À TV, Dilma, e para avançar, não recuar!

Nestes dez anos de Lula e Dilma no poder, sempre estivemos obstaculizados pela necessidade de avançar sem criar traumas nas áreas conservadoras e pela necessidade de ampliar as bases político-partidárias de sustentação do Governo.

Para avançar o que avançamos, tivemos de abrir mão de muito e, com isso, também deixamos menos clara parte de nossa identidade perante as parcelas mais jovens do povo brasileiro.

Desde a “Carta aos Brasileiros”, em 2002, com que Lula procurou abrandar as resistências do poder econômico – quem se recorda do que chamavam de “efeito Lula, ameaçando disparar inflação e câmbio, como forma de assustar a população? – até agora, tivemos sempre que refrear os nossos ímpetos pelas mudanças sonhadas para o Brasil para, assim, podermos fazer parte delas.

Porque as grandes reformas estão por serem feitas há 50 anos – de novo, à memória: o que no Governo Jango eram chamadas as “Reformas de Base” – por estarem sempre detidas por um pacto conservador entre os políticos, a mídia e o poder econômico.

Sabemos que, à revelia da multidão de jovens que ocupa as ruas, as forças deste pacto conservador se servem do movimento para, pela mídia , pela demagogia e pela provocação, para tentar desestabilizar o governo eleito do país, democrático e progressista. E, diante disso, muitos de nós ficam paralisados e perplexos, sem saber como reagir.

Talvez, por se deixarem afastar do povo, tenham perdido a sensibilidade e não consigam entrever, na dificuldade, as enormes possibilidades que se abre.

O Governo Dilma, em lugar de estar fragilizado pelas ruas cheias, pode fazer dessa energia  – tanto do que ela contém de generosa quando de legitimação que dela fez a mídia, claro que com razões oportunistas – a imensa força para avançar no que até agora era impossível.

O povo está nas ruas exigindo mudanças, não está?

Não são apenas os R$ 0,20 da passagem, cansam de dizer, mas querendo escolas e serviços de saúde “padrão Fifa, não é?

Pois então, que o nosso Governo não acorre a isso que é também o seu desejo e, em rede nacional e diante do povo brasileiro, propõe as mudanças que permitam isso?

É concreto, é objetivo e corresponde a tudo o que desejamos e que, pelas conjunturas políticas e parlamentares, até agora não foi possível fazer.

Porque não, indo ao encontro das ruas, definir que os royalties do petróleo – todos – se destinem à educação, como o Governo Federal já se dispôs, através de projeto de lei, a fazer com a sua parcela? Afinal, não queremos escolas padrão Fifa e professores tão valorizados como jogadores de futebol?

Porque não garantir a destinação de 10% do PIB para a a Saúde, eliminando as isenções fiscais dadas a partir de um certo nível de gastos, exceto para doenças gravíssimas, mas retirando dali cirurgias plásticas embelezadoras, taxando as grandes fortunas e estabelecendo impostos sobre heranças vultosas e sobre os gigantescos lucros do sistema bancário?

E esta lista segue pela reforma agrária, pela tributação do capital especulativo e pela contribuição econômica que devem todos aqueles que se nutrem de concessões públicas, como empresários de ônibus e de emissoras de rádio e TV. Aliás, eles não apenas precisam pagar pelo que ganham, como precisam ser obrigados a práticas eficientes, transparentes e que assegurem a todos o direito de ir, vir e de falar e ser ouvido.

Dilma, vá à TV.

Inspire-se na sabedoria popular e faça do limão uma limonada.

O pacto conservador quer derrubar a democracia e a justiça social?

Pois contra-ataquemos como o que temos de melhor e mais generoso: nossos compromissos e sonhos de democracia e justiça social.

Não haverá outra hora como essa. Não haverá uma chance igual, construída por nossos próprios adversários.

Nada de passos atrás, porque recuando jamais escaparemos da armadilha.

Avancemos e façamos das ruas o que elas são: nosso lugar, nossa força, nossas armas para mudar o Brasil!

Fernando Brito:

View Comments (8)

  • Concordo plenamente. esta geração pode concretizar o que tanto sonhamos mas que ainda não aconteceu: igualdade social, saúde para todos, educação com qualidade para todos os brasileiros.

  • Concordo plenamente, é necessário se pronunciar de imediato. O País precisa de avanços e não de recuos.

  • Para virar o jogo

    Diante da crescente tensão social que estamos a vivenciar, independentemente de quais sejam suas reais origens, me parece que a melhor cartada política que Dilma poderia brindar a nação seria vir a público para reconhecer a justeza das reivindicações dos manifestantes (repudiando a violência e a intolerância, é claro). Ato contínuo, e para dar vazão a essa súbita onda de insatisfação, convocar uma consulta popular direta, um PLEBISCITO para que todos possamos dizer se queremos ou não a eleição de uma CONSTITUINTE EXCLUSIVA, com direito inclusive a candidaturas avulsas e emendas populares. Para reformar democraticamente todas as instituições do país, refundar a república, prevendo-se a revogação de todos os atuais mandatos eletivos e eleições gerais ao final do processo constituinte, depois de referendada a nova Carta pelo voto popular. Revogação nas três esferas de governo; nos executivos e legislativos; e também no STF). Tal proposta atenderia simultaneamente a TODAS as reivindicações manifestadas e alçaria a disputa político-ideológica a outro patamar, mais elevado. E a Ela sairia dessa "crise" por cima, demonstrando desapego ao poder. E a direita quedaria perplexa, com o golpe midiático-internético, ora em curso, frustrado. Seria um xeque-mate. Uma cartada decisiva como essa exige coragem e uma visão abrangente do momento histórico que estamos vivendo. Ao fim e ao cabo, confio, venceríamos.

    Façam com que se aperfeiçoe e se multiplique essa ideia. Para o bem da democracia e do povo brasileiro.

  • Concordo tambem que Dilma como uma grane Guerreira que e de a sua fala e esperanças ao Povo Brasileiro sobre Saude, Educação e Reformas Gerais amplas.

  • O problema de se tirar algo do povo como a Rede Globo num país como o Brasil, não é tão simples assim. Tirar a Globo da vida do cidadão comum. Eu por opção não assisto mais nem Globo, nem Record, nem Band...enfim nada. Mas aquele trabalhador que chega cansado e senta e quer assistir a sua novela. E digamos é a classe maior que o nosso governo tirou da pobreza. Muito a se pensar. INFELIZMENTE

  • Primeiro a mão pesada do estado, que não respeitaram, porqie vão respeitar depois...essa conversa é estranha, parece Marina.

  • Parabéns Fernando, uma visão lúcida e oportuna em um momento no qual a militância fica "cagada" com o assanhamento da direita. Não sou PT (na verdade, não tenho partido), mas sou a favor da democracia e, como todo cidadão brasileiro, torço para que meu país avance e saia da dependência dos coronéis. A oportunidade é histórica e torço para que a Dilma tome essa decisão.

  • Excelente texto, parabéns. Quem não tem voto, quer ganhar no grito, se apropriando do movimento legítimo.