A advertência de Dilma: superestimar “rombo” público é justificar os cortes sociais e trabalhistas

Um ponto chamou-me a atenção no discurso de Dilma no encontro de blog, agora há pouco em Belo Horizonte – daqui a pouco, o Jari da Rocha, que já está por lá conta um pouco do ambiente da multidão que se aglomerava do lado de fora do evento, vinda da manifestação contra o golpe que acompanhou a presidenta afastada.

Foi o momento em que ela falou que se está superestimando o rombo nas contas públicas para justificar os cortes nas ações de governo.

É a famosa história do “bode na sala”. Põe-se o bicho lá, com seu fedor, e quando se o retira o ambiente parece se perfumar.

O Brasil não vive uma explosão de gastos públicos. Qualquer um que trabalhe ou conviva com o funcionamento de instituições públicas sabe que, faz tempo, os gastos estão cortados, muitas vezes além até do mínimo necessário para seu funcionamento adequado.

O orçamento da União, de 2015 para 2016 sofreu cortes profundos.

Exemplos:

O orçamento de pessoal e encargos passou de R$ 256,4 bilhões para R 269 bilhões. O “aumento”, na verdade, é uma redução, porque, além da desvalorização inflacionária, incorpora uma série de reajustes obrigatórios, como os adicionais por tempo de serviço, que não são despesas voluntárias.

Já o pagamento de juros e encargos da dívida pública, que era, em 2015, de R$ 208, 3 bilhões, passa,  este ano, na lei orçamentária, para R$ 304,1 bilhões. Um aumento nominal de quase 50%, ou algo em torno de 40% em valores reais.

O mesmo pode ser dito sobre  a amortização  da dívida – que vira “rolagem, com a emissão de novos títulos. Em 2015, R$ 753, 8 bilhões. No ano seguinte, R$ 1.044,8 bilhões, ou um aumento que chega perto dos 40% nominais  em torno dos 30% em valor real.

Como se vê, descontrole nos gastos públicos, se os há, é no pagamento de juros da nossa dívida, não nas despesas com funcionários e muito menos em custeio – as demais despesas administrativas –  e ainda menos com os investimentos, que se mantiveram em R$ 37,5 bilhões de um ano para outro, o que, frente à inflação, significa uma redução em valores reais.

Onde está o “super-rombo”, então?

Na receita pública, provocada pela recessão econômica e, por isso, na arrecadação de impostos.

O que, afinal, se resolveria de duas únicas maneiras: ou o aumento abrupto da atividade econômica ou ou aumento dos impostos.

Como não se enxerga no programa das novas autoridades econômicas um aumento da produção e menos ainda do consumo, seja pela via da ampliação da renda ou do crédito, resta o aumento dos impostos.

A crise é o “bode” e o aumento de impostos o que o bode faz tornar aceitável.

O “pato” da Fiesp será devidamente pago.

E os valores do seu pagamento, claro, serão transferidos à população, pelo corte de serviços públicos e de direitos sociais.

Simples assim.

 

 

 

Fernando Brito:

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  • Com um congresso nas mãos do Cunha nem um projeto do governo Dilma foi aprovado, quem boicotou foi a própria camara e senado e a responsabilidade foi deles que preparam o golpe

  • Para se informar
    O site Spotniks publicou, na quinta-feira (19), uma detalhada reportagem sobre o custo de um político no Brasil. O texto, assinado por Leônidas Villeneuve, destaca que hoje há mais de 64 mil políticos democraticamente eleitos no Brasil, "pagos com o dinheiro do seu imposto." Ainda segundo o texto, em 2013, o Congresso teve um orçamento de R$ 8 bilhões, o que representa um gasto aproximado "de quase 16 mil reais por minuto. São 23 milhões de reais por dia."
    A questão do custo dos políticos para o país foi levantada pelo JB _ jornal do Brasil-no dia 13 de maio, na nota "Os números do Bolsa Família e do Legislativo brasileiro"

  • Dilma guerreira da pátria brasileira. É preciso colocar os pingos nos is, do jeito que vem sendo feito. Eles tentarao pintar o bicho maior do que é. A peleia e diária, mas ao final a verdade prevalecerá. Como dizia Afif Domingos: Juntos chegaremos lá. Os ventos sopram a nosso favor. Força Presidenta.

