Aldo Arantes e sua Alma em Fogo

Amanhã, na sede da OAB do Rio de Janeiro, vou render minha homenagem a alguém que, se estivesse aqui, Leonel Brizola certamente estaria cumprimentando.

O goiano Aldo Arantes, recém-empossado (a foto aí em cima é de agosto de 61, sua posse) presidente da UNE, já no final daquele mês  viajava  para Porto Alegre na crise provocada pela renúncia de Jânio Quadros para juntar-se à resistência comandada por Brizola ao golpe que tentava impedir a posse de João Goulart.

Ele mesmo conta, numa entrevista ao Sul 21:

“Vi canhões nas praças de Porto Alegre. No mata-borrão (prédio com formato de mata-borrão,  que ficava na esquina das avenidas Borges de Medeiros e Salgado Filho), se organizavam os grupos militares. João Amazonas, dirigente do PC do B, estava lá. O Brizola fez intervenção em fábrica de armas, a Rossi, pegou todos os revólveres e distribuiu para o povo. (…)

 Um momento marcante foi quando Jango chegou no Palácio e houve um conflito entre ele e o Brizola. Eu, como estava no Palácio, presenciei. O Brizola não aceitava o parlamentarismo. O Tancredo (Neves) havia viajado para encontrar João Goulart no Uruguai, e convencer ele a aceitar o parlamentarismo, que era a única hipótese de os militares aceitarem que ele tomasse posse. Quando Jango chega (em Porto Alegre), já chega então com a decisão tomada. E o povo estava lá na Praça da Matriz, estava lotada. O Jango tinha que ir para a janela para cumprimentar o povo. Neste meio tempo, o povo ficou sabendo que ele tinha feito uma negociação. Quando ele se dirige à janela, o pessoal vaia o presidente Jango.”

Aldo, agora aos 74 anos,  lança amanhã seu livro de memórias – “Alma em Fogo” -, que promete ser um rico documento, relatado por quem viveu aquele e outro momento dramático da violência militar.

Aí ao lado vai a imagem do convite, com os detalhes.

É que Arantes foi um dos sobrevivente dos massacre da Lapa, onde foram assassinados seus companheiros de PC do B Pedro Pomar, Angelo Arroyo e, já no Doi-Codi paulista, João Batista Franco Drumond.

Mas quem ler o livro não ache que vai se deparar com um homem amargo pelos combates políticos, não. É que Aldo é, em pessoa e – dizem-me – no livro,  um ser humano tão solidário e gentil quanto corajoso.

Um fogo amigo, no melhor dos sentidos.

 

Fernando Brito:

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