Alckmin volta a apelar para a “guerra” Rio contra São Paulo

Diante da iminência de que o abastecimento de água na Grande São Paulo se torne inviável, o Governador Geraldo Alckmin recorre ao mesmo tipo de expediente de que se valeu, no início do ano, para tentar fazer com que a opinião pública atribua ao Governo Federal ou a uma disputa com o Rio de Janeiro os problemas que a falta de planejamento de mais de uma década da Sabesp.

Agora, cria uma situação impensável, com a Cesp se recusando a cumprir as determinações do Operador Nacional do Sistema, o ente que coordena não apenas a geração de energia elétrica, mas o próprio equilíbrio do sistema hídrico, pois seria impossível que cada empresa decidisse sozinha o que iria guardar ou liberar de água, quando várias delas tem represas no mesmo rio ou em seus afluentes.

Essencialmente, trata-se de descumprir uma ordem do ONS para que a Usina Hidrelétrica do Jaguari liberasse 30 m³/s de água para o Rio Paraíba do Sul, sob a alegação de “não comprometer o abastecimento de água”.

Em lugar de cumprir a regra e, até, discuti-la tecnicamente ou na Justiça, com elementos que justifiquem a decisão, desobedece e cria um factóide para ser explorado politicamente.

A informação na imprensa é, assim como naquele episódio, rala e imprecisa.

Em primeiro lugar, não fica evidenciado que esta represa nada tem a ver com o abastecimento metropolitano. Não se comunica com o Sistema Cantareira e, mesmo que se pusesse em prática o polêmico plano de interligá-la, isso não aconteceria antes de dois ou três anos, no mínimo, pela complexidade da obra. Logo, nada a ver com a água de hoje.

Segundo, qual é a finalidade principal do reservatório, segundo a própria Cesp?

“(…)reservatório tem 56 km2 de extensão e sua principal finalidade é permitir o controle da vazão do Rio Paraíba do Sul, que é o fornecedor de água de várias cidades, tanto do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo, quanto do Estado do Rio de Janeiro.”

Quem quiser ver a situação do Rio Paraíba do Sul, vá a São José dos Campos (que, aliás, não é abastecida por esta represa) e olhe o crama do rio.

Depois, a represa  está especialmente vazia, em relação às outras?  Não, ao contrário,  com 38% da sua capacidade, ela é a que tinha – dados de quinta-feira, os últimos disponíveis – melhor nível entre todas as represas que estão situadas naquele trecho da bacia. Paraibuna (Cesp), tinha só 14%, Santa Branca (Light), tinha 32%, o mesmo que Funil, rio abaixo, já em Resende , no Rio de Janeiro.

Mas, mesmo assim, a repsresa seria pequena e uma vazão de saída maior que a de entrada comprometeria rapidamente seu funcionamento? De novo, não. O reservatório tem capacidade de quase 800 bilhões de litros. A vazão adicional solicitada, em emergência, pelo ONS, ainda que mantida por um mês inteiro – improbabilíssimo, porque há dias ruins e outros nem tanto – custaria à represa um quinto da água que possui neste momento.

Tanto é assim que, no final do mês passado, as comportas liberaram 42 m³/s e não houve drama. A vazão média no trecho, entre 1931 e 2005 foi de 28 m³/s.

O que aconteceu, então?

O que aconteceu, meus caros e caras amigas, foi política.

O governo Alckmin enxergou numa modificação de limites mínimos de vazão, necessária por conta da seca (que não é só em SP, viu, governador?), a chance de criar um problema político em torno de uma questão que deveria ser técnica.

Como era técnico o relatório da Sabesp que recomendava o racionamento já em janeiro deste ano e é política a protelação feita pelo Governo paulista, que deu no que deu.

