da água que está sendo bombeada.

  • Fernando, vendo que o cantareira está com 7,7 % isso quer dizer então que não estão conseguindo bombear tudo que é preciso ?

    Rodrigo

  • "Como quem tira o sofá da sala, não é?"

    Não. É como quem tira o bode da sala.

  • Se estou raciocinando certo, quando voltarem as chuvas lá praqueles cantos, significa que se terá que encher esse "volume morto" que representa 26%, primeiro até que se consiga encher o reservatório utilizável. Ou a gambiarra vai ficar lá pra sempre?

    • Levará pelo menos 5 anos caso comece a chover logo.
      O novo governo vai ter dar prioridade para a canalização do Ribeira.

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