Miguel do Rosário está de folga neste final de semana. De folga só do Tijolaço, porque continua mostrando porque irrita tanto a Globo e seus “manda-chuvas” lá em seu blog O Cafezinho.
Seu olho de lince foi achar, no blog do Kennedy Alencar a revelação – dois dias depois de ter conversado com Fernando Henrique Cardoso, que Aécio Neves já “escolheu” – pretensão e água benta…. – o seu “Ministro da Fazenda”: Armínio Fraga, o “dono” da quadra final do governo FHC.
E, num trabalho primoroso de reconstituição da memória, vai buscar o “recordar é viver” para passagem de Fraga pelo cargo de Cardeal Richelieu, na época o equivalente a presidente do Banco Central, do declinante Fernando Henrique.
Cadente governo talvez seja nome melhor para o governo que acabou poucos dias depois de eleito, logo após a explosão que seguiu à reeleição presidencial, em 1998, quando a farsa do “real que vale mais que o dólar” ruiu estrepitosamente.
Leia o texto de Miguel e veja como o Brasil precisa exorcizar a volta dos zumbis do passado.
Presença de Armínio
Pois bem, então eu lembrei dos “bons tempos” e fui pesquisar os jornais de 1999, mais especificamente, de março daquele ano, quando Fraga assumiu a presidência do Banco Central.
Sua primeira medida foi aumentar os juros de 25% para 45%. Foi talvez a maior paulada nos juros que já se deu, em qualquer civilização, nos últimos cinco mil anos.
Fraga falou à imprensa que, para o futuro, a tendência dos juros era cair. Ah, bom.
O que ninguém falou é que a medida de Fraga significava dezenas, quiçá centenas de bilhões de dólares, na conta dos grandes credores nacionais e internacionais, ao longo dos meses seguintes. Dinheiro fácil, líquido e certo.
No mesmo dia, o Globo anunciava que os combustíveis iriam subir e que uma comissão da Câmara havia aprovado a nova CPMF (imposto criado para aplicação em saúde, mas que no governo FHC era usado para superávit primário). O acordo político entre governo e legislativo era quase cínico. O imposto não iria para a Saúde. Tanto que os jornais afirmava, sem pejo, que o FMI aguardava, com ansiedade, a aprovação do novo imposto. Ou seja, o FMI queria a CPMF, porque esse dinheiro ia para os credores internacionais.
Não pára por aí. Aquela sexta-feira, 5 de março de 1999, prometia muitas emoções. O colunista político do Globo, Marcio Moreira Alves, um digno jornalista que havia crescido dentro do Globo durante os esforços do jornal para se redimir com a opinião pública no pós-ditadura, comentava sobre uma certa “indiscrição” do ministro da fazenda, Pedro Malan. Malan havia encomendado estudos para a venda do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, o que provocou fortes contestações no Congresso. É aí que grande parte do PMDB, inclusive caciques conservadores, como Sarney e seus companheiros, rompem com os tucanos.
A tentativa de privatização da Petrobras, Banco do Brasil e Caixa produz a grande fenda na elite política que iria sorver o PSDB e abrir espaço para uma nova coalização governamental, uma aliança entre PT e a centro-direita, representada pelo PMDB, cujo nacionalismo repetindo surpreendeu a mídia.
Mesmo com inflação estourada, juros a 45%, governo articulando não apenas para prorrogar a CPMF, mas para aumentar a alíquota, estudos para venda das últimas grandes estatais brasileiras, ministérios anunciando grandes cortes de servidores, nenhuma obra de infra-estrutura em curso, a grande mídia tentava afastar o “baixo astral”.
Os jornais simplesmente omitiram acintosamente informações sobre as consequências terríveis para as finanças públicas daquele “choque” nos juros. A dívida brasileira, já complicada, se tornaria quase impagável.
Em resumo, o governo FHC aumentava pesadamente a carga tributária e criava novos impostos, asfixiando a classe média, não para aprimorar os serviços públicos ou fazer obras de infraestrutura, mas para transferir mais dinheiro aos credores internacionais. A grande imprensa, sócia nessa empreitada, tinha missão de enganar a sociedade, afirmando que o remédio era necessário, e que tudo ia bem, “apesar do baixo astral”.
Enquanto isso, a Polícia Federal continuava sendo sucateada, e não havia nenhuma investigação séria, por parte do governo, contra os grandes problemas de corrupção no país. Nem na imprensa. O escândalo da compra de votos para a reeleição já havia sido devidamente abafado, a mídia preparava o terreno para as últimas grandes privatizações, entre elas a da Vale do Rio Doce.