Fernando Brito:

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  • Alckmin está ultrapassando todos os limites da responsabilidade e do bom senso. Não assume as suas e ainda as quer jogar nas costas dos outros. A população de SP pode estar momentaneamente cega em relação a isto, mas cobrará em futuro muito próximo a fatura deste desmando e, mais importante, poderá perceber a covardia e o oportunismo embutidos nesta situação. E não serão apena os petistas e oposicionistas,mas toda a população.É só questão de tempo.

    • Concordo. E a palavra exata para Alckmin é covardia. É só olhar seu histórico e ver como ele se esconde na máfia midiática. Ele e seu partido tosco.

  • Anotem o que estou dizendo, caso vença, geraldão sairá por impedimento...

  • Engana-se, quem acredita não existir facções especializadas em fundar partidos políticos.
    Aliás, algumas só se dão o "trabalho" de mudar as letras da legenda.

  • O Governo Federal (ONS)tem que fazer valer sua determinação para que o prejuízo à população não seja maior. Se há certeza técnica por parte do Governo Federal, sua não intervenção é omissão grave.

  • Clima propício para uma intervenção federal no (des)governo do estado de sp.

  • A população de SP deveria compreender que o atual governo do PSDB e os responsáveis pelo domínio e o controle dos grandes veículos de informação no estado, estão fazendo com que a velocidade de aceleração do desenvolvimento estadual sofra uma retração jamais vista. Essa retração, além de totalmente imprópria, depõe contra a grandeza, contra a importância e contra a necessidade de desenvolvimento, que São Paulo se impõe, pelo fato de ser uma das maiores metrópoles do mundo. Manter-se avançado, manter-se constantemente determinado e sempre competitivo é condição fundamental para não perder o reconhecimento e os avanços já conquistados no planeta e, principalmente, para que não seja ultrapassado pelos concorrentes. A inveja e o egoísmo do governo, com aval da elite danosa, o fazem rejeitar e desdenhar de excelentes oportunidades e parcerias com o governo federal, que, por sua vez, só visa colaborar e ajudar no aprimoramento e na criação de bases sólidas, que permitam, a São Paulo, sustentar e manter o bem estar, a ascensão social e a satisfação geral da população. Porém, parece que o governo paulista e a grande mídia danosa preferem insistir na trama insana, que visa apenas à perpetuação do poder total nas mãos dessa elite danosa através dessa sequência ininterrupta de pouco mais de 20 de governos Tucanos. Não é por menos, que escândalos e más notícias envolvendo o governo estadual e/ou empresários e/ou celebridades da sociedade paulistana são varridas para debaixo do tapete, graças ao partidarismo, o preconceito e da ação entre amigos do high society paulistano. Todavia, em ação inversa, não medem esforços para bombardearem a Prefeitura da idade de São Paulo, pelo simples fato de ser administrada pelo PT. E ainda se dizem democratas.

  • O governo de SP, já fez isso de caso pensado. O psdb, está se lixando para o que possa acontecer ao povo. O que eles querem manter é o poder e seus ganhos pessoais. Não sabem eles que a pobreza, desinformação, educação, segurança etc faltando a maioria os efeitos são ruins para todos, inclusive a "elite".

  • Bem eu gostaria de ver UM JORNALISTA DA GRANDE MÍDIA COM CORAGEM para perguntar para o Aécio, já que ele quer ser presidente, o que ele fará para defender o povo do Rio de Janeiro dessa gatunagem sem sentido que o Alckmin está fazendo com a água, já que do reservatório da CESP sai a água para abastecer milhões de cariocas e, pior, não ajuda em nada a resolver o problema do Cantareira já que não tem ligação desse reservatório com o sistema cantareira. Ou seja apenas politicagem barata do Alckmin para ter um falso discurso para o eleitorado de São Paulo de que está defendendo água para os paulistas (uma mentira deslavada - literalmente - porque, repetindo, não tem ligação desse reservatório com o sistema cantareira), mas o que o Aécio dirá para o povo do Rio de Janeiro, vai dizer uma coisa em SP e outra no RJ?

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