A vitória de Natalícia é maior porque continua sendo luta

O dromedário que diz que não existe racismo no Brasil deveria ser posto para ler, como nos castigos escolares de há 60 anos, a história que se passou nos Estados Unidos e que é contada abaixo.

Maria Natalícia foi para os Estados Unidos quase uma adolescente, acompanhando um casal de médicos brasileiros que foi se especializar em escolas americanas.

Foi mantida num regime de semi-escravidão.

Estudou, escapou da servidão.

Hoje, Maria Natalicia Rocha-Tracy é faz um PhD em Sociologia na Universidade de Boston.

Mas não é só uma história de uma superação pessoal, ainda que magnífica.

Porque ela é uma ativista e ativista e diretora do Centro do Imigrante Brasileiro em Massachusetts, defendendo e apoiando aqueles que foram, como ela, trabalhadores domésticos imigrantes.

E ela própria e sua história um libelo acusatório contra gente que, embora tenha jurado defender os seres humanos, é capaz de aprisionar um menina para servir-lhes, porque esta é pobre e negra.

Leia o depoimento de Natalícia à Folha. Como ela nasceu num dia 24 de dezembro, tome esta história como um conto de Natal, antecipado.

 

O que fizeram comigo foi tráfico humano

Maria Natalícia Rocha-Tracy

Eu entrei nos Estados Unidos há 20 anos com documentação em dia: tinha um visto pelo contrato de babá para cuidar da criança de um casal de médicos brasileiros, que veio morar aqui para desenvolver pesquisas em um hospital em Boston.

Quando ainda estávamos no Brasil, eles me prometeram que eu poderia estudar, conhecer a cultura americana e aprender inglês, que era o que eu mais queria, porque eu só tinha estudado até a oitava série.

Viajei cheia de expectativas, mas não foi isso o que aconteceu quando cheguei.

Além de cuidar da criança de três anos, fiquei responsável por todo o trabalho doméstico: cozinhar, lavar e passar. Isso acontecia de segunda a segunda, sem folga.

Não me deixaram ir para a escola. E logo tiveram uma segunda criança, o que aumentou o meu trabalho e acabou com o meu sonho de estudar inglês.

No começo, me deram um quarto, mas depois, como recebiam muita visita, me colocaram para dormir em um colchão no chão da varanda.

O local era protegido apenas por um vidro bem fininho, e quando chegou o inverno, eu tinha que cobrir o chão com jornais e usava o aquecedor portátil.

Fiquei doente e tive uma reação alérgica por causa de um produto para limpar o tapete. Não me levaram ao médico, mas permitiam que eu usasse o restante do produto de inalação da criança.

Mas eu só podia escolher um sanduíche de US$ 1,00 no McDonald’s porque o meu salário era de US$ 25 semanais.Comida, me davam só quando sobrava. Caso contrário, eu tinha de comprar.

Pegaram o meu passaporte dizendo que iam renovar o meu visto de trabalho, mas nunca renovaram. Eu fiquei ilegal nos Estados Unidos.

Quando eu pedia para estudar, a mãe dizia que eu era ingrata e que qualquer pessoa na minha situação beijaria o chão onde ela pisasse por ter me dado a oportunidade de estar em um país de primeiro mundo.

O pior de tudo foi terem me impedido de me comunicar com a minha família no Brasil. Diziam que o telefone era muito caro e não permitiam que eu colocasse meu nome na caixa de correio da casa deles. Naquela época, o carteiro não deixava as correspondências se o nome não estivesse na lista.

Dois anos se passaram e, quando chegou a hora de eles voltarem ao Brasil, eu pedi para ficar no país.

Quando eu andava na rua, sem saber falar inglês com ninguém, pensava até que seria melhor se um carro me atropelasse. Então, aprendi algumas palavras com um pequeno dicionário que eu trouxe na bagagem.

Achei no jornal de anúncios um emprego de babá para uma família americana. Eles me deram quarto, roupas novas, me pagaram o transporte para eu ir à escola e não aceitaram a minha oferta para trabalhar de graça. O meu salário era de US$ 100 por semana.

Fui para a faculdade, me casei com um americano, fiz mestrado e estou terminando o meu doutorado em sociologia na Boston University. Conheci a comunidade brasileira e me envolvi com o centro de imigração.

Hoje, sou professora na University of Massachusetts Boston e diretora-executiva do Centro do Imigrante Brasileiro em Massachusetts e Connecticut.

Em parceria com outras organizações, lutamos para ampliar os direitos dos trabalhadores domésticos nos Estados, uma questão sensível para a comunidade brasileira.

Muitos trabalham por hora na limpeza doméstica, mas os direitos são pouco reconhecidos nesses contratos. Me engajei nisso por causa da minha própria existência.

A gente que vem de família mais simples está muito acostumado a respeitar autoridade. Eu sabia que eu era invisível para eles, mas não questionava.

Hoje, depois de estudar, eu compreendi que o que os meus patrões brasileiros fizeram comigo naquela época foi tráfico humano.