Quem falasse em “concessão”, à época, seria considerado socialista. O governo não queria conceder nada. O objetivo era alienar completamente o patrimônio público, o mais rápido possível, entregando-o nas mãos de empresários politicamente afinados com o Planalto.
Bons tempos! A Globo não era incomodada por nenhum blogueiro sujo e podia continuar ganhando seu dinheiro, tranquilamente, no mercado financeiro, enganando os trouxas da classe média a quem vendia o discurso do “Estado mínimo”. Ou seja, o governo aumentava a transferência de recursos do indivíduo para as grandes instituições controladoras do capital, Estado e bancos, através do aumento da carga tributária e juros, com auxílio luxuoso de uma imprensa sócia no butim. Não havia nenhum programas de “desoneração”, como faz Dilma.
Não havia nenhuma obra de infraestrutura. Era só pau, pau, pau. E, no entanto, a classe média leitora do Globo, com ajuda de Marina Silva e Eduardo Campos, ainda acredita no “tripé econômico” e na maravilhosa gestão de Fernando Henrique.
PS. Aquela, completo eu, que nossa desmemoriada Marina Silva diz que foi de “grandes conquistas” para o Brasil. Sim, de fato, fomos definitivamente conquistados e nos tornamos uma colônia do capital financeiro.
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Neste caso específico, recordar é sofrer, mas temos que tentar manter isto "vivo", pois as novas gerações não conhecem este passado recente, de tão triste lembrança. Acham que tudo de ruim foi "criado" pelos "PeTralhas" ; e com a "ajuda" desta mídia direitista é que não podemos contar.
FOI um tempo de delinquencia em que os pobres viraram miseráveis, os que puderam se apoderaram de quase todo o patrimônio público , e bandidos ,aqui e na argentina, foram presidentes
Leo escreveu:
"leo
10 de novembro de 2013 às 15:27
FOI um tempo de delinquencia em que os pobres viraram miseráveis, os que puderam se apoderaram de quase todo o patrimônio público , e bandidos ,aqui e na argentina, foram presidentes"
De pleno acordo.
Certamente se a Tucanarina for eleita e não o Aébrio, esse ministro o tal do Armínio Praga, já está escolhido, pois ele foi o executor do tri-pé que ela tanto admira, e já disse que será o seu projeto de governo. Só DEUS na causa para tirar esses lixos do caminho do nosso crescimento com justiça social. DILMA neles em 2014.
É... Uma leitura dessa agente tem que fazer a cada uns 3 meses pra nunca mais esquecer o que sofremos e nunca mais votarmos nesses canalhas.
Realmente o povo não é o que interessa ao Aécio. Investidores internacionais, grandes empresários, sim; povo, não. Fala sério! Se não fosse a blindagem do PiG, qualquer candidato cheirador de pó, mulherengo, playboy, incompetente, quebrador de estado, sumidor de bilhões, cachaceiro, censurador, etc., não duraria segundos.
Fantástico o texto. É sempre bom relembrar as diabruras de FHC e seus pupilos para que nós os repudiemos sempre.
O PSDB ainda tem votos porque a memória do povo é curta. Não precisam nem ir muito longe para ver o desastre que foi o governo FHC. Basta ver as reportagens do acervo da Folha. É só tragédia.
Pois é, esses senhores feudais sonham em retomar o poder e transformar uma década e tanto de progresso social em propina pura para bancos estrangeiros. São verdadeiros anti-brasileiros, anti-povo, anti-liberdades, anti-humanos. Mas estão aí, ainda equilibrando as garrafas e vendendo um show barato de mentiras para uma parte dos brasileiros que acredita, de verdade, que encher os já gordos cofres dos bancos é a solução. Outro dia estava vendo um programa local de TV (Campinas) e numa certa matéria sobre um auxílio financeiro a viciados em drogas em processo de recuperação, uma pessoa a meu lado saltou feroz dizendo que isso era mais uma forma de dar $$ na mão de vagabundos. Argumentei com ela que o estado tinha a obrigação, como forma de retribuir os impostos pagos, de promover o bem-estar social, de promover políticas sociais em todos os níveis. Não convenci a moça, que continuo esbravejando tratar-se desperdício de dinheiro. É desse tipo de gente que o PSDB/DEM e etc. precisam nas urnas. Gente que defenda bancos, mas que repudie o próximo. É triste. PS: o texto do Miguel é ótimo e parabéns ao Tijolaço por reproduzir essa publicação.
Recordar é viver. Mas há quem aposte na amnésia do povo...