A vestal sem véus

O Dr. Joaquim Barbosa, diga-se antes de tudo, não cometeu crime algum, perante a Lei, ao que se saiba.

Nada mais fez do que faz a elite política deste país: serviu-se das brechas e dos favores da lei que privilegiam grupos de servidores públicos dos altos cargos da República.

O Dr. Barbosa está pagando, apenas, pela imagem que ele próprio quis projetar: a de alguém que vivia de forma franciscana, como um Diógenes que, à procura de um homem honesto, projetava sobre si mesmo a luz da lanterna da austeridade.

Tudo lhe compunha a imagem da vestal. Os destemperos verbais, a metralhadora de críticas aos “políticos” – ele, chefe de um dos poderes políticos da República, os contorcionismos fisicos e faciais provocados por seu problema de coluna, enfim o retrato quase de um mártir da moralidade.

O Dr. Barbosa jamais se acanhou em afirmar peremptoriamente a imoralidade do comportamento alheio, sem atentar que imoralidade e ilegalidade não são a mesma coisa.

Se, por exemplo, José Dirceu tivesse, como ele próprio fez, montado uma empresa nos EUA exclusivamente com a finalidade de comprar um apartamento num condomínio de alto padrão em Miami, isso ajudaria a formar a convicção, independente de prova, de que o ex-ministro se locupletava à custa do cargo e que, portanto, era parte em esquemas escusos de enriquecimento?

O Dr. Barbosa está sentindo na própria pele a demolição de reputações que a mídia, quando o deseja, é capaz de fazer.

É muito mais rápido do que a veloz construção da imagem de vestal com que ele, prazeirosamente, se deliciou.

Ao permitir que um julgamento legal oscilasse ao sabor do que a mídia dizia e queria, o Dr. Barbosa anulou os sistema de freios e contrapesos da Justiça, abolindo as provas como limite necessário entre o legal e o ilegal.

O sistema judiciário, ao contrário do Pêndulo de Foucault, não pode dilatar eus movimentos ao sabor da conjuntura política e midiática.

Quando se o permite, e se transforma o legal em político, o pêndulo pode retornar com força amplificada sobre o rosto de quem o pôs a oscilar assim.

Fernando Brito:

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