Não é difícil perceber que se formou, nestes dias finais da campanha eleitoral do primeiro turno (e talvez da própria campanha eleitoral), uma imensa e tresloucada aliança do conservadorismo brasileiro.
Um clima histérico que capturou, admita-se, parte da classe média e da mediocridade fútil que foi entronizada pela mídia como sendo a “inteligência” brasileira.
Chegamos aos píncaros de uma onda de pessimismo que não encontra base nos fatos profundos da economia – não há desemprego, não há queda violenta do poder de compra da população, não há uma crise social como tantas que vimos em nossa história – e muito menos nos da política, porque jamais vivemos numa democracia formal tão completa como hoje, embora os imbecis chamem a tudo de “perigo vermelho”, 50 anos atrasados em sua guerra-fria neurótica.
Mas os jornais publicam um país que arde: as bolsas despencam, o “mercado” incorpóreo prevê o desastre e embolsa lucros milionários.
Mas o outro mercado, o da esquina, faz tempo que não tira a plaquinha do “estamos contratando”.
O debate nacional se reduz à pobreza mental do aparelho excretor de Levy Fidélix, como se Levy Fidélix e e a polivalência de aparelhos excretores fossem as causas nacionais e este não fosse um país que tenta se livrar de sua condição histórica de colônia.
Um Brasil que pode e vai assumir seu papel de um dos gigantes do mundo, já não só pela sua “própria natureza”, e não mais ser, me perdoem, o cu da Terra.
Mas é assim a alienação de nossas classes médias transformadas em diletantes do voto: o ator americano que faz o papel de Hulk ou a neurose fanática do pecuniário pastor Malafaia contam mais que o aumento do salário mínimo que alimenta melhor 40% dos 200 milhões de brasileiros.
Ou que os espelhinhos energéticos da Siemens (caríssimos, aliás) fossem nos prover da gigantesca energia de que precisamos e nos fizessem guardar para os espertos o petróleo do pré-sal. Ou se um país pudesse se desenvolver sem portos, ferrovias, gasodutos, estradas, transportes.
Assim é, em tudo, a manipulação que nos impõe, como se fôssemos, um bando de tolos e superficiais.
O que teria ou não teria dito um safardana que foi demitido da Petrobras e ao qual se promete o perdão de anos de cadeia por todos os roubos se envolver neles os que o demitiram de lá ( perdão que faria um desqualificado moral que, a esta altura, acusaria a própria mãe) flui, anonima e criminosamente, de meia dúzia de meganhas e promotores que podem dizer o que quiserem, na sombra do que seria, no mínimo, a violação dos seus deveres funcionais, mas os confessados e comprovados aeroportos privados e jatinhos de caixa-2, ah, estes repousam no silencioso limbo da conveniência.
Em tudo se tenta distrair o povo brasileiro do que está por trás da eleição.
É preciso que se deixe de olhar para a história deste país infelicitado por quase ininterruptos 512 anos de governos de elites coloniais, daqui e de fora, para que se atribua a quem nos tenta tirar daí a culpa pelas carências e roubalheiras que nos marcaram por séculos.
É preciso transformar em tolos ou corruptos quem tem trajetória de luta, de honradez, de amor ao povo brasileiro e que não se serviu dele para exibir-se como um exotismo manso e servil aos senhores de nossa escravidão histórica.
O povo brasileiro a tudo vem resistindo, na sua sabedoria inconsciente, aquela que se forma apenas pela força irresistível da realidade, que é o único componente da verdade que não se forma com fumaça e que, por isso, não se esfumaça com os dias.
Hoje não é dia mais de dados, de números, de “denúncias”.
Nada disso importa mais, porque nossa imprensa e nossas classes dominantes transformaram dados, números e “denúncias” em panfletos imundos que se penduram nas bancas de jornal ou se exibem na tela das televisões. O nosso povão, na sabedoria que lhe vem da vida e da pele, na sua maioria, já o entendeu e o repele.
Hoje e os próximos três dias são de honradez, de altivez, de dignidade e, por isso, de absoluta tranquilidade.
Sabemos contra o que lutamos e pelo que lutamos.
A nossa causa é digna, é bonita, é humana, é generosa.
A deles, é feia, sombria, perversa e, por isso, precisa revestir-se de mil mentiras e das falsas juras de quem há muito entregou sua fé, como Judas, pelos trinta dinheiros com que os novos (e eternos) romanos compram alguns de nossos filhos.
Os que representam a causa do povo brasileiro, nestes dias finais, devem se sublimar.
Banharem-se na serenidade dos que sabem que sentem a razão e o destino a seu lado.
Distantes do ódio, do nervosismo e dos medos, inseguranças próprias de cada um e de todos nós, seres humanos.
Há momentos em que as circunstâncias são o senhor supremo nossos atos e decisões.
Porque é a hora que faz os grandes e os que e aqueles que apenas planejam sê-lo declinam quando chega o momento da verdade.
Este é o instante em que já não somos apenas nós mesmos, mas somos o o passado mesclado ao futuro, somos nossos pais e nossos filhos, somos negros, pardos, brancos, índios, somos esta massa diversa, fervilhante e teimosa que é o povo brasileiro .