  • Num país onde 68% dos 210 milhões de habitantes são das C, D e E, e onde a classe política passa por uma grave crise de credibilidade, a comparação entre números destes dois universos leva a reflexões.
    O orçamento anual do Bolsa Família, que alimenta 14 milhões de famílias brasileiras - cerca de 42 milhões de pessoas - é de R$ 27 bilhões. Um valor muito próximo ao gasto anual dos Legislativos Federal e Estaduais, que somados chegam a R$ 19,8 bilhões (sem contar os Legislativos Municipais), e que são desembolsados dos cofres públicos em função de 1.652 parlamentares no Congresso e nas Assembleias Legislativas.
    A reportagem Spotniks destaca que o que o Congresso gasta em um dia pagaria um ano de estudos de 10 mil alunos do ensino médio matriculados na rede pública de ensino. "É também equivalente ao gasto anual de 1533 alunos do ensino superior das Universidades e Faculdades públicas do país."
    O texto acrescenta ainda que o Congresso acabou de aprovar o Orçamento Geral da União de 2015 "inflado". A verba para o Fundo Partidário prevista no Orçamento da União foi triplicada, passando de R$ 289,56 milhões para R$ 867,56 milhões.
    "Um estudo realizado pela ONU em 2013 revelou que, considerando-se a Paridade de Poder de Compra, o custo de cada congressista (deputado ou senador) brasileiro é o segundo mais caro do mundo, perdendo somente para os Estados Unidos", prossegue a reportagem.
    O político mais caro do país é o presidente, mesmo com um salário menor que o valor pago aos senadores e deputados. "Entre acesso ao Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe de Estado, carros oficiais, funcionários, seguranças, avião presidencial e secretários, o Gabinete Presidencial tem um custo que pode bater os bilhões de reais." Nos Cartões de Pagamento do Governo Federal, a presidência e suas entidades vinculadas gastaram R$ 21 milhões em 2014. "No total, o Órgão Superior Presidencial gastou 7 bilhões no ano, valor superior ao custo de diversos Ministérios. Ex-presidentes também geram gastos para o país. Cada um deles tem direito a 8 assessores, 2 veículos oficiais, seguranças, combustível e outros pagamentos, totalizando gastos estimados entre R$ 500 mil e 760 mil. No total, os quatro ex-presidentes vivos, incluindo Collor, que renunciou, somam gastos da ordem dos R$ 3 milhões todos os anos", diz a reportagem.
    O texto ainda destaca que os deputados estaduais recebem pagamentos consideravelmente altos. "O teto, para um membro das Assembleias é de R$ 25.322, valor que corresponde a 75% do rendimento de um deputado federal – até o final de 2014, o teto era de R$ 20.042."
    "Este é o grande banquete da democracia. Todos se esbanjam. Mas não se engane: não existe almoço grátis. A conta é sua. E no seu prato restam apenas as migalhas", conclui a reportagem.
    http://www.jb.com.br/pais/noticias/2016/05/20/quanto-custa-um-politico-no-brasil/

  • O Estado é culturalmente perdulário. Inchado. E não acreditem que Temer vá mudar algo. Ele vai trocar os beneficiarios. Os federados iguais ou piores.

    Quando Dilma fez uma parada numa viagem, os trouxinhas se apressaram em dizer que era um capricho. Mas era a praxe. O tipo de hotel de sempre etc.

    Mas olhando pela ótica da nova realidade mundial, as comodities, poderíamos todos mudar os hábitos.

    Os órgãos todos estão inflados com salários e mordomias, e até já nos cansamos de citar.

    Ha muita cousa que o publico nem desconfia.

    As pequenas empresas poderiam economizar valores se os donos não fossem metidos, e trabalhassem como um micro empresario inglês, que nem empregado tem. Sobraria mais dinheiro para impostos.

    Os alugueis públicos são absurdos. Os salários públicos também, para sustentar agências de viagem.

  • Será que a turma do Temer vai ter coragem de dizer que não tem dinheiro, para pagar a primeira parcela do décimo terceiro salário dos militares agora em julho.

  • No comando da nave capitalista global, começavam a ser substituídos os burgueses titulares de empresas produtoras de objetos úteis, inúteis ou abertamente nocivos, e sua corte de engenheiros industriais, militares uniformados e políticos solenes, para dar lugar aos especuladores financeiros, palhaços e mercenários sem piedade. A criminalidade anterior, medianamente estruturada, foi trocada por um sistema caótico muito mais letal. Se retirava o produtivismo keynesiano (herdeiro do velho produtivismo liberal) e começava a se instalar o parasitismo neoliberal.

    Ver Origem e Auge da lumpen burguesia latino americana e Carta Capital.

  • Os acadêmicos serventuários do neoliberalismo, alguns nem chegam a isso, alegam que o "capitalismo" tem que se fortalecer e que o empreendedorismo deve ser estimulado.

    Só na teoria, primeiro porque na pratica nunca funcionou. É apenas uma vitrine com espelho quebrado. Depois, é impossível cobrir tanto buraco com o pequeno empreendedorismo se as pessoas não tem poupança, pois mal conseguem sobreviver.

    E ainda, não ha mercado. Pois o neoliberalismo justamente destrói o mercado a despeito da propaganda ao contrário. Quando captura o estado e retem as finanças com os financistas alija o povo da possibilidade de ser empreendedor. É uma mentira atrás da outra sustentada por Chicagados boys e pela mídia e acadêmicos menores.

    Viram quanta gente da Casa das Garcas, PUC Rio são necessários para manter as aparências?

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