Alckmin sai do PSDB; Lula mira 20223

Sete longos meses desde que se tornou pública a sua impossibilidade de conviver com João Doria e Aécio Neves, Geraldo Alckmin, finalmente, desfilia-se do PSDB, 33 anos depois de ter sido um de seus fundadores.

É assim mesmo com relações de longa duração: é o período deslocado, no sofá, aquilo que prepara uma nova vida, um novo caminho com serenidade, sem fúrias, sem ódios e sem acusações.

A confirmar-se a sua união com Lula, como candidato a vice-presidente, a história é outra.

Alckmin credencia-se para nuclear, a nível nacional, um partido de políticos liberais, muito próximo da ideia do que era o antigo PSD, embora não se vislumbre o que pudesse ser a UDN de hoje, tamanha é a “avacalhação” dos nossos políticos de direita.

Creio que é essa a maior missão que lhe vai dar Lula, ciente por experiência própria de quem viu na prática que só com a esquerda não se consegue governar e que a conta de negociar apoio no varejo é cara e perigosa.

Muito mais que sublimar três décadas de confrontos, nem sempre suaves, contra seu mais duradouro adversário político em São Paulo.

É certo que a chapa com Alckmin, se de fato vier a se formar – ” a política é como nuvem: você olha e ela esta de um jeito; olha de novo e ela já mudou.”, dizia Magalhães Pinto – ajuda Lula eleitoralmente, e ajuda a esta hora é mais que bem-vinda, pois poucos pontos podem definir uma vitória em primeiro turno, que seria eficaz profilaxia contra ânimos odiosos e golpistas.

Mas a mira do ex-presidente está assestada lá adiante, em 2023,24, 25, e 26. É a governabilidade de um país arruinado e conflagrado pelo ódio, cuja necessidade não é apenas a de ser normalizado, mas transformado social, econômica e, também , politicamente.

Não há terra à vista que possa ser horizonte de separação de um “companheiro de viagem” e nem se prevê que logo se venha a vê-la. Até lá, porém, é preciso navegar com uma nau que tenha lastro a dar-lhe equilíbrio.

Para fazer isso, Lula precisa de um “centro civilizado” e, embora possa parecer tarefa alta demais para Alckmin, é ele, talvez, a única figura que sobrou para liderar este processo.

Ainda vai levar algum tempo até que se consume a formação de uma chapa. Já ensinou Paulinho da Viola que, em meio a nevoeiro, velhos marinheiros levam o barco devagar.

Fernando Brito:
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