Há dois acordos internacionais que você nem deve lembrar mais desde quando estavam empacados.
O Protocolo de Kyoto, sobre meio-ambiente, e a Rodada Doha, sobre comércio internacional.
São quase contemporâneos: o primeiro é de 1997; Doha, de 2001.
Ambos parados porque, essencialmente, é difícil encontrar regras únicas para um mundo onde alguns podem tanto e tantos podem quase nada.
Esta madrugada, porém, avançou-se em um pacote de decisões que envolve medidas de facilitação de comércio, agricultura e de desenvolvimento, para ajudar países mais pobres.
Que transigiram o quanto puderam para obtê-lo.
A Índia aceitou datar seu programa de subsídios para a segurança alimentar, apostando que o desenvolvimento é o caminho para que um mercado possa ser livre sem que isso represente omissão e descaso de um governo para com seu povo, como hoje.
Cuba, que sofre com o anacronismo cruel de um embargo comercial perverso dos Estados Unidos, aceitou que houvesse apenas uma manifestação de desacordo com isso.
A África, tão pobre, aceitou que as restrições ao seu algodão fossem apenas mitigadas, não extintas.
Todos trabalharam para, aceitando menos que o justo, não prosperasse o injusto sistema que vinha se formando, de acordos bi e poli laterais onde o poder de pressão dos ricos era incontrastável.
Os dois acordos que secretamente se negociavam – Aliança Transatlântica e Aliança Transpacífico – sob a liderança dos Estados Unidos e da União Européia, com o apoio das transnacionais – diante dos quais nos exigiam capitular– agora têm um mecanismo global no qual irão esbarrar. Vai ser mais difícil impor medidas leoninas sobre patentes, propriedades intelectuais, limitação de direitos civis e comerciais e da soberania dos países.
Coube a um brasileiro, o embaixador Roberto Azevêdo, eleito para a OMC contra o desejo americano, liderar esse momento histórico. Com flexibilidade e espírito democrático, mas sem abrir mão dos princípios de justiça, como fica claro no que diz em seu discurso de encerramento.
“Com estas medidas de facilitação de comércio, agricultura e desenvolvimento, conseguimos algo muito significativo.
Pessoas de todo o mundo irão se beneficiar do pacote concluído aqui, hoje: a comunidade de negócios; os desempregados e os subempregados; os pobres, aqueles que dependem de sistemas de segurança alimentar, o desenvolvimento de agricultores dos países, o desenvolvimento produtores de algodão, e as economias menos desenvolvidas como um todo.
Mas, além disso: temos reforçado a nossa capacidade de apoiar o crescimento e desenvolvimento, fortalecemos esta organização (a OMC), e assim reforçamos a causa de sua existência: o multilateralismo”.
A direita brasileira, sobretudo Serra, vinha criticando o Brasil por apostar suas fichas num acordo global de comércio, em lugar de cuidar de tratados restritos – e a que preço! – com os países ricos.
É que a direita foge da evidência de que um país só se firma diante da comunidade de nações- como o desfecho da reunião da OMC provou – que não defende o mais prático para si mesmo, mas o que é justo – ou mais próximo disto – para todos.
Por isso, nada mais adequado do que disse o embaixador Roberto Azevêdo, ao encerrar a reunião, ovacionado por todos:
“Eu gostaria de recordar algumas das palavras de Nelson Mandela, que são, eu acho, particularmente apropriadas, hoje. Ele disse certa vez:
“Sempre parece impossível, até que seja feito.”
Senhoras e senhores, o pacote de Bali freqüentemente parecia impossível, mas agora ele está feito!
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parabéns pelo seu 1º e maravilhoso trabalho à frente da omc.
parabéns pelo seu 1º e maravilhoso trabalho à frente da omc.
Mais um pequeno refresco para os países subdesenvolvidos. Parabéns ao embaixador Roberto Azevêdo e a vc, Fernando Brito, sempre atento e, por isso, capaz de nos informar sobre os acontecimentos e seus efeitos sobre a nossa população, sobretudo a mais carente. Abs.
É Brasileiro, é o cara, mas não vai aparece na mídia. Pode se que numa madrugada destas, depois de uma historia de gatinhos e cachorrinhos.
parabéns pelo seu 1º e maravilhoso trabalho à frente da omc.
Que belo tapa na cara do rola bosta do Demétrio Magnoli, que escreveu na folha, que a negociação seria um fracasso por culpa da nossa política externa, falou que o fracasso não seria por falta de avisos, pois eles (os do contra) já haviam avisado, agora quero ver a cara desse puxa saco de tucano, com a tremenda bola fora que ele deu.
parabéns pelo seu 1º e maravilhoso trabalho à frente da omc.
O Brasil transformando-se cada vez mais em um grande mediador entre as nações!!!Que o futuro faça de nós a grande potência da Ordem e do Progresso!!!Oxalá (e este é um termo africano) trilhemos sempre o caminho da solidariedade entre os povos desse planeta!!!Viva a união sem a anexação pelas armas!!!
Segundo o PIG, a notícia é boa, mas mas mas mas mas mas mas mas...
O resgate desse feito mítico veio à tona graças ao embaixador Roberto Azevêdo, que na missão de conquistar o impossível, facilitou e aprimorou as relações comerciais influenciando também no desenvolvimento da agricultura, situação de subordinação presente entre os pobres e crescimento econômico sempre tão idealizado. As críticas foram então superadas devido à descoberta de um novo exemplo para o mundo assim como Lula.