Acidentes acontecem. Silêncio na comunicação não pode acontecer

Quando ocorre – e não deve ocorrer – um acidente como o que aconteceu com o navio-plataforma Cidade de São Mateus, ao largo do Espírito Santo, uma empresa além de socorrer as vítimas, lamentar as mortes, assistir completamente as famílias dos mortos e feridos, iniciar de imediato a apuração das circunstâncias e das causas do problema.

Tenho certeza de que tudo isso a Petrobras fez.

Mas há  algo mais, extremamente importante, que a Petrobras não fez, talvez por ser hoje uma empresa amedrontada pela mídia: assumir a primeira linha no fornecimento de informações.

A empresa tem meios e pessoas para fazer isso, mas uma hoje total inapetência por aquilo que chamamos, hoje, gestão de crise.

É incompreensível que durante cinco horas não tenha havido um posicionamento formal de uma empresa que conta com dezenas e dezenas de profissionais de comunicação em sua estrutura.

Não é possível que a empresa não tivesse condições de dar, durante horas e ainda neste momento informações relevantes, como o fato de a plataforma não pertencer à Petrobras (mas à norueguesa BW)  ser nova (operando apenas a partir de 2009), não ser de grande porte (35 mil barris diários, contra 180 mil, dos maiores navios), não ter sido fabricada no Brasil e, sobretudo, de ser um equipamento em estado de manutenção adequada.

Pois faz menos de um ano que, no dia 30 de abril de 2014, o navio sofreu uma parada total para revisão, com diversos serviços, entre eles a substituição de válvulas e de parte do sistema elétrico, acompanhada pela própria dona no navio, a BW. Mais uma razão, portanto, para não haver qualquer tipo de vazamento que pusesse em risco a integridade de seus tripulantes.

Mesmo que os funcionários fossem da empresa norueguesa – não está claro se são – eles são servidores da Petrobras, ainda que indiretamente e merecem todo o empenho da empresa em assistir e esclarecer.

Toda empresa do porte da Petrobras e, muito mais ainda, com o tipo de riscos de uma petroleira precisa ter uma estrutura capaz de responder publicamente a estas situações.

Não basta baixar a taxa de risco para “0,0000 alguma coisa por cento”.

Porque o risco continua lá.

E a empresa tem de assumir, corajosamente, que eles existem e podem, lamentavelmente, vir a causar acidentes, mesmo que raríssimos, como se tornaram na Petrobras.

Infelizmente, a comunicação da Petrobras, como certamente boa parte da empresa, está restrita a soltar “comunicados” e “notas oficiais”.

A comunicação é muito mais que isso: é o exercício do  dever de uma grande empresa pública de se relacionar com a sociedade e, para isso, estar à frente de todos os momentos, os bons e os ruins.

PS. Exemplo concreto da falta de comunicação, tirado do Facebook do Sindicato dos Petroleiros do ES: “A diretoria do Sindipetro-ES participou da Gerência de Crise instalada pela Petrobras hoje para acompanhar o acidente. O sindicato já se manifestou e quer participar também da investigação da causa da explosão”. Mas a Petrobras não comunicou que instalou uma gerência para acompanhar o acidente, nem que chamou os trabalhadores para participar dela. Ambas atitudes corretas que ficaram no silêncio.

Fernando Brito:

View Comments (21)

  • Ou o governo (Dilma) toma tenência ou ela (governo) já caiu... E eu não vou poder fazer nada...

  • Já tô achando melhor o impeachment. Como ocorreria antes da metade do mandato, o vice assumiria e seria obrigado a convocar novas eleições em 90 dias. Aí o Lula se elegeria antes do segundo semestre deste ano.

    • Não é de todo uma má idéia , entretanto se um juiz de merda do chapadão do bugre consegue paralisar a sétima economia do planeta , imagine um processo de impedimento.

    • Concordo com o Impeachment, mas do Eduardo Cunha.
      Para depois sim colocá-lo numa prisão para servir de exemplo para os outros deputados, senão o financiamento privado de empresas vai continuar ocorrendo e isso é o foco da corrupção.

      Impeachment também para o Ministro Gilmar Mendes que não devolve o processo que aborda esse assunto.

      Viu só? Você queria apenas um e eu vim com DOIS impeachments!

  • Chegou a informação que os abutres e tucanos da oposição já faziam festa no Congresso, comemoravam o acidente como se fosse o final da copa, mas logo que souberam que o navio era de uma prestadora de serviços, ai a tristeza foi geral. Pelas estimativas deles os mortos passariam de vinte, os cadáveres seriam levados a Brasilia para autopsia e enterrados simbolicamente no dia 15 de março.

    • Verdade. O Comitê de investigação do acidente não pode descartar a hipótese de sabotagem.

  • Solidariedade aos funcionários "terceirizados" Petrobras' de qualquer natureza....Mundo dificil, mesquinho...
    Solidariedade a presidenta Dilma....
    Nessa hora saiba, eu estou com você...

  • Será que não é provocado não? Nessas alturas... Sei não. Já estou desconfiando de tudo.

  • comunicado à imprensa da Petrobras:

    A Petrobras lamenta informar a ocorrência nesta quarta-feira, dia 11/2, por volta de 12h50, de uma explosão a bordo do navio-plataforma Cidade de São Mateus operado pela empresa BW Offshore e afretado pela Petrobras. A unidade opera, desde junho de 2009, no pós-sal dos campos de Camarupim e Camarupim Norte, no litoral do Espírito Santo, a cerca de 120 km da costa. Do total de 74 trabalhadores embarcados, três não resistiram aos ferimentos e faleceram no local; dez sofreram ferimentos e já foram transferidos por helicóptero para atendimento médico em Vitória e outros seis estão desaparecidos.

    A BW está prestando toda a assistência aos seus funcionários e familiares, com apoio da Petrobras. O acidente foi controlado a partir do imediato acionamento do Plano de Emergência com a mobilização de todos os recursos necessários. As operações da plataforma foram interrompidas. A produção da unidade era de cerca de 2,2 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural.

    A Petrobras notificou oficialmente a Marinha e a Agência Nacional de Petróleo Gás Natural e Biocombustiveis (ANP). A concessão de Camarupim é operada pela Petrobras (100%) e a de Camarupim Norte é uma parceria entre a Petrobras (65%) e a empresa Ouro Preto Energia (35%).

  • Espera-se um pronunciamento oficial da Petrobras para que o povo saiba com clareza que a explosao NAO é de um navio pertencente a Petrobras.

    Que crise de comunicaçao vivemos nos dias de hoje, heim..

    Na verdade, o que ocorreu foi uma "explosão a bordo do navio-plataforma Cidade de São Mateus operado pela empresa BW Offshore e afretado pela Petrobras. A unidade opera, desde junho de 2009, no pós-sal dos campos de Camarupim e Camarupim Norte, no litoral do Espírito Santo, a cerca de 120 km da costa. Do total de 74 trabalhadores embarcados, três não resistiram aos ferimentos e faleceram no local; dez sofreram ferimentos e já foram transferidos por helicóptero para atendimento médico em Vitória e outros seis estão desaparecidos."
    http://www.conversaafiada.com.br/economia/2015/02/11/calma-kamel-nao-e-a-p-36/

  • Quando vi a notícia, imediatamente me veio à mente sabotagem. Perguntei a mim mesmo: e se começarem a jorrar explosões e outras coisas nas plataformas, navios da Petrobrás irão culpar novamente a administração DILMA e aí, segura.

    A oposição não gostou da nomeação do novo presidente da estatal.

    Espero que seja um fato isolado!

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