A vida, tocada em marcha fúnebre

Na live de ontem, Jair Bolsonaro disse que “já está chegando ao número de 100 mil [mortes]… e vamos tocar a vida, tocar a vida e buscar uma maneira de se safar deste problema”.

A única maneira que tivemos e ainda temos são as restrições ao convívio social e o uso universal de máscaras, exatamente aquilo que Jair Bolsonaro desrespeitou e estimulou a que fosse desrespeitado.

Não, de fato não haveria como evitar milhares de mortes pelo coronavírus, e sim, haveria maneira de evitar muitos outros milhares de mortes, porque precisávamos e precisamos ganhar tempo até que haja uma vacina que nos imunize, mesmo que parcialmente.

Jair Bolsonaro, nesta marcha fúnebre, foi e é um dos instrumentistas da morte, da morte coletiva, da morte genocida.

Levou milhões de pessoas a menosprezarem os riscos – os seus próprios e os que traziam a outros – e contaminou com dúvidas a disciplina com que se poderia enfrentar a pandemia.

Constrangeu e acabou por obrigar governantes locais a cederem às naturais pressões para reaberturas precoces e escondeu-se atrás de uma decisão do STF para exonerar-se de suas responsabilidades.

Como seu mentor Trump, que também coleciona cadáveres, ajudou a arruinar a economia do país, com o prolongamento da crise, ao contrário do que se viu em países que adotaram protocolos rígidos de isolamento.

Jair Bolsonaro naturalizou a morte de 100 mil – talvez 200 mil, até o fim do ano – e fracassou naquilo que, como militar, deveria ser sua obrigação: comandar o país.

Como mau militar que é, porém, foi um péssimo comandante, que expôs seus homens (e mulheres e crianças) ao fogo do vírus, sem defesa ou proteção.

 

 

 

 

Fernando Brito:

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