Um imenso crime contra o Brasil está sendo perpetrado: a entrega vários dos mais bonitos trechos do litoral brasileiro para que se tornem propriedades privadas na na prática, de acesso restrito (pu pago), para serem ocupados por milionários ou por gente nacional de alto poder aquisitivo.
A Folha, hoje, dá forma concreta ao que várias vezes já foi alardeado por Jair Bolsonaro: a criação de “Cancúns” brasileiras, eliminando áreas de preservação ambiental, especialmente a APA Tamoios, na região de Angra dos Reis, onde ele próprio foi multado (e “desmultado”, já em seu governo) por pescar em área proibida.
“As licitações para venda ou concessão de áreas em Angra, Maragogi, Cairu e região de Florianópolis estão previstas para o primeiro semestre de 2022”, diz o jornal.
É um perfil turístico (economicamente duvidoso) que transforma patrimônio natural e histórico em áreas privadas e tem um potencial imenso para degradar, muito mais que o turismo convencional, estes trechos de costa, porque expele a população local, que passa a ser útil apenas na quantidade necessária para estes empreendimentos, que passam a ser os “donos” de fato de toda a região.
O produto turístico do Brasil não é um cenário natural, por mais que nos ufanemos disso, mas um país – isto é, a soma de território e povo. Esta proposta é a negação disso, é a oferta de um cenário “pasteurizado”, sem sua gente, apenas a oportunidade de que os “cidadãos do frio” possam estar dentro de um postal tropical.
Tanto é assim que Elimar Nascimento, do Laboratório de Turismo da Universidade de Brasília duvida que vá ter sucesso:
“Você desembarca do avião e entra em um resort. É um turismo glamourizado e artificial, com hotéis internacionais todos iguais. São coisas conhecidas e padronizadas, sem contato com novas culturas, sem experiências diferenciadas. Fica perto da piscina, do mar, é um lugar de rico. Não muito mais que isso.”
É claro que turismo desta natureza vai acabar por incluir cassinos e, evidentemente, prostituição e tráfico.
Não há a menor preocupação no projeto de desenhar algo ambiental e socialmente sustentável, os olhos guedianos estão voltados para o “R$ 1 trilhão em receitas com as vendas” que pretendem obter.
Agitar montes de dinheiro – que ou não chega ou chega para bem poucos – é a forma mais fácil de enganar os trouxas que acham que vender seu país é a melhor forma de viver.
Embora, no caso de Angra, sejamos justos: a multa do Ibama despertou um mesquinho desejo de “vingança” e ele adotou como “ponto de honra” (?) o projeto de destruir a reserva ambiental da região.