Fernando Brito:

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  • "Dos costumes da terra

    As pessoas que no Brasil querem viver, tanto que se fazem moradores da terra, por pobres que sejam, se cada um alcançar dois pares ou meia dúzia de escravos (que podem um por outro custar pouco mais ou menos até dez cruzados) logo têm remédio para sua sustentação; porque uns lhe pescam e caçam, outros lhe fazem mantimentos e fazenda e assim pouco a pouco enriquecem os homens e vivem honradamente na terra com mais descanso que neste Reino, porque os mesmos escravos índios da terra buscam de comer para si e para os senhores, e desta maneira não fazem os homens despesa com seus
    escravos em mantimentos nem com suas pessoas."

    NÃO MUDOU em absolutamente nada disso aí, a ideologia da "nobreza" de Pindorama. "Por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague", como diz o Chico Buarque. Raça de cão!
    (texto do livro Tratado de Terra do Brasil, por Pero de Magalhães Gândavo, Lisboa, 1575. OLHO NA DATA: Lisboa, 1575).

  • "Dos costumes da terra

    As pessoas que no Brasil querem viver, tanto que se fazem moradores da terra, por pobres que sejam, se cada um alcançar dois pares ou meia dúzia de escravos (que podem um por outro custar pouco mais ou menos até dez cruzados) logo têm remédio para sua sustentação; porque uns lhe pescam e caçam, outros lhe fazem mantimentos e fazenda e assim pouco a pouco enriquecem os homens e vivem honradamente na terra com mais descanso que neste Reino, porque os mesmos escravos índios da terra buscam de comer para si e para os senhores, e desta maneira não fazem os homens despesa com seus
    escravos em mantimentos nem com suas pessoas."

    NÃO MUDOU em absolutamente nada disso aí, a ideologia da "nobreza" de Pindorama. "Por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague", como diz o Chico Buarque. Raça de cão!
    (texto do livro Tratado de Terra do Brasil, por Pero de Magalhães Gândavo, Lisboa, 1575. OLHO NA DATA: Lisboa, 1575).

  • Deem o nome dos médicos brasileiros que escravizaram a coitada ! É um dever dar o nome desses escrotos ! Sem o nome desses criminosos parece até cumplicidade, estão a acobertar os malfeitos.

  • Cadê os nomes dos nazistas?
    Bem, como já disseram aí em cima: "Basta pegar quaisquer dois nomes de "dotores" que vão para os USA."

  • "Dos costumes da terra

    As pessoas que no Brasil querem viver, tanto que se fazem moradores da terra, por pobres que sejam, se cada um alcançar dois pares ou meia dúzia de escravos (que podem um por outro custar pouco mais ou menos até dez cruzados) logo têm remédio para sua sustentação; porque uns lhe pescam e caçam, outros lhe fazem mantimentos e fazenda e assim pouco a pouco enriquecem os homens e vivem honradamente na terra com mais descanso que neste Reino, porque os mesmos escravos índios da terra buscam de comer para si e para os senhores, e desta maneira não fazem os homens despesa com seus
    escravos em mantimentos nem com suas pessoas."

    NÃO MUDOU em absolutamente nada disso aí, a ideologia da "nobreza" de Pindorama. "Por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague", como diz o Chico Buarque. Raça de cão!
    (texto do livro Tratado de Terra do Brasil, por Pero de Magalhães Gândavo, Lisboa, 1575. OLHO NA DATA: Lisboa, 1575).

  • "Dos costumes da terra

    As pessoas que no Brasil querem viver, tanto que se fazem moradores da terra, por pobres que sejam, se cada um alcançar dois pares ou meia dúzia de escravos (que podem um por outro custar pouco mais ou menos até dez cruzados) logo têm remédio para sua sustentação; porque uns lhe pescam e caçam, outros lhe fazem mantimentos e fazenda e assim pouco a pouco enriquecem os homens e vivem honradamente na terra com mais descanso que neste Reino, porque os mesmos escravos índios da terra buscam de comer para si e para os senhores, e desta maneira não fazem os homens despesa com seus
    escravos em mantimentos nem com suas pessoas."

    NÃO MUDOU em absolutamente nada disso aí, a ideologia da "nobreza" de Pindorama. "Por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague", como diz o Chico Buarque. Raça de cão!
    (texto do livro Tratado de Terra do Brasil, por Pero de Magalhães Gândavo, Lisboa, 1575. OLHO NA DATA: Lisboa, 1575).

  • NAO vamos matar os dois nazistas de jaleco que te levaram. Mas queremos os nomes completos dos dois para divulgar.
    ALguma pessoa amiga dela, em BOSTON, por favor passe os nomes para o azenha.

  • Uma pergunta que não quer calar: O que esses médicos brasileiros pensam do programa MAIS MÉDICOS? Não precisam responder. Tá na cara. Se forem cearenses estão filiados ao PSDB, como aquela médica que aparece em primeiro plano vaiando o médico cubano chegando em Fortaleza.

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