‘Acusação’ de Battisti é deprimente miséria humana

A reportagem da Folha online, não a achei na versão impressa, mas é manchete do site ao amanhecer – é só mais um produto sujo do desespero de Cesare Battisti, condenado na Itália à prisão perpétua, ao queixar-se Lula, logo ele.

Battisti, durante mais de 20 anos, proclamou-se inocente das acusações que lhe eram feitas de homicídios durante os “anos de chumbo” em seu país. a Itália. Com isso, conseguiu asilo na França, no México, e também aqui, onde contou, depois, com um ato de clemência do então presidente Lula, com a sua não-extradição.

Depois, na reviravolta da situação política, concedeu-se-a e, como todos se recordam, o italiano fugiu para a Bolívia, foi capturado e mandado de volta à Itália. Lá, afinal, confessou os crimes e ainda “pediu desculpas” às famílias das vítimas.

Agora, procurado por um repórter da Folha, escreve que está “contrariado com a entrevista do ex-presidente a um telejornal da RAI”, dada no ano passado, dizendo que “”acreditava que Battisti era inocente e não era” e que “desde o momento que ele confessou, é óbvio que devo admitir que errei [ao não conceder a extradição]”.

E quer que se creia, agora, em outras versões para o fato, sugerindo que “confessou” quatro homicídios apenas para ter um alívio na pena e que Lula é que “precisava” dele para “ser exibido como troféu de guerrilheiro às forças de esquerda do Brasil ( …)o combatente da liberdade”.

Poupam-se aqui, por piedade, juízos morais sobre quem está desesperado por ficar mofando numa cadeia e fica-se na incoerência da narrativa.

O caso Battisti nunca trouxe qualquer vantagem a Lula, a seu governo e a ninguém que tenha acreditado na inocência que, durante mais de 20 anos, ele proclamou aqui, no México e na França, onde foi protegido em nome do refúgio que as constituições destes países concede a quem se crê perseguido politicamente. Ao contrário, só produziu desgaste político, porque era sempre invocado como se fosse uma “proteção a terroristas” por parte de quem sempre aceitou os meios pacíficos e jurídicos.

Como fez, aliás, Lula, que se apresentou para o cumprimento de uma sentença injusta, quando poderia ter facilmente procurado abrigo no exterior.

Battisti, ao contrário, cometeu o crime de que era acusado, mentiu por duas décadas, expôs todos os que acreditaram nele e, agora, ainda acha que pode dar “lições de ética” política, não se sabe em troca de que benefícios.

E encontra, claro, quem não hesite em servir-se da miséria humana de um homem degradado como ele para usar por sensacionalismo político. De resultado zero, exceto nas redes bolsonaristas. Mas, aí, é o lixo no lixo, afinal.

Fernando Brito:
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