A História, esta força imensa que habita em cada um de nós, nos absorve quanto mais a amamos.
E, quando amamos agudamente, temos a confiança dos amantes e deixamos que ela nos possua e fale por nossa boca.
E as palavras, então, tornam-se invencíveis.
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Muito bom Brito.
Tenho certeza que Getulio Vargas, Joao Goulart e Brizola estariam ao lado de Dilma Rousseff nessa luta por emancipação econômica do Brasil.
Golbery não teria se esforçado tanto pela sua esquerda se não fosse para tornar todos esses anteriores ao Lula um bando de porcaria históirica
Não há nada mais ridículo que um pobre (inclua-se classe média no termo), preocupado se a bolsa cai ou sobe, mesmo não detendo míseros centavos em ações e angustiado se o patrão perde ou ganha.
Mas enfim, vamos na vitória!
Mais ridículo que isso só esse mesmo pobre criticando o Bolsa Família, que tem salvo vidas, que tem matado a fome e a sede de muita gente, que tem ajudado a manter as crianças na escola e vacinadas, dizendo que é Bolsa Vagabundo... Se preocupam com a queda da bolsa e detonam o Bolsa Família mas não falam absolutamente nada sobre os juros pagos aos Bancos. Ou sejam, esses 'pobres' não passam de ridículos PAPAGAIOS DA GLOBO !!!
"O BRASIL PARA TODOS não passa no SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO - O que passa SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO é um braZil-Zil-Zil para TOLOS"
Que Dilma entre na Globo com esse espírito e trate mais de política sociológica do que de números.
Excelente texto. Parabens!
Parabéns Brito!!!!!!!
Texto fantástico, apaixonado, enlouquecido de amor por esta terra maravilhosa e sua gente generosa.
Terminei de ler emocionado. Espero que, como eu, muitos assim cheguem ao fim de seu texto incrível e cheguemos todos juntos no dia 5 próximo, construindo mais um capítulo importante de nossa História. Como cantou o Milton há muito tempo: "Hoje faço com meu braço meu viver"!!!!!
A duras penas estamos fazendo um viver melhor para todos nós, e daí nascerá nosso sonhado Brasil livre, soberano e justo.
Obrigado por expressar tão bem o sentimento deste momento.
Marcelo, sou cardíaco, por tanto, não posso me emocionar! Com sua lembrança, na "Travessia" de Milton Nascimento, fui remetido a um passado de muita luta e esperança, em viver o que estamos vivendo hoje e com a perspectiva de ser muito melhor.
O texto de Fernando Brito foi espetacular.Esta criança,fazendo da Bandeira do Brasil, o seu "manto", ou o seu teto é de fazer sonhar acordado!!!
É PT Neles.
Irretocável e, sob cetos aspectos (que suponho entender),muito educado em tratar os canalhas antibrasileiros que ainda só conseguem enxergar a História através do próprio umbigo.
Aos mais novos até se pode perdoar, pois deles foi retirado intencionalmente o conhecimento da história do país, bem como a possibilidade de uma conscientização mais efetiva dos nossos problemas, tarefa que a própria esquerda e seus partidos vem descuidando.
Parabéns pelo artigo, Fernando Brito.
Desejo sinceramente que a presidente Dilma, reeleita em primeiro ou segundo turno, tanto faz, faça um governo ainda mais positivo nas conquistas sociais e mais duro no ataque a seculares doenças que nos afligem.
Que convoque a sociedade para o debate de mudanças urgentes como a Lei de Meios, o combate duro e eficaz à corrupção com leis exemplares,
a reforma política e a eliminação de partidos de aluguel, a defesa de nossa riqueza sob o solo, com ampliação e modernização das forças armadas e sua democratização.
Que no próximo domingo o Brasil escolha o caminho do progresso e de sua definitiva rendenção como país em desenvolvimento.
Cordial abraço.
Grandiosidade!Grandiloquência! Nota 1000!
Brito, quanta indignação! Indignação dos homens de brio, dos que amam e defendem este País, que como você bem disse não é mais o cu da Terra. É um País protagonista e isto não é bom para quem sempre nos quis ver como figurantes de terceira categoria. Há doze anos o mundo tem ouvidos voltados para o que o Brasil tem a dizer. Não mais necessitamos tirar os sapatos para entrarmos nos países desenvolvidos, muito pelo contrário, hoje podemos nos dar ao luxo de darmos uma "banana" para quem não quer conversar como um nosso igual. Precisamos dessa indignação dos bons, dos indignados que conseguem ver o progresso que fizemos nos últimos anos e que sem dúvida vamos continuar a fazer, para desespero daqueles que não nos escutam mais dizer: sim sinhô!
Bravo Fernando! O texto traduz de maneira clara e objetiva os meus pensamentos e sentimentos. Oxalá nosso povo confirme as expectativas expostas nas suas palavras e, no domingo, opte pela continuidade desse projeto político que, em síntese, é o PROJETO BRASIL.
Parabéns pelo lindo texto.
Vamos à vitória, pois a verdade está conosco. Lutamos a boa luta e assim nos tornamos invenciveis.