Alckmin: a ‘hipótese nacional’ – ser vice de Lula – ‘caminha’

Em O Globo, o repórter Sérgio Roxo narra o encontro de Geraldo Alckmin com dirigentes de quatro centrais sindicais (Força Sindical, UGT, Nova Central e CTB), na qual teria dito, de forma nem tão cifrada, que considera muito a possibilidade de vir a ser o presidente na chapa do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva:

— Preparei-me novamente pra ser governador do estado. Surgiu a hipótese federal. Os desafios são grandes. Essa hipótese caminha e eu considero essa reunião com as quatro principais centrais histórica.

Não se julgue o potencial de Geraldo Alckmin por sua parca votação das eleições presidenciais de 2018, nas quais obteve perto de 9% dos votos. Ali, foi devorado pela “onda” Bolsonaro e pela traição do Bolsodória. Ainda que de forma velada, porém, levou seu ex-vice, Marcio França, a conseguir ameaçar Doria, com um resultado apertado, de cerca de 3% de diferença.

Mas não é aí que o capital de Alckmin o torna desejado.

A primeira consequência é a de que cria um tampão contra uma eventual ascensão de Sérgio Moro entre o eleitorado conservador de São Paulo, desmontando a imagem de radicalismo que se quer grudar em Lula. Não é um sinal apenas para o “mercado”, mas para centenas de prefeitos e vereadores do interior e das cidades médias paulistas que terão uma alternativa a Doria e nenhum motivo para trabalharem por Moro.

São Paulo, mesmo que não se considerem os eleitores da capital, continuaria sendo, com grande folga, o maior eleitorado do país. E, na capital, Moro tem apenas os gatos pingados do MBL. E Doria não terá os bolsonaristas, por razões óbvias

Não é uma decisão fácil para Alckmin, ao contrário. Exatamente pelo pendor conservador do eleitorado, ele certamente terá prejuízos se forma uma aliança com o petista. Mas, de outro lado, sua própria atitude o tornaria porta-voz legítimo de uma união feita em razão da crise que engolfa o país e que justifica atitudes desprendidas dos politicos. De fato, mais desprendimento que um tucano histórico como ele unir-se eleitoralmente ao PT dificilmente seria encontrado.

Até sobre Ciro Gomes isso teria impacto: se Alckmin, que sempre foi adversário, reconhece a necessidade de unir-se, porque ele, aliado e ex-integrante dos governos petistas, não é capaz de superar desavenças?

Enquanto dos falam em “frente democrática”, com dúzia ou dúzia e meia de candidaturas, Lula e Alckmin, que falam pouco dela, a fariam.

Muitas questões ainda são obstáculo a que se concretize isso, mas é de se notar que, em poucos dias, isso passou de um aparente “balão de ensaio” para algo que o próprio Alckmin definiu como “uma hipótese que caminha”. E quando as ideias começam a gerar, de forma rápida e consistente, efeitos políticos é sinal de que elas são coerentes.

Isso pode ser a chave para que São Paulo permita, até, uma vitória do 1° turno a Lula, o que ajudaria muito evitando que, numa segunda volta eleitoral, o desespero da direita pudesse levar a armações e tramóias para evitar sua eleição. É bom que nos lembremos que, do outro lado, estão um tiranete, um juiz manipulador e um aventureiro ambicioso.

 

 

Fernando Brito:
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